Uma breve história da animação mundial

A animação, como forma de expressão artística e narrativa, atravessou fronteiras, épocas e tecnologias. Evoluindo de experimentos rudimentares até se tornar uma das indústrias mais complexas e influentes da atualidade. Dessa forma, desde os primeiros curtas em preto e branco até os filmes em 3D hiper-realistas, a história da animação reflete a criatividade humana e a busca incessante por novas formas de contar histórias. Sendo assim, este artigo explora os principais marcos da animação global.

Origens da Animação: Primeiros Experimentos

Fantasmagorie” (1908)

Antes de mais nada, a história da animação começa muito antes do cinema, com os experimentos visuais do século XIX. Dessa forma, dispositivos como o fenaquistiscópio (1832) e o zootrópio (1834) permitiam que uma série de imagens sequenciais criasse a ilusão de movimento. Estes brinquedos óticos exploravam o fenômeno da “persistência da visão“, onde o olho humano retém uma imagem por uma fração de segundo, permitindo que imagens vistas rapidamente pareçam em movimento contínuo.

Com a invenção do cinema pelos irmãos Lumière no final do século XIX, os cineastas começaram a experimentar técnicas animadas. Desse modo, um dos primeiros a criar uma animação no cinema foi Émile Cohl, com o curta-metragem “Fantasmagorie” (1908), que consistia em desenhos animados feitos à mão. Esse filme é considerado o primeiro desenho animado de longa sequência, estabelecendo as bases para o que viria a ser a animação moderna.

O Primeiro Longa animado do Mundo

A história da animação começou a ganhar força no final do século XIX e início do século XX, quando inventores e cineastas começaram a experimentar com técnicas que criavam a ilusão de movimento. No entanto, o primeiro longa-metragem de animação do mundo teve sua produção em 1917, pelo argentino Quirino Cristiani, com o filme “El Apóstol”. Dessa forma, este longa-metragem satírico, feito com a técnica de recortes, tinha aproximadamente 70 minutos de duração e abordava temas políticos da época na Argentina. Contudo, infelizmente, as cópias do filme foram destruídas em um incêndio, e poucas pessoas fora do círculo de estudiosos de cinema conhecem sua importância histórica.

Embora a Disney seja frequentemente lembrada como pioneira, é essencial reconhecer que a Argentina foi o berço do primeiro longa animado.

“El Apóstol” foi criado com a técnica de animação em recortes, ou “cut-out”, que utilizava figuras recortadas em vez de desenhos quadro a quadro.

Embora o filme não tenha sobrevivido até os dias atuais, seu legado é inegável. Quirino Cristiani foi um dos pioneiros que ajudaram a definir a animação como uma forma narrativa capaz de contar histórias complexas e longas.

Disney e a Era de Ouro

Nos anos 1920 e 1930, a animação começou a se consolidar nos Estados Unidos com a ascensão de Walt Disney. Sendo assim, seu curta “Steamboat Willie” (1928), apresentando Mickey Mouse, foi um dos primeiros a sincronizar som com animação, tornando-se um marco na indústria. Em 1937, Disney lançou “Branca de Neve e os Sete Anões”. Este foi o primeiro longa-metragem de animação totalmente desenhado à mão e em cores. Logo se tornou um sucesso global que pavimentou o caminho para o desenvolvimento da animação como uma forma de entretenimento popular.

Na mesma época, outros estúdios começaram a se destacar, como a Warner Bros., com suas animações irreverentes e personagens icônicos como Bugs Bunny e Pernalonga. Esses personagens moldaram a “Era de Ouro da Animação”, um período em que a animação para o cinema e, posteriormente, para a televisão, floresceu.

Além disso, simultaneamente, outros países também começaram a contribuir significativamente para a animação. No Japão, o anime começou a tomar forma nas décadas seguintes, com Osamu Tezuka e suas criações, como “Astro Boy” (1963), estabelecendo uma estética própria. A Europa, por sua vez, teve cineastas experimentais como Jan Švankmajer (Tchéquia), que introduziu técnicas como a stop-motion com um toque surrealista, expandindo as fronteiras do gênero.

3D: Uma Nova Fronteira

Com o avanço das tecnologias digitais no final do século XX, o mundo da animação passou por uma nova revolução. A criação de imagens tridimensionais por computador permitiu uma nova forma de contar histórias, e muitos acreditam que “Toy Story”, da Pixar, foi o primeiro longa-metragem de animação inteiramente em 3D. No entanto, o Brasil já havia dado um passo significativo nessa direção com “Cassiopeia”, dirigido por Clóvis Vieira.

“Cassiopeia”, produzido pela NDR Filmes, foi o primeiro longa-metragem de animação 3D feito sem a captura de imagens reais. Todas as imagens foram geradas por computadores. Embora “Toy Story” seja muitas vezes citado como o pioneiro, a produção brasileira foi concluída pouco depois do filme da Pixar, mas não utilizou a mesma quantidade de recursos ou técnicas de captura de movimento. “Cassiopeia” foi inteiramente desenvolvido com gráficos 3D em uma época em que a tecnologia era extremamente limitada, especialmente no Brasil, o que faz do filme um marco importante e pioneiro.

Para conhecer um pouco mais da historia da animação no Brasil, sugiro a leitura deste artigo.

No entanto, “Toy Story” se tornou mais conhecido por ter sua distribuição por um grande estúdio de Hollywood (Disney/Pixar), obtendo uma recepção global mais ampla. A diferença é que a Pixar tinha à sua disposição uma tecnologia mais avançada e um investimento financeiro substancial, o que permitiu que “Toy Story” fosse um sucesso de bilheteria global, estabelecendo o padrão da animação 3D para as décadas seguintes.

A treta entre a pixar e os brazucas

O Desenvolvimento da Animação Mundial: Globalização e Diversidade

Enquanto os Estados Unidos dominavam o cenário da animação com a Disney, Pixar e DreamWorks, outros países também desenvolveram suas indústrias de animação, oferecendo perspectivas culturais e estéticas diferentes. No Japão, a animação (ou anime) se consolidou como um fenômeno cultural global, com diretores como Hayao Miyazaki, do Studio Ghibli, criando obras-primas como “A Viagem de Chihiro” (2001), que ganhou o Oscar de Melhor Animação.

Na Europa, a animação também se diversificou com estilos mais experimentais e artísticos, como os filmes do estúdio francês Les Armateurs, criadores de “As Bicicletas de Belleville” (2003), e o trabalho de animadores tchecos e russos, que contribuíram para o desenvolvimento de técnicas como o stop-motion.

Conclusão

A história da animação tem diversos marcos inovadores ao redor do mundo, desde os primeiros experimentos no século XIX até a revolução digital. O Brasil, embora muitas vezes deixado de lado nas discussões sobre pioneirismo tecnológico, desempenhou um papel fundamental. Com “Cassiopeia”, foi comprovado que a inovação pode surgir de qualquer lugar, mesmo em meio a desafios significativos.

Reconhecer o papel de filmes como “El Apóstol” e “Cassiopeia” na história global da animação é essencial para entender a verdadeira diversidade e profundidade dessa arte. À medida que a tecnologia continua a evoluir, a animação se torna cada vez mais uma plataforma global, com contribuições de diferentes culturas e países, cada uma moldando essa forma de arte de maneiras únicas.

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