Microbians é a alcunha de Gabriel Suchowolski, artista argentino majoritariamente conhecido pelo talento como ilustrador e designer, mas com ampla experiência em animação, motion design e programação. Nascido em 1972, Microbians atua na Espanha, onde trabalha como Diretor Criativo no Domestika e já recebeu inúmeros prêmios nos campos acima citados, além de ter participado de várias Expos e plublicações – como IndexBook e Korean Design Magazine -, e possuir um estúdio próprio de Motion Graphics chamado COCOE.
Layer Lemonade – Você nasceu em Buenos Aires, certo? Como começou sua jornada rumo a animação e ilustração? Você cursou algo no campo das Belas Artes?
Microbians – Sim, nasci em Buenos Aires, mas mudei-me para Espanha com apenas 4 anos de idade(razão pela qual me sinto de lugar nenhum, mas sou de todos os lugares). Não me recordo quando comecei a desenhar, pois todos na infância começam com isso muito cedo; alguns a certo momento param, enquanto outros continuam e continuam. Eu continuei, embora me lembre de tempos muito frutíferos, outros realmente não produzia nada.
Não me considero um mercenário da ilustração, é algo que faço porque gosto. Às vezes, de uma forma muito pontual, sim, faço algum trabalho comercial, mas não é habitual. Nunca estudei arte, exceto o pouco que nos ensinaram na escola. Meu aprendizado foi autodidata e baseado em insistir no que não fiz tão bem; copiando, observando e repetindo algo até obter bons resultados. No início, quando era jovem, tive a sorte de ter quadrinhos franceses ou belgas como Spirou e Tintin em minha casa.
Mas o que realmente me fez gostar de desenhar, era minha mãe. Ela sempre se interessou pelas artes – desenhava e pintava -, mas o melhor é que gostava de quadrinhos, e assim eu tinha acesso a HQs adultos como Metal Hurlant(conhecido como Heavy Metal nos EUA), Cimoc e outros da mesma linha. Isso virou minha cabeça e criei interesse por ficção científica, convertendo-me a fã do mestre Moebius, um dos meus favoritos. Com tudo isso em mente, comecei copiando cartoons repetidamente, até o ponto de desenhar minhas próprias cenas e projetos, e ao longo do tempo e anos isso tem evoluído e mudado, mas sempre com temas de ficção científica e fantasia.
Atualmente trabalho no Domestika como Diretor de Criação, mas principalmente fazendo design de produtos para web, algo mais ou menos distante dos motion graphics nos quais trabalhei por mais de 13 anos no COCOE, um estúdio multidisciplinar que mantenho com meu sócio David Duprez. Mas há 3 anos estou 100% dedicado ao Domestika.
LL – Você é um artista experiente. Qual a coisa mais importante que sabe hoje, mas gostaria de ter sabido quando começou?
M – Nunca me considerei um grande artista ou sequer um artista. Constantemente noto minhas falhas em assuntos específicos de desenho, o que, felizmente, não me impede de tentar e insistir em fazê-los. Tenho dificuldades em desenhar mãos, corpos completos ou poses dinâmicas. Quando era jovem, gostaria de ter sabido que quando nos tornamos mais velhos, começamos a ter cada vez menos tempo para dedicar ao que gostamos e gastamos mais e mais tempo resolvendo a vida (que algumas vezes é agradável e outras…). Teria gostado de saber que há menos tempo para aprender coisas novas também. Assim teria feito artes plásticas em vez de matemática (que é o que fiz na universidade). Mas não quero parecer pessimista, há sempre espaços e momentos em que me sento com um bloco de desenho ou com o iPad no sofá, e assim me dedico. Mas principalmente, acho que teria gostado de saber que nem tudo pode ser aprendido sozinho, que é bom ser influenciado, que é muito bom compartilhar o que se sabe com os outros e aprender também com os outros. Foi algo que levei muito tempo para entender, e que sem dúvidas teria me ajudado muito.
LL – Além de ser um ilustrador, você também é animador/motion designer. Como se define como artista e como define seu estilo artístico?
M – Como artista (se realmente sou isso), diria que sou multidisciplinar. Além de ilustração ou desenho, gosto muito de tocar piano e compor; gosto de design gráfico, de fotografia, de programação e matemática. Mas na realidade, normalmente gosto de enfrentar novos desafios. Isso pode ser bom ou ruim, porque nem tudo pode ser feito direito; mas ninguém consegue lutar contra algo que surge dentro de si mesmo. Então, não posso definir-me como artista, nem que tipo de artista sou. Mas, sim, vejo que há uma tendência em tudo o que faço, uma linha que me leva ao minimalismo (embora agora esteja num momento de luta interna para sair da zona de conforto); uma linha que me leva a procurar o contrapeso em minhas composições, onde tudo é coordenado. Essa tendência é o que me faz sentir confortável, o que me faz sentir bem quando termino algo novo. Ilustrações contrabalançadas, tipografias com o kerning apropriado, impacto visual diante de uma forma sem muitos adornos, paletas de cores reduzidas… Tudo isso é o que me preenche.
LL – Suas ilustrações me fazem lembrar os trabalhos do mestre Koji Morimoto (o Forest Warrior/REDsistence 71 principalmente). Quais são suas maiores inspirações?
M – Fico feliz por você mencionar Koji Morimoto, porque ele é um dos meus ilustradores preferidos junto de Moebius, Otomo, Enki Bilal, entre outros… Mas minha inspiração também vem de tudo que gosto, como filmes de ficção científica ou música eletrônica (embora seja um apreciador de Música Clássica e Música Clássica Contemporânea). Hoje posso dizer que sofro de “Digital Diogenes”, adoro coletar imagens da internet – muitas das ilustrações que faço ultimamente são baseadas em fotos que encontrei aqui e ali. Gosto muito de manter referências de fotos de modelos de moda ou imagens interessantes de conceitos estranhos evocativos (alien, conspiração, revolução, orgânico). Essas referências sempre compartilho em meu Pinterest: pinterest.com/microbians
LL – Por quê “Microbians”?
M – Como lhe disse, sempre fui fã de Moebius e também de seu nome. Muitos anos atrás, no início da internet, eu queria criar um site na GeoCities. Minha ideia era compartilhar alguns personagens que estava desenhando, uma espécie de bestiário imaginário que batizei de Microbians. Embora o projeto tenha dado em nada, quando tive a oportunidade de comprar meu primeiro domínio em 1999 usei esse nome, que já está comigo ao ponto de hoje assinar minha obras como “Micro”.
LL – Atualmente, você atua como Diretor Criativo no Domestika. Qual a qualidade mais importante para ser bem-sucedido no campo criativo?
M – A principal qualidade que qualquer pessoa com intento de ser criativa precisa ter, é estar aberta a aprender com tudo e todos, bem como compartilhar o pouco que sabe com alguém. Quando seu conhecimento é compartilhado, é quando se torna um profissional melhor.
LL – Que dicas daria a aspirantes da área de Motion Design e Ilustração?
M – O principal conselho para dar a alguém que está começando é, novamente, estar aberto ao mundo; disposto a ser embebido em tudo ao seu redor, insistir no que não é fácil até dominá-lo. Esteja aberto à críticas e aprenda a aceitá-la como idéias não destrutivas, mas como uma alavanca de apoio. Acima de tudo, procurar pessoas para trabalhar em equipe, pois em grupo tem-se mais e melhor conhecimento para ser aprendido.
LL – Qual é o aspecto mais desafiador ao começar um novo projeto? Você possui algum método?
M – Como faço ilustrações para mim mesmo, não as considero como projetos, mas sempre tento procurar um conceito por trás do que produzo, às vezes é fortuito outros pretendidos. Em alguns casos, o conceito vem de antemão como uma idéia e às vezes como uma forma de agrupar as ilustrações. Por exemplo, a última série de ilustrações que estou fazendo são práticas e desafios para melhorar meu traço: desenhar uma mão, desenhar uma pose, desenhar um rosto em encurtamento… Mas logo surgiu a necessidade de dar sentido a isso, para que não sejam apenas ilustrações soltas, então de repente cheguei ao conceito, que é mais como uma desculpa: REDsistance, um planeta anarquista onde há diferentes facções que lutam e que estão em contínua rebelião. Vamos ver onde tudo isso me leva, mas por enquanto a viagem começou. Esta nova série é atualmente publicada principalmente via Instagram: instagram.com/microbians_illustration
LL – Quais seus softwares favoritos e por que?
M – Há muito tempo, quando comecei a fazer Ilustrações e não apenas desenhos, usava o Corel Draw no Windows; então, quando migrei para Apple, encontrei o Adobe Illustrator. Considero que o Illustrator não é fácil de lidar, tem muitas coisas ruins herdadas de versões preliminares, mas é muito bom e permite muito controle sobre o que se está fazendo (principalmente quando controlamos seu poder oculto). Sempre vi vantagem em programas vetoriais, que permitem redimensionar o trabalho depois de pronto sem perder qualidade. Depois de fazer muitas ilustrações com o Adobe Illustrator, acabei entediado com a tarefa repetitiva de limpar um esboço e vetorizar, etc. Então deixei de fazer ilustrações por um tempo, porque percebi que gostava muito mais de fazer meus desenhos com uma caneta ou marcador no meu bloco de desenho, do que o processo de clean up. Gosto mais da criação em si. Além disso, notei que estava empacado num estilo que, embora gostasse, não era tão divertido de fazer nem um desafio especial.
Mas no momento estou desenhando muito com o iPad, pois é muito confortável se jogar no sofá e sob essa atmosfera de tranqüilidade desenhar tranquilamente. No iPad baixei quase todos os aplicativos de desenho, e o que mais gosto é Procreate; um aplicativo incrivelmente versátil que é simples e direto. Eu realmente gosto de desenhar assim.
LL – Alguns artistas desenvolvem formas de se manter sempre em crescimento; seja artisticamente ou humanamente. Diga-nos como se mantém criativo, ativo e, claro, vivo!
M – É uma questão difícil, porque é complicado estar na onda. Acho que cada um encontra seu caminho, mas talvez no lado humano poderia dizer que o principal é não ter medo de nada, ser encharcado por tudo o que existe e manter uma atitude crítica em relação a tudo. E no lado criativo, talvez seja algo semelhante.
RAPIDINHAS
LL – Trabalhar de dia ou de noite?
M – Gosto de desenhar a noite, quando a família dorme.
LL – Ilustração Digital ou papel e lápis?
M – Papel, lápis e iPad+Apple Pencil – mas longe do computador, com certeza.
LL – Piano ou Cello?
M – Piano, mas se algum dia tiver tempo de aprender Cello…
LL – Pelé ou Maradona?
M – Pelé banana – não gosto de esportes de modo algum 😉
LL – Xícara de chá ou limonada?
M – Xícara de chá, especialmente agora com meu novo vício no chá japonês Genmaicha.
Última Pergunta: alguma dica que gostaria de compartilhar com os leitores do Layer Lemonade?
M – Abram os olhos, ouçam a música, desenhem feito macacos.
O Layer Lemonade agradece imensamente ao artista Microbians por ter cedido essa entrevista (sua prontidão foi invejável), e deseja todo sucesso do mundo. Aos interessados, abaixo as redes sociais e portfólio:
microbians.com | Facebook | Instagram | COCOE | Curso de After Effects no Domestika