O recém lançado filme da Disney, Mulan, tem rendido muitas críticas, principalmente relacionadas à história (que é completamente diferente da história lançada em 1998) e ao envolvimento da Disney com uma companhia que é acusada de financiar os novos “campos de concentração” na China, levando inclusive ao boicote do filme por ativistas do mundo todo. Hoje, porém, quero falar sobre algo que pouco interessa ao público geral, mas que muito interessa a nós, produtores de conteúdo, animadores, trabalhadores do mundo audiovisual: os efeitos visuais e a finalização do filme.
Antes de começar, melhor avisar que CONTÉM SPOILERS.
O filme começa com a infância da personagem, que já é uma potencial guerreira desde pequena. Nesse momento já é possível ver a falta de cuidado com a edição, efeitos visuais e dublês de corpo no filme. A pequena Mulan, numa cena um tanto esquisita, tentando referenciar o filme de 1998, corre atrás de uma galinha. Numa sequência de movimentos de camera, slow-ins e slow-outs, um dublê de corpo que, se for animado é ainda pior do que se espera, não combina com o corpo da jovem atriz e a intrigante falta de sombras. Essa cena não escapou aos olhos nem dos mais leigos – nenhum dos amigos na sala conseguiu conter o riso e espanto ao ver tamanha atrocidade num filme da companhia. Algo que não é crível num cenário, por mais mágica que seja a história, pode acabar com um filme inteiro – o que teria sido o caso para mim, caso a história em si não fosse tão interessante – criou um certo alívio cômico, que o filme, por ser uma lenda de guerra, talvez peque um tanto em não ter.
A partir daí os erros são um pouco mais sutis, mas não deixam de ser muito complicados para um filme que gastou $200 milhões de dólares (estimativa).
Mesmo a bruxa, um transmorfo – coisa já feita em outros live-actions da Disney, como Malévola e filmes Marvel, teve momentos complicados em sua animação; a esperada fênix, que, só posso esperar que tenha sido uma escolha estética, parece não caber no cenário físico do filme; e até um Mangual (bola de ferro com pontas protuberantes em sua superfície, ligada a uma corrente de ferro) sem peso teve seus momentos nas cenas finais do filme.
O que nos leva a perguntar: quanto a pandemia pode ter afetado a produção do filme, que deveria ter sido lançado em Maio (EUA/EU)/Junho (Brasil)?
Sabemos que Mulan é um filme que teve a finalização parada em meados de Março, quando deveriam ser feitos os últimos arranjos de computação gráfica – os famosos últimos detalhes e revisão, porém não se esperava que o filme tivesse tantos detalhes para serem corrigidos em menos de dois meses do lançamento oficial. Para uma produção multimilionária, esses não são os padrões, já que há todo um processo de lançamento e pré-screenings previsto para esse período, sempre acarretando em uma correção ou outra, mas (quase) nunca em personagens que aparecem o filme todo ou cenas de suma importância na história (como a fênix, que substitui Mushu, para desapontamento dos fãs, mas com uma boa justificativa quando considerando a cultura chinesa e canção que origina a lenda de Mulan).
Na opinião sincera de quem esperava pelo filme ansiosamente, sabendo de toda a produção e talento alocado nos estúdios Disney, talvez o filme não devesse ter sido lançado ainda, apesar do atraso, se isso fosse significar um filme melhor acabado para o público. Se você também está esperando pelo filme, a dica é: abaixe as expectativas e desligue a crítica quanto a computação gráfica. A história e a atuação ainda valem bastante a pena.