Trabalho de graça é muito mal visto pelas profissões criativas, e com razão. Muitas empresas se aproveitam de jovens profissionais com o pretexto de que, trabalhando para elas, ganharão experiência e o reconhecimento necessário para iniciar a subida para o sucesso – e que isso vale mais do que dinheiro.
Soma-se a isso o fato de que que amamos o que fazemos. Nós criativos trabalhamos de graça como exercício e curtimos projetos pessoais. É claro que as empresas iriam se aproveitar disso.
Existe, inclusive um movimento criado pelos videomakers David Leo Hyde e Nathalie Berger para que as empresas paguem seus estagiários, o que mostra que isso não é só uma questão no Brasil.
Ainda existem os clientes “permuteiros”. Quem na nossa indústria nunca recebeu uma proposta de trabalho em troca de divulgação e exposição? Na grande maioria das vezes uma furada.
Apesar disso tudo, trabalhar “de graça” nem sempre é uma má ideia. Sendo que um pagamento justo não é, necessariamente, financeiro.
Existem momentos e situações em que o trabalho gratuito não só vale a pena, como pode trazer muito mais do que dinheiro na conta. Aqui vão alguns conselhos que garantirão que você não entre em furadas e tenha benefícios quando aceitar trabalhar “na faixa”.
Isso é sobre poder, não vitimismo.
Se você aceitou trabalhar de graça para uma empresa com fins lucrativos, é importante impor limites. Deixe claro o seguinte:
Você não está colaborando. Você fará o trabalho exatamente como você acredita que deve ser feito, e eles terão que usá-lo.
Quando não estão lhe pagando, você automaticamente deve ganhar uma autonomia que nenhum outro cliente pagante te daria. Trabalhar de graça e ainda ter que fazer tudo da forma que o cliente quer, não faz muito sentido.
Isso vai te dar a possibilidade de fazer o trabalho que quer fazer, e construir o portfólio que deseja.
Portanto, trabalhar de graça não é uma posição de vítima. Pelo contrário. Trabalhar de graça é poder. Este é o pensamento de Paula Scher, designer americana que afirma que a melhor parte do seu portfólio é formado por trabalhos que ela fez de graça.
Construir portfólio e aprender
Quando um trabalho realmente te interessa, pode ser que valha a pena fazer de graça em algumas circunstâncias.
Você pode, por exemplo, ter a oportunidade de trabalhar ao lado de pessoas que você admira, com as quais vai aprender e evoluir. Trabalhar ao lado de alguém mais experiente e que te inspira é algo muito importante para sua evolução como um profissional criativo.
Podemos também considerar valiosos projetos que irão te forçar a aprender e evoluir. Aqueles que trazem alguns desafios e vão demandar habilidades que você ainda não tem.
Se você for, claramente, se tornar um profissional melhor e ter um portfólio mais chamativo depois do projeto, talvez seja uma boa ideia trabalhar de graça.
É por uma boa causa
Outra maneira inteligente de construir portfólio e fazer um trabalho gratuito que valha a pena é dedicar seus serviços a alguma causa que acredita.
Pode ser uma causa de natureza religiosa, pela defesa do meio ambiente, ou para ajudar alguma instituição. O universo sempre retribui quem faz algo pelo bem comum, portanto, você certamente terá algum retorno, mesmo não sendo financeiro.
O “pagamento”
Trabalhar totalmente de graça nunca é uma boa ideia. Mas o retorno pelo trabalho não precisa ser dinheiro. Quando você vê algum anúncio dizendo que estão dando algo “grátis”, normalmente, a palavra vem com um asterisco ao lado e, no rodapé, você vai ver letras miúdas especificando as condições para aquela “gratuidade”.
Você deve especificar as suas condições também. A ilustradora Emma Block foi convidada para fazer uma “ilustração ao vivo” em um evento. Apesar de não cobrar por isso, ela combinou que o evento deveria a ela um número de menções no Instagram e no Twitter igual ao número de pessoas que estivessem em sua apresentação.
Isso também gerou para Emma fotografias profissionais dela se apresentando no evento, além de muitos clientes pagantes que chegaram a ela pela exposição gerada pelo evento.
Você nunca pode se apegar a promessas como “minha empresa é muito conhecida e provavelmente vai te trazer visibilidade”. No caso de Emma, ela teria um retorno palpável, que seriam os posts nas redes sociais do evento, que tinha uma visibilidade nitidamente expressiva.
Portanto, da próxima vez que aceitar trabalhar de graça, garanta que vai receber alguma coisa em troca. E não pode ser apenas uma promessa.
E você? Já fez algum trabalho de graça mas que valeu a pena? Compartilhe com a gente nos comentários!
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Este artigo foi inspirado por um texto que li no WePresent, o blog do We Transfer, mas não é uma tradução. As ilustrações foram retiradas do artigo e foram feitas por Camilo Huinca.