Pier Paolo é um designer, ilustrador e animador brasileiro com sede em Florianópolis. Atualmente trabalha como freelancer para grandes empresas e produtoras do mercado. Em fevereiro de 2014, Pier lançou ao mundo o clássico Cinematics, projeto pessoal que homenageia grandes obras do cinema mundial, ganhando uma notória visibilidade em sites, blogs e Staff Pick no Vimeo.
Layer Lemonade: Primeiramente, muito obrigado por compartilhar seu tempo e conhecimento conosco. Seja-bem ao Layer Lemonade! Vamos lá, o que te levou a querer trabalhar com animação e motion design? Você lembra como tudo começou e quando ouviu esses termos pela primeira vez na sua vida?
Pier Paolo: Fala galera, eu que agradeço pelo convite. Acompanho sempre o blog, parabéns pelo ótimo trabalho que vocês fazem!
Vamos lá: eu comecei a trabalhar com vídeo em 2006, na produtora de um amigo, em Caxias do Sul. Ele me ensinou os conceitos básicos de edição de vídeo e me mostrou como usar o Premiere, onde eu editava vídeos institucionais e fazia os letterings e animações de logos. Aos poucos fui tendo contato com o After, e começando a usar ele pra fazer correções e comp nos vídeos, e tentando melhorar as animações que eu já fazia no Premiere. No início de 2013 mudei pra Florianópolis, onde comecei a trabalhar exclusivamente com design e animação.
LL: Existe algum bloqueio na sua carreira como artista que você deseja quebrá-lo mas tem dificuldade em fazer?
PP: Sinto falta de trabalhar com uma equipe maior, acho isso uma experiência de aprendizado bem positiva. Parece que todo mundo que trabalha com animação no Brasil virou freelancer. Acho que isso aconteceu pelo fato de muitas produtoras aqui do país explorarem os funcionários com jornadas de trabalho absurdas, e muitas vezes nem pagarem hora extra. Eu já ouvi em uma produtora que trabalhei que “eu tinha horário pra entrar, mas não tinha horário pra sair”. Como assim, e o restante da minha vida, como eu faço? Eu espero ver cada vez mais o pessoal da nossa área dizendo não pra esse tipo de coisa, inclusive quem está começando. Quem sabe assim apareçam mais estúdios agradáveis para trabalhar aqui no Brasil, onde você é bem remunerado e não precisa abdicar do restante da sua vida.
LL: Você sempre foi bem ativo com relação a redes sociais, seu Instagram, por exemplo, é repleto de maravilhosos estudos e trabalhos que inclusive você compilou em um “Insta Reel” ano passado. Qual o seu critério para escolher o que de fato estudar e, como manter essa constância de trabalhos praticamente semanais e/ou diários?
PP: Além de estar sempre explorando novos visuais, eu tenho procurado estudar ferramentas que possibilitam uma maior liberdade artística e um maior controle na execução, como o Houdini. Esses projetinhos pessoais geralmente derivam de algo que eu estava estudando ou explorando.
LL: Ainda sobre projetos pessoais, vamos falar um pouco sobre a importância do Cinematics para a sua carreira. Podemos considerá-lo um divisor de águas na sua jornada como profissional, né?! Como surgiu a ideia e quanto tempo você levou para conceber o projeto por completo?
PP: Eu sempre gostei muito de cinema, e achei que podia ser interessante fazer algo conectando vários filmes clássicos. Como na época eu estava trabalhando fixo em um estúdio, acabei demorando algo em torno de 3 meses, pois trabalhava no projeto apenas quando tinha tempo livre.
LL: Qual seu processo ao abordar um novo projeto?
PP: Geralmente eu faço um moodboard de referências visuais de acordo com o briefing, e se possível busco essas referências fora da esfera da animação/motion. Gosto de aprovar todas as etapas com o cliente, do styleframe até o render final. Isso minimiza refações e trabalho desnecessário, e garante que eu esteja na mesma linha de pensamento do cliente.
LL: Quais ferramentas você utilizou para trabalhar no “Urban $tyle Respect SP”?
PP: Os patterns, simulações e desenhos generativos foram feitos no Houdini. As animações tradicionais foram feitas no Photoshop e todo o restante no After.
LL: Se pudesse escolher qualquer lugar no mundo para trabalhar, para onde iria e por quê?
PP: Existem vários estúdios europeus que eu gosto muito, como o Zeitguised, Aixsponza, ManvsMachine, Six n Five, entre outros. Acho os trabalhos feitos por lá mais inovadores, tanto na parte estética quando na parte técnica. Se algum dia eu sair de Floripa, vou tentar a sorte praqueles lados.
LL: O mercado é repleto de novos talentos, clientes e trabalhos maravilhosos. Se você pudesse descrever, qual seria o projeto/cliente dos seus sonhos?
PP: Eu gosto bastante de trabalhar com clientes da indústria da música e moda. Geralmente estes trabalhos tem uma liberdade maior e mais possibilidades visuais.
LL: Quais foram as maiores dificuldades que você enfrentou como freelancer? Se pudesse voltar no tempo, faria algo diferente?
PP: Minha maior dificuldade como freelancer é o gerenciamento de tempo entre os trabalhos que estou produzindo e todas as outras tarefas, como e-mails, reuniões, financeiro, prospecções, etc. Além disso eu sempre estou estudando algo novo ou fazendo algum curso/workshop. Às vezes o dia parece curto demais!
LL: Como você faz para manter o equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal?
PP: Procuro ser o mais produtivo possível durante o horário de trabalho. Não parece, mas aquela olhadinha no Facebook ou em algum blog de animação consome tempo demais. Já faz algum tempo que aboli essas coisas do meu horário de produtividade, e isso faz uma diferença enorme.
LL: Quais são os tipos de projetos que você está procurando assumir? O que podemos esperar da Le Pop no futuro?
PP: Gosto bastante de me envolver na direção de arte dos projetos, e tenho buscado técnicas diferentes de animação. Provavelmente um mix de tudo!
LL: Qual mensagem poderia deixar para os nossos leitores que estão começando agora nesse mundo da animação e motion design?
PP: Meu conselho é estudar bastante design e storytelling, entender o porquê das coisas funcionarem visualmente e como contar histórias com imagens. Construir uma base sólida de animação 2D, entender bem como funcionam as curvas de animação, ritmo, tempo e movimento. Animação de personagens também é muito importante pra desenvolver essa sensibilidade artística, mesmo se o foco não é trabalhar apenas com personagens.
RAPIDINHAS
LL: Um filme de animação favorito?
PP: La Luna
LL: Uma citação que você leva pra vida?
PP: “Work? It’s just serious play.” , do Saul Bass. É importante manter esse estado de espírito pra continuar evoluindo como artista e ao mesmo tempo ter satisfação com a profissão.
LL: Trabalhar de dia, tarde ou noite?
PP: Se possível durante o dia, mas as vezes não tem jeito… tem aquele prazo apertado, ou aquela ideia que vem na madrugada… Aí tem que fazer, hehehe!
LL: Speed graph ou Value graph?
PP: Speed graph!
LL: 2D ou 3D?
PP: Isso depende muito do visual que se está buscando, mas particularmente gosto de trabalhar tanto em 2D quanto em 3D.
LL: Mouse ou Tablet?
PP: Depende da tarefa que estou fazendo no momento, mas acho a caneta bem mais ergonômica.
LL: Cerveja ou Limonada?
PP: Cerveja… Cheers! =)
O Layer Lemonade agradece imensamente ao Pier Paolo pela entrevista! Desejamos todo sucesso do mundo!