Inteligência artificial pode produzir arte?

Recentemente eu assisti um vídeo no canal Brush Rush do Guilherme Freitas onde ele debatia sobre o DALL-E, uma inteligência artificial aberta que gera pinturas digitais. Ela funciona a partir de uma entrada de texto descrevendo que tipo de imagem você gostaria de produzir. O canal Two Minute Papers teve acesso ao beta do DALL-E 2 e as imagens geradas são interessantes.

Uma das pinturas geradas pelo DALL-E

O prompt de entrada foi: uma raposa cientista vestida de jaleco com poderes mágicos. Os resultados, apesar de terem problemas, são bastante satisfatórios. O uso similar de IA ocorre em todos os campos da indústria do entretenimento.

A ferramenta Midas Creature do grupo Midas Touch automatiza a animação 2D de criaturas. Ela funciona como uma mistura de cutout e puppet animation, mas é focada principalmente em animação secundária. O diretor técnico Jiayi Chong, que trabalhava na Pixar, indica a ferramenta para a parte tediosa do trabalho, deixando o animador mais livre para pensar na performance geral do personagem, e não precisar passar horas animando cabelo e roupas.

Esse tipo de ferramenta é comum em toda indústria criativa, desde a criação de roteiros e música até edição de vídeos. A base é muito parecida, uma rede neural, alimentada com informações específicas e utilizando aprendizado de máquina para gerar diferentes resultados. O potencial é grande e gera diferentes opiniões.

Nesse vídeo o diretor de animação japonês Hayao Miyazaki se refere a animação feita por inteligência artificial como um insulto contra a humanidade. É compreensível, já que os os trabalhos do diretor são feitos de forma praticamente artesanal e possuem uma sensibilidade artística que a IA dificilmente vai conseguir se equiparar.

Apesar de muitas vezes esse assunto gerar um medo nos criativos (será que uma máquina vai me substituir?), eu acredito que ela abre uma série de possibilidades. A primeira delas é que fica bem claro que, apesar de conseguir gerar resultados bem impressionantes, quanto mais específica é a sua demanda, menos a IA consegue te fornecer um resultado satisfatório. Na área de publicidade o maior impacto provavelmente será nas empresas menores e que querem produtos menos customizados. As famosas cartelas, que pagam as contas, mas a maioria dos motions não aguenta mais fazer, estão cada vez mais automatizadas. Animações simples de personagens com movimentos pouco naturais, mas que passam a mensagem também já podem ser automatizadas com facilidade. 

Agora, quando você olha para trabalhos de estúdios um pouco maiores você percebe o quanto a especialização e a criatividade são importantes. Nesses ambientes a IA funciona muito mais como uma aliada do que uma inimiga, oferecendo ferramentas que aceleram o trabalho e permitem que o artista tenha mais tempo para se dedicar às partes mais importantes da animação.

É muito parecido com o que aconteceu quando a fotografia se popularizou. Muitos retratistas perderam seus trabalhos e acreditaram que a arte iria morrer, mas na verdade ela se fortaleceu na abstração. Hoje os desenhos hiper realistas voltaram com tudo, sempre com uma pegada contemporânea. A arte é cíclica e nada é 100% original.

Termino esse artigo com um vídeo do Dan Catt, que está utilizando o app Midjourney como um gerador de inspiração. Esse app é alimentado com o trabalho de vários artistas famosos na história da arte. Já imaginou como seria uma pintura de Dali se ele fosse fascinado por aranhas fofinhas? E se DaVinci e Jeff Koons se unissem para fazer um helicóptero metálico com traço de mangá? Parecem ideias bobas, mas é impressionante como ele usa o app juntamente com o pinterest para gerar um moodboard incrível.

O importante é aprender e se adaptar sempre.

Abraços!

PS: Se vocês quiserem podem testar o DALL-E Mini, mas já aviso, as imagens geradas são perturbadoras e dignas de meme.

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