Olhar de Designer

Sempre fui muito ruim em qualquer esporte. Dos “tipos de inteligência” que existem (como a linguística, lógico-matemática, musical), a chamada corporal-cinestésica é certamente uma das minhas maiores fraquezas. Tendo isso em mente, eu parei pra pensar sobre a minha facilidade em ilustrar. Ilustração não é algo que envolveria um pouco dessa inteligência corporal, já que se trata dos movimentos da mão sobre o papel? Se sou tão ruim em movimentos do corpo, como que mesmo assim eu consigo desenhar bem? Daí cheguei à conclusão que, agora, me parece bem óbvia: na verdade, nós não desenhamos com as mãos. Nós desenhamos com os olhos.

Se eu tivesse que dar um único conselho para qualquer um que quer ficar bom em design e em animação, eu diria “treine seu olho”. Não é com Illustrator, Cinema 4D ou After Effects que fazemos nosso trabalho, é com nossos olhos. E isso é uma sacada simples que muda como você aborda sua própria evolução na área.

O segredo está nos detalhes e, portanto, para percebê-los, precisamos desenvolver sensibilidade.

Há uma passagem do curso de Workflow Avançado em Animação do Daniel Rodrigues em que ele diz que animação não é algo que se vê, é algo que se sente. Nós sentimos o movimento. Acho isso genial, mas eu acrescentaria que dependemos dos nossos olhos para “sentir” se uma animação está funcionando ou não. Precisamos de um olhar aguçado para entender onde está o problema num movimento. E quanto mais experiente você fica, mais percebe que o defeito frequentemente está em um ou dois frames que, se mudarem um pouco, vão tornar uma animação mediana em algo muito bom.

Mas afinal, como é que o olho é treinado? Existe algum atalho ou práticas que vão acelerar esse processo? Não tenho muita certeza da resposta para essas perguntas, mas é muito claro que essa evolução vem naturalmente com a prática. O segredo está nos detalhes e, portanto, para percebê-los, precisamos desenvolver sensibilidade. É por isso que um caminho seguro seria se tornar uma pessoa mais sensível em geral. O contato com todos os tipos de arte, então, se torna essencial. Especialmente literatura, que é algo que, a princípio, parece distante de Design e Motion.

O segredo está nos detalhes e, portanto, para percebê-los, precisamos desenvolver sensibilidade.

Há um tempo que tenho tentado entender melhor porque clássicos da literatura se tornaram clássicos. O que faz de uma obra atemporal e brilhante o bastante pra ser tida como referência décadas depois de serem escritas? Isso me levou a ler mais, desde Machado de Assis até Dostoievski. E a maioria destes livros são obras que te fazem refletir muito durante e depois da leitura, mesmo que sejam reflexões sobre coisas absolutamente banais. Contato com arte + reflexão é o que nos torna mais sensíveis. Ou seja, ler os clássicos é uma ótima ideia se você quer se tornar um criativo melhor.

A pressa não só é inimiga da perfeição, como também é uma limitadora para seu desenvolvimento como criador. Quanto mais imagens você absorve e mais keyframes adiciona, melhor você fica. E tudo converge em um olhar mais aguçado, mais sensível. Adquirir esse olhar será sempre o nosso objetivo principal.

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