Corretora de Poemas

Nunca, em toda minha vida, imaginei trabalhar com poesias, ou com poetas. Muito menos sendo uma “corretora de poemas”, como descreveu o Rafael Arame.
Vender uma subscrição de poesias – digitadas em máquina de escrever, com rotação de poetas e com o propósito de ajudar artistas e pequenos negócios – de porta em porta, ainda que numa cidade artística como Brighton, é mais difícil do que parece (especialmente para alguém sem experiência alguma em vendas), mas mais interessante do que parece também.

Sabe aquela expressão “você não sabe o que encontrará atrás de cada porta”? É exatamente essa a situação: você pode encontrar desde um cara muito rude que vai dizer que “ninguém se interessaria por isso” e bater a porta na sua cara (tudo bem, é direito dele, né?) até um senhor com 50 anos de carreira como designer gráfico que está (estava) procurando um animador pra ajudá-lo a dar vida aos seus designs.

E é com essa introdução meia boca que começo a falar sobre o que de fato é esse trabalho e quem são essas personalidades maravilhosas que tenho encontrado (como não posso colocar nomes, fica só a beleza dessa experiência e de como são incríveis as histórias de vida desses artistas e personagens).

Há pouco mais de um mês conheci o Alex, meu “chefe” e criador do Poems by Post. Ele é um poeta de rua (de verdade) e por três anos inteiros ganhou a vida fazendo poemas personalizados para quem quisesse nas ruas de diversos lugares do mundo. Com uma personalidade um tanto extravagante, acho que nunca conheci uma pessoa com tanto cuidado com outros artistas e com uma visão tão abrangente sobre a arte (com excessão da minha avó Helena e do Dhyan – outros dois que também são poetas e tem uma criatividade divina – por que será? – risos espontâneos da autora). Ele criou o Poems by Post no primeiro lockdown vendo como artistas e pequenos negócios estavam sofrendo para se manter em pé e com as contas em dia.

No nosso time, super diverso, somos quase todos trabalhadores da arte, com uma diversidade enorme pra um time de cinco pessoas. Animadora, músicos, escritora e um admirador da arte com um background de vendas, mas com uma alma artística (vocês precisam conhecer essas personalidades). É o último time que alguém com mais de 10 anos de carreira em vendas escolheria, mas também o único time possível para representar tudo o que o Poems by Post representa (estou emocionada, gente, ganhei outra família – igualzinho como me senti quando entrei pro Layer).

Entrei para esse time por duas razões principais: acredito (e muito) na idéia e sentia que precisava de uma experiência em vendas para lidar com meus próprios clientes, mas essa experiência tem me rendido ótimos contatos no meio artístico e uma nova visão sobre o que é de fato a arte. Sei que pra uma realidade brasileira isso é um tanto utópico, apesar de achar que vocês devem concordar comigo sobre achar a idéia maneirassa.

No segundo ou terceiro dia batendo à porta das pessoas, conheci uma “animadora de rua” (sim!). Uma senhora, de mais ou menos setenta anos, que trabalhou em diversos estúdios com frame a frame, mas hoje trabalha na beira da praia fazendo animações rápidas e personalizadas (não me perguntem como, mas ela faz as animações em uma hora numa tela – estilo cintiq da Wacom – com poucos movimentos e várias limitações – óbvio, animação demora né, gente?! As animações dos cenários já são prontas e ela vende somente essas animações também, caso o cliente deseje. Ela não faz incersão de marca e disse que seu maior público são casais) só pra não perder a prática. Nunca tinha ouvido falar de nada assim e estou ansiosíssima para encontrá-la na praia quando essa pandemia acabar. Ela não depende dessa renda, então não está presente todos os dias nas ruas e fica apenas algumas horas, mas com certeza é um achado único nesse mundão. Me respondam nos comentários se já tiverem visto algo assim, porque estou pensando seriamente em fazer um documentário sobre esses artistas de rua diferentões.

Conheci nesse processo também uma professora de artes que faz um trabalho lindo com crianças com deficiência e em situação de vulnerabilidade. Como uma boa personalidade brightoniana, ela é vegana e super preocupada com o meio ambiente, fazendo um trabalho incrível com materiais reciclados e conscientização das crianças. Apaixonada pelas animações do estúdio Ghibli e uma filha que trabalha com artes performáticas, ela compartilhou que está criando um projeto com vídeo para o aprendizado das crianças (fiquem atentos, que eu pretendo postar mais quando ela finalizar esse projeto).

Dentre esses, conheci também uma artista que trabalha com vitrais e esculturas de vidro, dois ilustradores, um pintor, diversos músicos e professores de artes voltados para as mais diversas áreas, uma arte terapeuta, uma poeta, organizadores de comunidades artísticas, artistas performáticos, jornalistas, e um dos meus preferidos: o artista gráfico que trabalha apenas com formas geométricas puras.

Brighton com certeza é uma cidade artística e apoiadora das artes, mais do que qualquer outra que já tinha conhecido na vida (e me sinto como o Hércules lutando por um lugar no Olímpo para pertencer a esse lugar), o lugar perfeito para presenciar essas histórias, mas, para não me alongar demais, prometo escrever mais artigos sobre essas personalidades e esse trabalho ao decorrer das semanas (e assim que encontrar mais histórias para contar – e talvez até uma série de curtas documentários quando essa pandemia acabar). Prometo que os próximos vão ter contatos mais sólidos e nomes desses seres únicos que tenho encontrado – assim que tiver permissão deles, dou um update no artigo.

Vocês conhecem alguém com um modelo artístico diferente? Vamos trocar figurinhas! Querem saber mais sobre algum desses artistas? Comentem aqui, que eu vejo se faço um artigo mais dedicado. Ficaram interessados no Poems by Post? O site é esse aqui e se decidirem dar um help, é só escrever BEATRIZ no cupom (sim, meu nome não é Bibi, sei que é difícil de dissociar – nem eu consigo). E, só pra terminar, quero agradecer a essa minha família do Layer que me convenceu a escrever um artigo só sobre isso.

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