História da arte: Como que saber um pouco de história me ajudou a vender uma animação

É muito comum que na carreira do motion designer, as pessoas se sintam mais atraídas em desenvolver habilidades em animação, deixando a parte do “designer” um pouco de lado. Afinal, conceitos como design, estética e beleza podem ser bastante subjetivos ainda mais para um cliente que nunca nem ouviu falar de “gestalt”, alinhamento ou teoria das cores. Para o cliente, muitas das vezes, não importa se o projeto está seguindo uma linha teórica do design e sim que esteja “se mexendo”, que chame a atenção do telespectador. Pois bem, isso sempre me incomodou.

Foi na mesma época que me deparei com um livro chamado “Design for Motion: Fundamentals and Techniques of Motion Design” que recebi em mãos um projeto para desenvolver a logo + animação dessa logo para uma cliente. O livro, ainda sem tradução para o português, começa falando um pouco sobre a história do motion e como ele se desenvolve esteticamente até os dias de hoje.

As características do job eram clássicas: “Tenho pouco orçamento, quero um trabalho rápido mas quero que signifique alguma coisa maior”. Era uma logo para uma produtora cinematográfica. Então ao invés de recusar me senti confiante em aplicar algumas coisas que vi no livro. Uma coisa que acredito muito é no poder de simplificar um projeto: Apresentar um modelo funcional que resolva o problema do cliente mas que seja rápido de resolver, logo, fazendo o orçamento valer a pena. Afinal, tempo é dinheiro, se eu fosse capaz de fazer um projeto rápido o orçamento iria ser viável.

Lembro que na mesma semana que recebi o job, fiquei horas lendo sobre Saul Bass que foi um motion desinger (claro que esse termo não existia na época) famosíssimo dos anos 50 e 60. Reconheci o trabalho dele pois meu pai era fã dos filmes do Hitchcock e foi no livro que fiquei sabendo que ele foi o responsável por criá-las.

Alguns posters de Saul Bass (1920-1996). Importante notar o espaço negativo de seus trabalhos, as fontes, as cores e ter em mente que a simplicidade, muitas das vezes, tem como objetivo a funcionalidade: Passar a mensagem de forma clara. Suas animações podem ser vistas no Youtube.

Com uma técnica que hoje seria até mais simples de se reproduzir, Saul Bass criou peças atemporais com uma forte estética que remete a sua época de atuação. Época da qual também surgiram as animações do estúdio UPA (estúdio fundado após a greve dos animadores da Disney em 1941). Logo, em minha mente, juntei as duas referências e corri para o pinterest criar um moodboard.

Alguns frames de animações do estúdio UPA – estúdio nascido de uma greve de animadores que contornaram a situação de baixos salários simplificando o desenho, acelerando a produção e influenciando gerações de animadores posteriormente.

Algumas pessoas pulam essa parte mas, nessa história, criar um moodboard foi muito importante para fazer a cliente entender meu ponto: Expliquei para ela da onde surgiu minha inspiração. Mostrei o moodboard e expliquei a história do Saul Bass, do estúdio UPA e como esses dois estavam fortemente ligados ao cinema, afinal, era um trabalho para uma produtora cinematográfica. E para minha surpresa, a cliente adorou a linha de raciocínio! Disse algo como “Nossa, eu queria exatamente alguma coisa que remetesse ao cinema mas não sabia como aplicar. Eu adorei que as pessoas podem se lembrar do cinema antigo olhando minha logo e isso vai ser muito importante para o futuro. Conceito é tudo!”

Foi ali que percebi a importância de se falar com propriedade de algumas escolhas ligadas ao design. A importância de se explicar conceitos antes mesmo de aplicá-los. A importância de se estudar um pouco de história e de teoria.

Para quem me segue no instagram, percebe que ainda tento reproduzir trabalhos vinculados a essa estética pois estou indo de encontro com outro pensamento do qual acredito muito: É necessário experimentar, aplicar e testar coisas antes de passar adiante. E esse pensamento se encaixa perfeitamente com o design pois ao experimentar, juntando um ou dois backgrounds históricos pode surgir algo inteiramente novo.

Então, fica minha sugestão: Abra um livro, a Wikipédia ou o Youtube e pesquise sobre a história do design, sobre teorias. Encontre alguma estética que você curta e aplique em seus projetos, pessoais ou não. Verá que você, como profissional, estará agregando conteúdo histórico a sua bagagem podendo ser, muitas das vezes, uma saída ou uma resolução de problemas em trabalhos futuros.

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