Pode soar como uma abstração o referido título, mas tudo o que você consome durante a vida pode virar referência, um cartaz na rua, a forma que um vendedor ambulante anuncia seus produtos, espetáculos, filmes, música, as cenas do cotidiano e tudo ao seu redor, e por sua vez a referência se torna o ponto de partida para o desenvolvermos a criatividade.
Quando começamos a evoluir a nossa percepção e aguçamos o olhar, automaticamente e muitas vezes inconsciente, montamos uma biblioteca de referências sensoriais em nossa mente, cores, sons, ambiências, cheiros e sabores vão formando todo um repertório que podem abrilhantar muito as nossas criações.
A tendência é uma armadilha sutil
O maior erro que podemos cometer é entrarmos em uma bolha de referências mercadológicas ou de uma área específica, desta forma ficamos extremamente limitados em nosso repertório visual, presos em um ciclo de tendências, sempre copiando o que está em alta, indo na mesma direção do senso comum. O ato criativo passa a se valer desta muleta chamada tendência, deixando muitas vezes o processo preguiçoso, viciado e dependente. Uma verdadeira tragédia criativa.
E o mercado?
O mercado como sempre quer money, assim como todo mundo, até ai tudo bem, mas o que vejo como problema real é que cada vez mais ninguém quer arriscar, se você observar as animações todas são muito parecidas, ai você olha para a publicidade, tudo mais do mesmo.
No final das contas como profissionais acabamos dançando conforme a música, pois as contas não dão pausa.
O uso da análise de dados muitas vezes ajudam a moldar as tendências, pois todos os nossos hábitos de consumo são um livro aberto para o mercado, e a partir da coleta de informações o perfil do publico alvo é traçado, e segundo os analistas e cientistas de dados, a estatística é mais importante do que a criatividade(Ouvi esta frase em um evento de criatividade e inovação, pasmem). Ai fica aquela reflexão, as pessoas gostam de determinadas coisas pelo excesso de exibição, pelo efeito manada, ou simplesmente por falta de outras opções?
Saindo da caixinha
Durante toda a história da humanidade muitos questionaram o senso comum e fizeram verdadeiras revoluções dentro dos seus campos de atuação. Em 1774 o escritor Johann Wolfgang von Goethe escreveu o livro “Os Sofrimentos do Jovem Werther”, na época ele rompeu com o senso comum na sua forma de escrita e acabou sendo uma influência mundial, tornando-se o precursor do romantismo. O fruto de sua inspiração foi uma profunda desilusão amorosa, esta amarga referência foi o combustível necessário para se criar um clássico que perdura até os dias atuais. Goethe também é responsável por um trabalho científico intitulado “Teoria das cores”, que é referência até os dias atuais, segundo Kandinsky, este é o mais importante trabalho sobre o tema. Eu poderia aqui citar Kafka, Salvador Dalí, Marcel Duchamp, Claude Monet e tantos outros que se atreveram a fugir do lugar-comum e gravar seus nomes na história. O problema é que depois que se sai da caixa a vanguarda acaba virando senso comum e volta para a mesma caixa que saiu.
Rebele-se
Ser criativo é um ato de rebeldia, é contestação e movimento. Por mais que o mercado queira ditar as regras e tendências, você pode subverter de forma sutil todas elas, mas isto só é possível com um vasto repertório de referências, referências que a vida te proporciona diariamente, permita-se descobrir coisas novas, sintonizar outras estações e olhar para o lado oposto. Nestas horas um projeto autoral é como um oásis no meio do deserto da mesmice, pode ser aquela válvula de escape dos pastéis e miojos que o tal mercado nos obriga a produzir diariamente.
Fonte da imagem – Destropier