SÍNDROME DO IMPOSTOR PARTE 2

Este artigo é um resumo do que foi abordado na última live do Mograph News, em que a bancada do Layer Lemonade se reuniu uma segunda vez para falar sobre a síndrome do impostor dos profissionais do motion e da animação.

A síndrome do impostor não se restringe apenas à vida profissional, mas falando de trabalho: será que o mercado pode ser considerado responsável por nós nos sentirmos incapazes? Essa síndrome parte desse pressuposto também, de que nós somos incapazes de executar uma certa função, de pertencer a um certo lugar, de frequentar certas rodas sociais, e por aí vai. Essa é uma questão muito complexa, mas é evidente que o que mais se vê são vagas que exigem muito das pessoas; exigem um nível absurdo com diversas funções que, muitas das vezes, o salário nem é suficiente para cobrir tudo que é pedido. Esse pode ser um ponto que faz surgir a síndrome do impostor em algumas pessoas, que se sentem incapazes quando se deparam com essas vagas, mesmo que elas sejam absurdas. Então essa pergunta pode ser interpretada como retórica, pois, sim, o mercado é responsável por isso. O mercado não é somente uma entidade, ele é formado por pessoas, e elas literalmente criam situações que fazem com que a gente crie uma percepção de que não somos bons o suficiente ou que não vamos dar conta.

O que pode gerar uma sensação de incapacidade também é a demanda de trabalho ser feita de maneira desorganizada. A partir do momento que essas demandas são para mais de um profissional, tentar fazer tudo sozinho com pouco planejamento pode assolar todo o processo, causando uma sensação de impotência. E se tratando de publicidade, que é o mercado que a maioria dos profissionais atua, grande parte dos clientes e chefes estão interessados apenas em números, entrega e quantidade de posts, descartando a qualidade final dos projetos. Então, por mais que os profissionais que atuam nas agências e produtoras com essa mentalidade queiram dar o seu melhor, eles não tem oportunidade e nem tempo. Sem falar que muitos desses profissionais fazem hora extra regularmente, com as famosas pizzas pós expediente, e com isso fica muito difícil investir tempo nos estudos, que pode até deixar o profissional estagnado na parte técnica, causando uma depreciação pelo próprio trabalho; entra em um loop de apenas fritar pastel trabalhar nas mesmas coisas e dormir.

Ironicamente, por mais que o nosso mercado seja dado como criativo, pode-se dizer que ele é o menos criativo que há, devido à maneira que o trabalho é conduzido, na maioria dos casos. Formas restritas de briefing e execução, prazos apertados, urgência, alto nível de produtividade, dentre outras limitações, são processos anticriatividade. Então essa demanda não faz o menor sentido, considerando que precisamos ser criativos. Isso pode atiçar a síndrome do impostor, pois, mesmo que você consiga resolver essa demanda, não sobra tempo para mais nada; nem para estudar, fazer um projeto autoral, curtir mais a área e sair um pouco do ranço dos projetos repetitivos. Surge então o processo de comparação com outros profissionais, que no geral é algo depreciativo. A pessoa vê outros profissionais produzindo seus projetos, estudando e evoluindo, daí gera uma autocobrança de que é necessário fazer o mesmo, sem se dar conta de que o problema não é por falta de vontade, e sim por falta de tempo e energia, porque no trabalho que está é muito sugada e o tempo que sobra é o de descanso, merecido e necessário. Por não dar conta de estudar e fazer projetos autorais, a pessoa não consegue perceber a própria evolução e ficará com a impressão de que não é capaz.

Outra coisa que está intimamente ligada à síndrome do impostor, e inclusive a burnout, e já foi citada indiretamente aqui é a urgência dos prazos. Se você não consegue fazer alguma coisa bem feita, você pensa que não tem a habilidade de executar ela. Mesmo que você tenha a habilidade, o prazo pode não permitir uma boa execução do trabalho. Mesmo conseguindo finalizar o projeto, se você não acha que ficou minimamente satisfatório, pode te dar a impressão que você não tem capacidade pra isso. Pode não ser uma questão de habilidade, mas sim do próprio mercado não permitir que essa habilidade aflore. O que acaba aflorando são essas síndromes, provocadas pelo estresse e pressão provenientes dos prazos muito apertados.

Algo que é muito comum de acontecer é se comparar com outros profissionais e, o que é mais absurdo, comparar-se com grandes estúdios e artistas. Essa comparação pode ser bem perigosa, gerando a sensação de que você não é bom o suficiente e que há pessoas que estão em níveis inalcançáveis. Grandes estúdios têm vários profissionais trabalhando em um mesmo projeto, cada qual executando uma parte específica do todo, e não uma pessoa só fazendo tudo. Mas mesmo que for esse o caso, de se comparar com apenas um profissional, as realidades podem ser muito diferentes. Não faz sentido você, por exemplo, com 6 meses de experiência se comparar com alguém que está há mais de 10 anos trabalhando nessa área. Sem falar que a realidade do mercado pode ser totalmente diferente da sua, pois há profissionais que têm o luxo de ter metas de produção de apenas 3 segundos por semana, por exemplo, se tratando do mercado gringo. Sem falar que em outros países é muito mais comum os profissionais dessa área serem especializados em uma função específica, possibilitando desenvolver melhor essa skill, enquanto que aqui no Brasil ser generalista pode se tornar uma questão de necessidade para conseguir atuar no mercado, impossibilitando que haja tempo suficiente para evoluir especificamente em algo. Então, se você quer se comparar com alguém, que seja com você mesmo; saiba reconhecer sua evolução e perceba o quanto já aprendeu e melhorou em vários aspectos no decorrer do tempo. Cada pessoa tem seu ritmo e os caminhos são completamente diferentes para chegar até onde está. Tenha respeito pelo seu processo, sua aprendizagem e pela sua história.

Durante a live, uma enquete ficou disponível para quem acompanhava ao vivo poder votar. A pergunta da enquete foi “Você se compara com outros artistas?”, e o resultado foi:

  • Sim, e me deprecio sem saber – 47%
  • Sim, mas sem me depreciar – 38%
  • Não, porque é bobagem – 10%
  • Não, porque sou foda – 3% (parabéns pela autoestima)

Assista a live na íntegra (disponível acima, no começo deste artigo) para conferir todo o conteúdo discutido a respeito desse tema. Contamos com a sua presença na próxima live do Mograph News, na quarta-feira às 16h.

O Mograph News é realizado nas quartas-feiras às 16h (no canal do Youtube), feito pelos membros da staff do Layer Lemonade, que são profissionais que atuam na indústria de animação e motion design. As lives iniciam sempre com algumas notícias, vulgo rapidinhas, sobre as novidades do Layer Lemonade e da indústria de animação e motion design. Logo após, são lidos alguns comentários feitos nas postagens do Layer Lemonade nas redes sociais, e a bancada discute acerca deles, cada qual fazendo suas considerações. Há um assunto diferente em pauta a cada semana, sugerido pelo chat que acompanha ao vivo ou pela própria bancada. Os membros da bancada são: Dhyan Shanasa e Ester Rossoni (os Supernova Duo), Anderson AlvesGabriel FelixGui JorgeLouise BonnePola Lucas e Rafael Arame.


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