Papo Lemonade com Aleksander Saharovsky

Nascido em São Paulo, Aleksander Saharovsky é um Motion Designer / Lead Animator atualmente baseado em Barcelona, Espanha. Movido por sua paixão por animação e outras culturas, Aleksander mudou-se para Europa e após viver 2,5 anos em Londres, decidiu partir para Barcelona.

Layer Lemoande – Recentemente você lançou um demo reel com animações de personagens 3D, e você já atua no mercado como Lead Animator, Motion Designer e 2D Character Rigger. Essa versatilidade é bem legal e te faz ser um profissional bem completo. Mas como tudo começou? Conte-nos sobre como e quando você decidiu que iria trabalhar na área de Motion Design e, mais adiante, com 3D?

Aleksander Saharovsky – Antes de mais nada, gostaria de agradecer o convite. O Layer Lemonade tem sido meu lugar favorito para buscar o que está rolando de novidades, scripts e referências. Parabéns pelo trabalho que vocês estão realizando.

Falando em trabalho, isso foi o que me motivou a buscar um curso novo esse ano. Barcelona, que é a cidade onde estou vivendo, costuma ser bem tranquila no começo de ano. Sabendo disso, resolvi me jogar por 3 meses em animação 3D, algo que eu já tinha experiência mas não tão profunda. Acredito que nos dias de hoje devemos abrir o leque o máximo que podemos, sem esquecer de focar nossos objetivos, que no meu caso é a animação. Essa paixão por mover coisas começou desde criança, assistindo os clássicos da Disney e mais tarde Cartoon Network e Nickelodeon. Passei a adolescência vendo meu irmão fazendo direção de arte e motion graphics (Nem existia o termo na época), e desde moleque já sabia que de uma maneira ou de outra eu ia trabalhar com algo criativo. Pois bem, pouco antes de começar a faculdade, fui estagiar no estúdio de um amigo. Eu me ofereci pra fazer as edições de imagens e em troca eles me pagavam o transporte e me ensinavam a editar e fazer After Effects. Isso faz 13 anos, o termo Motion Designer nem se ouvia falar. Depois de trabalhar 1 ano nessa produtora, o irmão do dono que trabalhava na Redetv, viu que eu já tava com capacidade para fazer edições básica e me indicou nessa emissora, onde eu iniciei de fato minha carreira como Editor de Imagens.

Desde de lá eu já queria trabalhar com esse tal de After Effects para fazer vinhetas. Passei a fazer outros programas da casa e descobri que nas ilhas de edição tinha o After Effects instalado, não deu outra, comecei a fazer algumas demandas de arte por conta própria e chamava o pessoal do departamento do Promo para me auxiliar, na época era a Silvia Fu que dirigia o departamento, e de fato, trouxe a minha primeira oportunidade para trabalhar com Design e Animação. Não tardou muito e eles me chamaram para fazer parte da equipe de chamadas. De lá pra cá não parei com Motion Graphics e Animação. Passei pela Band, logo SBT e finalmente na TV Record onde eu tive de fato meu primeiro contato com 3D Character Animation. Isso foi um divisor de águas na minha vida pois foi ali que eu disse: Beleza, definitivamente animação é o que eu faço de melhor! Vou focar nisso! Um grande amigo que mora em Londres, Marcos Savignano, me mandou um tutorial sobre um tal de DuikTool hahaha. Cara, minha cabeça explodiu! Lembro que eu tinha tremedeiras nas minhas primeiras animações, de tão feliz que eu estava. Era inverse kinematics em 2D, e ainda por cima no After Effects!!!! Como assim?!?!

Essa foi minha principal ferramenta durante anos, hoje eu trabalho com uma mistura, mas o Mr. DUik sempre está lá.

Bom, essa minha especialização foi o que me trouxe pra Europa. Posso dizer que meu sonho de moleque de morar na gringa foi graças à animação!

LL – Crescimento profissional é algo demorado e, muitas vezes, esbarra em várias limitações que criamos pra nós próprios. Você consegue dizer como se tornou bem-sucedido naquilo que faz?

AS – Eu tive algumas frustrações durante a minha carreira, uma delas foi querer forçar a barra em algo que eu sabia que só me enrolava: fazer tudo! Como vim de TV, você é meio que cobrado a saber de tudo. Eu me frustrava muito por não ter um Design tão sólido como dos meus amigos. Por mais que eu me esforçasse, não saia! Minha carreira deslanchou de fato quando eu passei a dizer: Sou Animador! É isso que eu faço de melhor, e ponto! Se eu preciso de um Design mais sólido, chamo alguém pra me ajudar.

LL – O After Effects possui algumas limitações quando falamos de rigging de personagens, é preciso recorrer muitas vezes a ferramentas externas como o Duik e RubberHose. Como é o seu processo de rigging, o que você utiliza de ferramentas e como prefere trabalhar?

AS – Sim, o After Effects é muito limitado, principalmente por não ter, pasmem (nos dias de hoje!!!), nada semelhante ao onion skinning! Cara, eu fico louco com isso! Pois perco muito tempo fazendo preview para checar meus arcos e etc. De qualquer maneira, o puppet tool, somado a algumas gambiarras e câmera do After faz tudo valer a pena. O After Effects é um software poderoso, e a partir do momento que você começa a pensar como em animação tradicional, suas possibilidades são maiores. Por exemplo, antes eu perdia muito tempo para fazer um head turn, hoje com um simples split layer e uma boa antecipação você consegue passar a mensagem. Eu não sou muito rato de scripts e plugins. Sempre vejo que gastaria muito tempo achando o script ou o plugin para me auxiliar e sempre acabo fazendo na marra hahaha

Meus scripts preferidos são Duik, RubberHose e também Leemz Animation Tool (esse último mais para criar Puppet Nulls com facilidade). Eu procuro trabalhar com pouco IK (inverse kinematics) pois isso limita muito a animação em 2D.

LL – O que te motivou a morar em outro país? Quais as maiores dificuldades que você enfrentou durante essa mudança e, quais seriam as dicas que você passaria para as pessoas que têm essa vontade de morar fora do Brasil, trabalhando com animação/motion design?

AS – Sem sombra de dúvidas o que me trouxe para a Europa foi oportunidade profissional para algo tão específico. Apesar de estar um pouco maior o mercado no Brasil, ainda somos muito cobrados a fazer tudo. Cara, ninguém é bom em tudo, os melhores trabalhos são feitos em equipes grandes. E ponto final! Tem um alien ou outro aí que são bons em tudo, só que são exceções.

Eu não conseguia sobreviver no Brasil como um animador de Motion Graphics ou Character. Tinha sempre que estar em um trabalho fixo e alimentando essa minha vontade com freelances, o que me resultava em dormir pouco, acabar com a minha saúde e viver estressado.

Como tenho bisavós italianos (sim, mesmo com esse sobrenome eu tenho passaporte italiano haha) fui para a Itália dar entrada na minha documentação e vivi por lá uns 3 meses no total. Isso foi o que me permitiu trabalhar em Londres legalmente e hoje em dia na Espanha. Meu conselho pra quem quer sair do país? Vá por maneiras legais, não queira ir na aventura pois a chance de dar errado é imensa! Tenha um portfólio sólido e com a sua personalidade! Isso sempre foi o que me trouxe trabalho e abriu portas em estúdios.

LL – Vamos falar de pinball: uma das peças que mais gosto do seu portfólio é “The Greatest Pinball Machines”, que possui – em minha opinião -, um timming e composição perfeitos, evocando todo o clima das antigas máquinas de pinball. Como foi criar essa animação e o que te motivou a isso? Qual a parte mais desafiadora do projeto?

AS – Eu tenho muito carinho por esse projeto, pois foi algo pessoal. O Design foi feito pelo estúdio Catalão onde eu alugo mesa, Device. Os caras são muito talentosos.

Estava eu em uma semana sem trabalho e um deles veio perguntar se eu queria animar umas telas inspiradas em Pinball Machines antigas, como personal project. Quando vi os Style Frames disse sim na hora! Eles largaram, literalmente, a animação na minha mão. Esse trabalho fluiu de uma maneira incrível, para ambas as partes. Parece que tudo conversa e todos estavam bem inspirados. Eu fiz a sugestão de adicionar a (ou o?) Thing na tela da Família Addams, jamais imaginei que um dia ia animar isso na vida . O motion blur foi adicionado manualmente, com Shape Layers (stroke). São como smears mais simplificados. Busquei algumas maneiras de fazer esse rastro e nenhuma saiu igual fazendo na marra. Fazer esse motion blur foi o que mais me tomou tempo pois tinha que ficar copiando e colando position no path e animando Trim – start and end (mais uma vez, onion skinning poderia ter salvado algumas horas de trabalho).

LL – Como foi o seu processo para criar a animação do nosso mascote no primeiro collab do Layer Lemonade?

AS –  Essas collabs são sempre muito legais cara. No final você sempre acaba conhecendo novos artistas que trabalharam indiretamente com você. Quando foi enviado o mascote, fui imaginando como o querido limãozinho ia ficar feliz pelo seu aniversário. Criar esse contraste dele ser cortado e ficar feliz teve uma ligação com cortar o bolo. Sei que esses pequenos detalhes sempre ficam muito subjetivos, todavia isso foi o que eu quis transmitir. Esse projeto foi bem straightforward, e sem complicações técnicas. Esa era a idéia certo? Fun 😀

Todo mundo mandou super bem, adorei as peças!

LL – Qual o estúdio de animação/motion que você gostaria de visitar? E quais profissionais você admira na indústria?

AS – Cara, eu admiro muito o trabalho do estúdio Animade. Volta ou outra eu mando um email, pra dizer que estou vivo, eles sempre respondem, já fui uma vez falar com eles mas nunca rolou de fazer nada. Um dia vai rolar! Hahahaha

Cara, admiro muitas pessoas na indústria, é difícil fazer uma listinha, mas vou tentar colocar os que influenciaram minha vida de alguma maneira. Duduf (DuikTool), esse cara mudou minha maneira de animar em After Effects, já fiz donation pro cara pois sou muito grato ao avanço que ele proporcionou aos character animators de After Effects.

Thiago Maia (Cookie Studio) foi um cara que ajudou a abrir muitas portas em Londres, apesar de eu não estar mais morando em Londres, sou muito grato pela ajuda que esse doido me deu.

Sérgio Minehira, hoje está mais focado em Direção e Live Action, foi um cara que me disse uma vez: “Velho, você já fez um bouncing ball? Mas MESMO?!” – eu crente que sabia, vi que estava tudo errado e ele ajudou a corrigir onde eu estava falhando. Isso foi muito marcante para mim, pois desse momento adiante, meu timing de animação decolou. Se bobear ele nem imagina a influência que isso teve na minha vida.

Meu irmão, Aleksey Saharovsky (isso gera muita confusão hahaha)  que me influenciou desde moleque.

Marcos Savignano que me indicou para meu primeiro trabalho em Londres.

Edu Escanho que sempre deu um help e ensinou várias coisas quando comecei. Ariel Costa com seu trabalho incrível, State Design (todo seu time!), Vinicius Naldi, Rodrigo Stipkovic.

Caramba velho, só to citando brazuca aqui hahaha. Vai ver estamos dominando o mundo!

Vamos colocar uns gringos aí, vai:

Device Studio, Picnic Studio, Giant Ant, Golden Wolf, Disney’s Nine Old Men, Jason Ryan, Glen Keane, Craola, Jason Freeny, David Pocull.

Não preciso citar Disney, Blue Sky, e DreamWorks né?

LL – Além de toda responsabilidade profissional como freelancer, você é pai de uma menina de quase 1 ano. Como é conciliar trabalho e vida com a família?

AS – Eu e minha mulher estamos ainda engatinhando nessa vida de Pai e Mãe. O que eu posso dizer de cara é que nossa querida Lana veio para colocar meu pé no chão. Parece clichê mas tenho que dizer: Nós aprendemos muito com filhos. Aprendemos, principalmente, a importância das relações humanas, algo que está caindo em esquecimento nos dias atuais. Aprendemos a equilibrar um pouco mais trabalho e vida pessoal. Sou muito grato por ter uma certa flexibilidade como freelancer e poder estar próximo quando a chapa esquenta, coisas do tipo ficar doente e não poder ir para a escolinha. Vejo muita gente dizendo: “Não quero abrir mão da minha carreira profissional por filhos”. Não vou dizer que é fácil, mas está MUITO distante de ser algo que vai arruinar seus planos. Ter filhos hoje é encarado como um problema, que você terá que ficar acordado noites cuidando, escutando choro e etc. O que eu não entendo é que as pessoas que reclamam disso passam 3 dias sem tomar banho (quem nunca?) dentro de um estúdio, escutando choro de cliente e chefes para enriquecer outra pessoa? Com filho, a sensação de cansaço é a mesma, só que você está colocando todo esse esforço extra em alguém que REALMENTE valora a sua existência. Se organizar e tiver bastante disposição, dá pra fazer tudo isso… Escutar choro de filho e cliente! hahaha  

O que acontece, e isso para mim é muito positivo, é que um filho cria uma “pressão” para você crescer.  Eu estava em uma fase meio moribunda de trabalho antes de ela chegar. Hoje sinto que se eu não crescer profissionalmente e pessoalmente, ela sofrerá consequências com isso. A minha idéia é seguir, ou pelo menos, tentar equilibrar minha vida. Sem deixar de lado minha saúde. Isso está no TOPO da minha lista, sem ela eu não posso cuidar da minha família e trabalhar. Crossfit pelas manhãs, bike, trabalho, e tentar retornar à casa mais cedo para estar com a família. Sempre de bicicleta ou skate!

LL – Você carrega consigo alguma frase (seja de livro, música, etc), que te inspira e te dá vontade de produzir sempre mais?

AS – Música sempre me inspira para criar, o problema é que eu nunca posso extrair muitas frases de efeito de Drum’n Bass, esse, um gênero musical que não costuma ter muitas letras. Estou sempre tentando buscar mais tempo para leitura, sabendo que não está sobrando muito tempo, o que tenho acompanhado muito são vídeos no Youtube de filósofos enquanto eu trabalho. Leandro Karnal (que é mais um historiador do que filósofo), Pondé, Clóvis de Barros Filho. Acho que esses caras levantam temas atuais e complexos de uma maneira gostosa. Uma frase da filosofia que me marcou muito é de Platão que veio à tona por Sócrates: “Só sei que nada sei”. Isso tem muito a ver com a nossa área. Nós artistas, temos isso dentro de nós, involuntariamente. Não é à toa que estamos sempre nos questionando, tentando evoluir, buscando inspirações e compartindo conhecimento.

LL – O que podemos esperar do Aleksander Saharovsky para o futuro? Tem algum projeto sendo produzido no momento, alguma novidade interessante que queira compartilhar conosco?

AS – Ainda quero trabalhar em algo destinado para crianças, alguma animação no estilo de Pocoyo, ou mesmo algo como Hey Duggee que não é 3d. Estou sempre ampliando meus horizontes. Esperem de Aleksander um pouco mais de eixo Z. São 7 anos fazendo Character Animation em X+Y, está na hora de adicionar um pouco mais de Z no meu showreel. Em algumas semanas terá um projeto saindo do forno com muito character animation, que fala sobre a indústria do açúcar. Estou curtindo os resultados.

Estou sempre postando coisas no meu Instagram @alek.work (finalmente criei uma conta profissional), e Facebook Page.  

RAPIDINHAS

LL – Qual o melhor período para trabalhar: manhã, tarde, noite?

AS – Começar as 11 da manhã é perfeito para mim!

LL – 2D ou 3D?

AS – 2D.

LL – Flash ou PS para frame a frame?

AS – Flash.

LL – Uma música para trabalhar?

AS – Drum’n Bass (ACESSE).

LL – Um filme preferido de animação?

AS – Pinocchio por toda a vida… Atualmente Inside Out

LL – PC ou MAC?

AS – Mac , pelo sistema operacional, mas estou quase migrando para PC por influência sua! hahaha

LL – Ron Venezuelano ou Limonada?

AS – Ron Venezuelano (caso contrário minha mulher me mata! haha)


O Layer Lemonade agradece imensamente a participação de Aleksander Saharovsky! Desejamos tudo de melhor em sua vida!

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