A vida de freelancer é uma alternativa para quem não curte a rotina de um trabalho fixo, quer ter liberdade pra trabalhar onde quiser, fazer seu próprio horário e, possivelmente, ganhar mais. Eu levei um ano e meio tomando coragem, analisando as possibilidades e morrendo de medo de pedir demissão na agência onde eu trabalhava. Hoje sou freelancer, tenho mais liberdade, ganho muito mais (trabalho muito mais também) e meu único arrependimento foi não ter feito isso antes.
Baseado na minha experiência e de alguns amigos (em especial o Gabriel Felix, que também tomou essa decisão a pouco tempo), vou expor os principais temores que sentimos quando pensamos em sair do trabalho fixo e cair no universo incerto do freelancer.
Antes de virar freela
Poucos requisitos são importantes antes de pedir demissão. Mas é bom não se preparar demais. Decisões como essas envolvem um aprendizado durante o processo e, invariavelmente, vão haver erros e acertos. Esperar o momento perfeito, quando os astros se alinham, para tomar a decisão, é uma ótima forma de procrastinar e nunca fazer isso.
1. É bom já ter tido uma certa experiência trabalhando em uma empresa, entendendo de processos e se relacionando com colegas e chefes. Não é aconselhável que você se torne um freelancer recém saído da faculdade. É importante adquirir experiência de mercado e, especialmente, conquistar amigos e ter relacionamento com pessoas da área (a coisa mais valiosa para uma vida de freelancer bem sucedida).
2. É preciso ter um portfólio organizado, de preferência um site bonito onde você mostre seus melhores trabalhos. É importante que o conteúdo do portfólio esteja intimamente ligado ao que você quer fazer como freelancer. Se você trabalha (como eu trabalhava) em uma área diferente à que você almeja trabalhar como freela, construa esse portfólio primeiro. Trabalhos pessoais são ótimos para isso.
3. Tenha dinheiro suficiente para se manter sem salário por três meses. Três meses é o mínimo.
É só isso. Se você atende a estes três quesitos, você já está apto para se jogar na vida de freela sem ter riscos tão grandes assim. Agora vamos aos nossos maiores medos que nos impedem de alcançar o sonho da liberdade de trabalhar de pijama.
Falta de estabilidade
A estabilidade, na verdade, é uma farsa. Quem disse que estando empregado você tem estabilidade? A qualquer momento pode vir uma crise e você ser demitido. E o pior, nessa situação, o desemprego pode te pegar completamente desprevenido. Diferentemente, quando é freelancer, você aprende a conviver com a certeza da incerteza e isso se torna natural e não é mais tão assustador como parece.
Viver uma vida instável também significa estar aberto para coisas incríveis acontecerem. Imagine dois viajantes que vão para a Europa. Um deles planeja absolutamente tudo! O dia e o horário de cada visita, cada lugar, cada momento da viagem. Ele pode seguir seu roteiro estritamente, fazer tudo que planejou, e terá uma viagem ótima. Agora imagina outro viajante, que apenas sabe três ou quatro principais pontos que quer visitar, mas tem um roteiro aberto à possibilidades. Ele tem mais chances de algo não ser tão legal? Provavelmente. Mas ele também tem muito mais chances de conhecer pessoas que vão sugerir lugares que ele nunca teria pensado em ir, e ter experiência incríveis que nenhum planejamento poderia prever.
Quando você se coloca diante do incerto e se abre para possibilidades que você não planejou, o universo conspira para te proporcionar coisas que você nunca teria pensado. Conviver com a incerteza e a instabilidade faz com que você saia da sua zona de conforto, evolua e esteja aberto para que coisas incríveis aconteçam na sua vida.
Procrastinação
Cada pessoa é diferente e procrastinação é sempre um problema. Mas quando você trabalha pra você mesmo, as chances de você ser um procrastinador diminuem muito. Há uma mudança de mindset quando você começa a trabalhar para si mesmo e sabe que seu sucesso depende só do seu esforço. É diferente acordar de manhã cedo pra ir trabalhar sabendo que você é obrigado a isso e que seu patrão estará te esperando. Quando você sabe que não precisa acordar cedo, mas que se o fizer, você será o grande beneficiado, faz com que seja muito mais fácil pular da cama. Naturalmente, você vai estar muito mais animado com os projetos e o trabalho que você terá pra fazer.
Achei que seria dificílimo acordar cedo quando trabalhasse por conta própria, mas a verdade é que acordo bem mais cedo que antes, e muito mais animado.
Ficar sem cliente
É claro que o seu número de clientes vai variar a cada mês, mas o que experienciei é que clientes sempre atraem outros clientes. Se você fizer um bom trabalho, vai ser indicado para outros jobs, e isso é um ciclo virtuoso. Portanto, há um esforço inicial para conseguir novos clientes, mas a partir daí, tudo flui naturalmente.
Existe demanda para todo o nível de trabalho, então o seu nível como Motion Designer não interfere tanto aqui. O fato é que todo estúdio ou produtora contrata freelancers frequentemente. Elas sempre recebem mais demanda do que a equipe interna consegue executar e precisam terceirizar.
Uma vez que você tem um site legal com seu trabalho, comece mandando e-mails se colocando disponível para os estúdios e produtoras. É bom dizer que como freela você não tem barreiras geográficas. Pode conseguir clientes que não estão no seu estado e nem no seu País (fale inglês e poderá trabalhar pro mundo todo).
Em um universo tão enorme de possíveis clientes, não são grandes as chances de você ficar muito tempo sem trabalho, porém, lembre-se que ficar sem clientes tem vantagens também. Como freelancer, meu tempo livre é mais valioso do que o tempo dedicado à algum projeto. Imagine você com um mês livre para se dedicar aos estudos e à projetos autorais. Imagine o quanto você iria aprender e evoluir nesse tempo? Assim, quando seu próximo cliente vier, você poderá entregar um resultado ainda melhor e cobrar mais. Tempo dedicado ao estudo é tão valioso quanto o dinheiro que estaria recebendo por um projeto.
Lidar com burocracia
Você realmente precisa conseguir gerar notas fiscais. Isso é importante. Mas fora isso, não há mais tanta burocracia para lidar.
Contrato é um assunto controverso. Na minha opinião, e que também é a opinião de Joey Korenman, fundador da School of Motion e autor do livro “The Freelance Manifesto“ (você precisa ler!), contratos mais atrapalham do que ajudam. Eles impõem condições que podem afastar os clientes e tornar o início do projeto burocrático. Nunca fiz um contrato na vida e nunca senti falta. Claro, a função mais importante do contrato é garantir que você receba o valor combinado, mas para isso há duas alternativas: sempre cobrar metade do valor antecipadamente, e averiguar se a empresa ou pessoa que te contrata é confiável e se você tem referências sobre ela.
Acredite, o risco de calote sempre existirá, mas você está mesmo disposto a ter a dor de cabeça e os custos de processar judicialmente um cliente que não te pagou? As vezes deixar pra lá é mais barato financeira e emocionalmente. – Se você estiver lidando com projetos de dezenas de milhares de reais, aí é bom fazer contrato sim.
Solidão de trabalhar sem ninguém do lado
Essa é a parte ruim de ser freelancer, mas nem sempre será desse jeito. Minha experiência me mostra que em grande parte das vezes, produtoras me chamam para trabalhar no local ou ao menos colocam isso como uma opção. Isso me possibilitou conhecer muita gente boa e aprender bastante com eles.
Uma vez que sua vida de freela estiver indo bem, você pode trabalhar em algum coworking ou dividir o aluguel de algum espaço com amigos. É sempre bom trocar idéias e pedir opinião, mas a solidão às vezes faz bem pra nossa cabeça e nossa criatividade também.
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E você? Qual é o maior medo que te impede de tomar a decisão de virar um freelancer fulltime? Ter liberdade para fazer seus próprios horários, trabalhar em qualquer lugar, poder tirar férias e viajar nas baixa-temporadas quando é tudo mais barato e não existem filas nos aeroportos? Comente e, quem sabe, vamos construir juntos uma parte 2 deste artigo?