Eu odeio explainer videos!

Andei acompanhando algumas entrevistas que o Ariel Costa (Blink My Brain) andou fazendo com pessoas muito legais da indústria do motion! Se trata de um projeto que ele chamou de Client Note em que o Ariel bate um papo com uma galera high-end do mercado pelo Instagram.

A minha conversa favorita foi com o Marcel Ziul da State Design! Ele disse algo que mexeu comigo e eu tive que escrever sobre: “Eu odeio explainer videos”!

Este artigo é sobre a minha reflexão sobre essa frase, não tanto sobre o que o Marcel disse na entrevista. Para saber exatamente o que ele falou, você pode ouvir o papo completo no Youtube (apesar dos dois serem brasileiros, a conversa é em inglês).

Depois que eu ouvi o Ziul falando isso, eu pensei: eu acho que eu também odeio explainer videos. O ponto é: a grande maioria deles, na verdade, não explicam nada! E eu digo isso pensando em vários explainers que eu mesmo fiz. Vai dizer que você nunca assistiu um vídeo lindo, ficou impressionado com a animação e o design, mas, no final, se perguntou: “sobre o quê era o vídeo, mesmo?”

Existe aquele clichê de vídeos explicativos que começam com um personagem e seu problema. Do tipo: “João tem um negócio mas tem dificuldade com isso, isso e isso!”. Estes me parecem ser os mais eficientes! Eles apresentam o problema claro e como o produto ou serviço soluciona. Mas a maioria dos explainers que vejo os estúdios renomados produzindo atualmente vão para um caminho mais abstrato. Aquela bolinha que se divide e muda de cor para representar diversidade, por exemplo. Esses, na minha opinião e na do Marcel, não explicam nada.

Eu acho que a função do motion, na maioria das vezes, vai muito além de explicar. Então, mesmo uma animação abstrata, que confunde mais do que esclarece, pode encher os olhos do espectador e criar uma relação muito boa com aquela marca que assina no final do vídeo. Isso, por si só, é um resultado muito interessante para um vídeo. Só não deveria ser tratado como explainer, não é mesmo?

Porque os explainer videos que eu faço não costumam ser bons explicadores?

A frase do Marcel me fez pensar e eu cheguei a uma conclusão: o problema está no processo. Normalmente é assim: um redator escreve um roteiro que explica o que tem que ser explicado (na verdade, não é bem um roteiro, e sim o texto que vai ser falado pelo locutor no vídeo); o cliente lê e aprova este roteiro; eu e a equipe de criação pegamos o texto final e vamos trabalhar para transformá-lo em um vídeo. Tudo errado!

O problema, na minha experiência, é que os roteiros nunca são feitos em conjunto com os designers e animadores. Ou seja, o texto e o pensamento visual são desenvolvidos separadamente e somos nós, motion designers, que precisamos transformar em imagem um texto que já está pronto e aprovado.

O roteiro é produzido por um redator que é muito bom em escrever textos, mas não é bom em pensar visualmente.

E é por isso que eu acredito que os vídeos “clichês”, com personagens e seus problemas, são os que mais funcionam. Porque eles são visuais na essência. Eles são uma historinha. É fácil e direta a relação entre texto e imagem. Quando o explainer pretende explicar conceitos mais abstratos como performance financeira, eficiência organizacional ou gestão, é muito difícil criar uma animação que seja literal.

Outra coisa que é clara pensando sobre isso é a necessidade de nós, motion designers e animadores, desenvolvermos nossas habilidades de escrita. Só sendo bons escritores nós vamos conseguir ajudar a criar roteiros que conversem com o universo visual da animação.

Eu acredito que é possível criar ótimos explainer videos que cumpram seu papel, sejam bonitos e informativos. Mas isso é quase impossível se o motion designer e o redator não trabalharem juntos desde o início para construírem a solução visual e textual de forma conjunta. Até que eu trabalhe em uma equipe em que o processo aconteça desse jeito, vou seguir odiando os explainer videos.

A capa deste artigo é do projeto Under Armour DSG+Lightning da State Design, cujo fundador inspirou este artigo.

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