O Auto-Foco é um post que vai ao ar toda quarta-feira e traz, a cada semana, um artista em destaque. Seja animador ou motion designer, conhecido ou desconhecido, grande ou pequeno, vivo ou extinto; se for talentoso, o Auto-Foco o fará jus.
Lígia Fascioni
Ligia Fascioni é uma ilustradora autodidata, nascida no Brasil, que mora em Berlim desde 2011. Trabalhou como engenheira elétrica, fez doutorado em administração de projetos e publicou livros sobre liderança, design e inovação.
Lígia vem desenvolvendo um trabalho muito interessante, que mistura fotografia e ilustração. O inusitado disso tudo é justamente a matéria prima de seu trabalho: o muro de Berlim. O muro de Berlim foi derrubado em 1989 e algumas de suas partes foram conservadas num parque, Mauer Park, no bairro de Prenzlauerberg. Durante anos muitos grafiteiros imprimiram camadas e camadas de tinta sob o muro, numa tentativa de embelezar um símbolo tão carregado de estigmas negativos. O que acontece é que com o tempo essas camadas de tinta vão se soltando, como uma capa, cansada de se sustentar. As lascas, cheias de história, também carregam uma infinidade de cores e texturas. Cada pedaço é único e é ai que entra o trabalho de Lígia Fascioni.
Ligia fotografa as paisagens do cotidiano da capital alemã todos os dias. Atraída pela riqueza visual, começou a fotografar esses pequenos pedaços de muro e usar as fotografias como background para seus desenhos. São recortes e colagens digitais contrastando a brutalidade do conceito que o muro transmite com a representação de traços femininos e a delicadeza dos animais.
Lígia diz:
“Eu sempre gostei de desenhar mulheres, faço isso desde que me conheço por gente. Mas o fato do material vir de um objeto com uma história tão triste, bruta e horrível, é de certa maneira uma provocação para eu me esmerar em produzir o exato oposto disso: beleza, delicadeza, amor. Sem dizer que Berlim me influencia em tudo: amo essa cidade do fundo do meu coração; achei meu lugar no mundo.”
Ligia começou a pensar no paralelo entre a destruição da parede e as paredes que as mulheres têm que demolir todos os dias.
Ela nasceu em 1966 e, aos 23 anos, trabalhava como engenheira elétrica em uma fábrica. Ela se lembra de quanto machismo ela teve que enfrentar naquele ambiente dominado pelos homens, e que a única maneira de passar por isso foi graças à auto-estima que ela construiu a partir da abundância de amor que sua família lhe dava.
Hoje, ela quer comemorar como as mulheres podem ser poderosas juntas e transformar o mundo em um lugar melhor, mais bonito e mais justo para se viver.