Se compare

Quando comecei em minha carreira, costumava me comparar com outros ilustradores e artistas da área criativa. Obviamente isso me deixava triste e ao desabafar com amigos ouvia sempre a mesma resposta: “Você não pode se comparar com outras pessoas. Se compare somente com você mesmo”. Mas esse conselho nunca era seguido e eu frequentemente continuava me comparando com novas pessoas causando uma extrema insatisfação de insuficiência. Até que eu pensei: Deixar de se comparar é impossível. De que outra forma posso saber até onde posso chegar com meus estudos? Você se compara porque quer saber até onde pode ir. Se compara para saber se está indo na direção certa. Se compara porque quer descobrir se você consegue fazer o mesmo.

É inevitável. A gente se compara o tempo todo, durante toda nossa história. Seja para descobrir se estamos doentes, ao nos comparar com pessoas saudáveis seja para escolher onde gostaríamos de estar daqui há alguns anos. Durante toda nossa vida a gente faz inúmeras comparações e relaciona situações, relacionamentos, pessoas e objetos com informações que temos em mente com o objetivo de escolher o que é melhor para nós. Ou você nunca passou horas comparando produtos na internet lendo comentários a fim de escolher qual a melhor compra? É perfeitamente normal e não temos como fugir disso.

O ponto então seria o pensamento que você tem sobre essa comparação e com quem você costuma se comparar. Eu percebi que me comparava com muitas pessoas que nem sequer viviam em meu país. Pessoas que muito provavelmente tiveram acesso a informação antes de mim ou que tiveram apoio profissional desde cedo. Logo, eu estava sendo injusta comigo mesma. Outro ponto que identifiquei como tóxico foi que eu costumava me comparar com inveja e não com admiração. Justo por saber que aquela pessoa teve mais privilégios do que eu, eu sentia raiva por não ter tido também e ficava nesse loop agonizante de “poderia ter sido diferente”. No entanto, não podemos mudar o passado. Isso é outro fato e o quanto antes aceitar isso, melhor. Aos poucos fui investigando e descobrindo que eu mesma estava criando padrões na minha própria cabeça que eram inatingíveis e que me fariam ficar de braços cruzados amaldiçoando o mundo ao invés de simplesmente agir e mudar minha própria realidade.

E é ai que entra outro fato importante: Nosso cérebro quer o máximo de conforto possível. Gastar energia, evolutivamente falando, está relacionado a conseguir nossas necessidades fisiológicas básicas, como se manter vivo e comer. Ele vai fazer de tudo para que você continue de braços cruzados, se possível deitado em uma cama. Isso inclui te sabotar e diminuir sua auto estima para que você não faça nada.

Se comparar, portanto, é uma questão de pensamento. Ou como muitos outros gostam de chamar, de mindset. Você pode escolher um pensamento destrutivo ou construtivo. Então o problema não está necessariamente na atividade de se comparar e sim no caminho que você escolhe ao fazer isso. Portanto, é inegável ter em mente que:

Nos temos nossa própria história e isso é ótimo: Se comparar com pessoas que tiveram histórias completamente diferentes da sua pode ser um pouco perigoso. Você precisa ter discernimento e conseguir separar as duas realidades com maturidade, caso contrário, irá se frustrar e cair naquela situação de amaldiçoar tudo e todos e não fazer nada. No entanto, você tem vivências que são somente suas e que podem acrescentar pontos de vistas únicos em seu trabalho. Identificar esses pontos positivos podem ajudar na sua jornada e em qual rumo seu trabalho vai trilhar.

Observar nossos pensamentos para ver o que faz sentido e o que não faz: A gente precisa saber quando nosso cérebro está tentando nos limitar. Quando pensamos coisas como “eu sou inútil” ou “eu não sou suficiente”, criamos uma barreira na nossa auto estima que nos impede de ter forças para sentar e estudar. Tente ser mais agradável consigo mesmo. Ao invés de estudar 4 horas com raiva e amaldiçoando sua realidade, tente estudar 40 minutos por dia e se dando uma recompensa para seu cérebro depois. Reconhecer que está fazendo seu melhor é importante, a gente precisa nos tratar como tratamos pessoas que amamos.

Você pode ir no seu tempo, existe mercado para todos os níveis: Demorei muito para aprender esse fato. Me comparava muito com pessoas mais experientes e mais novas do que eu e quando pensava que teria que correr o dobro para alcançar o nível dessas pessoas ficava cansada e acabava não me esforçando para evoluir. Até que eu vi que realmente existe mercado para todos os níveis e que você pode ir escalando aos poucos, conversar com pessoas sobre isso ajuda a enxergar essa realidade.

Se você seguir muitas pessoas de realidades diferentes nas redes sociais pode ser que a auto sabotagem ocorra mesmo sem querer: Mesmo sabendo disso tudo que comentei acima, existe uma coisa muito poderosa que nos faz ter um pré-julgamento da realidade: Nossas bolhas. Sabe aquela sensação onde você vê todo mundo feliz nas redes sociais e fica incomodado por não estar igual? Bem, a gente saber que essa felicidade toda é enganosa, até porque ninguém posta seus dias ruins online. Por tanto, minha dica nesse item é tentar acompanhar e seguir pessoas mais semelhantes com sua realidade. Não precisa parar de seguir seus artistas favoritos por causa disso, mas é importante ter em nossa convivência pessoas semelhantes a nós, que estão buscando coisas parecidas, estudando e aprendendo com tanta devoção quanto nós. É necessário respeitar nossa história e a dos outros também.

Se compare com pessoas próximas a você com admiração: Para mim, é realmente importante saber até onde podemos ir. É empolgante pensar até que podemos sim atingir níveis muito bons pois nossa profissão é uma das únicas onde o estudo é visivelmente recompensado. Durante minha jornada conheci pessoas muito boas, gentis e que também eram ótimas no que faziam como profissão. Isso me inspirava a seguir o mesmo caminho pois eu pensava: “Se essa pessoa conseguiu, eu também consigo”. Essa época foi muito boa pois foi quando eu descobri o IconicCast (um podcast que entrevista diversos artistas de áreas diferentes e eles contam suas histórias e como conseguiram chegar onde estão hoje) e muito deles tem histórias muito emocionantes e próximas da gente. Surpreendentemente aproximar nossa vida pessoal de artistas que antes a gente só conhecia de trabalho, nos trás mais inspiração e motivação para continuar e não o contrário.

E para terminar essa reflexão: Sim, eu concordo que precisamos nos comparar com nós mesmos, por isso eu mantenho um diário com minhas metas e objetivos pessoais sempre do meu lado. Relatar sua história em algum lugar, seja em diários ou em blogs também ajudam nessa prática. Mas também concordo que devemos nos comparar com lugares que queremos alcançar. Desde que seja com o pensamento correto, temos só a acrescentar a nossa jornada.

Espero que essa reflexão ajude alguém e se você já passou por isso, comenta aqui em baixo caso tenha se identificado. Abraços a todxs 🙂

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