Papo Lemonade | Brasileiros no Canadá: Rafael Rossetti

Com um crescimento cada vez maior da indústria do cinema, animação, e games em cidades como Vancouver, Montreal e Toronto,  o Canadá tem sido um dos principais países de imigração para designers, animadores, vfx e concept artists do mundo todo (muitos deles brasileiros) nos últimos anos.

Boa parte desse crescimento foi impulsionada pela mudança ou expansão de muitas empresas tradicionalmente alocadas na Califórnia. Por ser também um país conhecido por ser bastante amigável, comparado com outros a países, aos imigrantes, o Canadá é um lugar dos sonhos para muitos: maior oportunidades de emprego na área criativa, uma cultura aparentemente aberta a estrangeiros, e condições de vida mais estáveis e baratas.

O Layer Lemonade quis saber, então, com alguns brasileiros que já estão lá a alguns anos o quanto dessa imagem é mais mito que realidade, e como tem sido a experiência desses brasileiros ao mudar de casa e cultura.

Nosso papo dessa vez foi com o Rafael Rossetti, artista 3d trabalhando na indústria de games, e a 5 anos no Canadá.

 

Rafael Rossetti

 

Layer Lemonade – Oi Rafael! Primeiramente, conte pra gente, como você decidiu que iria seguir carreira no 3d? E como vocês aprendeu: escolas, cursos online, estágios, freelas, estudando sozinho?

Rafael Rossetti – OK, Eu trabalho com 3d desde 2007, mas meu primeiro contato com 3d foi lá atrás em 1999, “brincando” de fazer mods para Counter Strike. Em 2005 eu fiz 1 ano de modelagem e animação para games na escola Technology and Training, no Rio de Janeiro, e o nosso professor, Andre Kling plantou na gente a semente de que pra progredir na área de games você precisa sair do Brasil.

No Brasil eu sempre trabalhei com advertisement, minha primeira experiência foi no estúdio Platinum FMD, no Rio de Janeiro. Aprendi bastante lá, principalmente que o buraco é bem mais embaixo no mercado. De lá eu trabalhei em diferentes estúdios, na maior parte do tempo com advertising pra arquitetura. Mas eu sempre quis trabalhar com games, minha paixão.

Um bocado do que eu sei aprendi “de orelhada”… Fuçar é importante. Hoje é MUITO mais simples ter acesso a informação, muito conteúdo de qualidade pela internet. Mas muito se aprende trabalhando com outras pessoas.

LL- Quais são suas maiores influências artísticas e profissionais, aquelas pessoas ou projetos que te inspiraram a não desanimar e seguir em frente?

Rafael Eu SEMPRE gostei de games e de desenhar, esculpir e montar maquetes. Isso aliado com o fato que eu gosto de computadores, a escolha foi meio natural. E seguir em frente não é bem uma escolha. Desistir não é opção.

Rafael Rosseti. Pra ver 3d interativo: https://www.artstation.com/artwork/ayVyL

 

LL- Como você foi parar no Canadá? Aonde trabalha no momento?

Rafael Eu vim pra cá pra estudar (na época achei que era o caminho mais seguro pra vir, estudar, trabalhar aqui) na Vanarts, em Vancouver onde após um ano me graduei no curso de Game Art and Design. Trabalhei lá por uns 7 meses como professor assistente, e até me ofertarem uma posição como professor de 3d Studio Max lá, mas devido a complicações pessoais (e péssimas decisões…) eu tive que abandonar a oferta… de lá pra cá eu trabalhei como freelancer por um tempo e trabalhei nos estúdios Archiact, Kemojo e hoje trabalho como Character Artist na Hothead Games, em Halifax.

LL- Como foi o processo para conseguir o visto de trabalho? Quanto tempo demorou?

Rafael Meu processo foi: Estudar aqui, conseguir diploma, um visto de trabalho pós graduação pra mim e minha esposa, onde ela conseguiu um emprego fulltime permanente (enquanto eu pulava de posição em posição…) o que nos possibilitou iniciar o processo de visto de permanência.

Após 3 anos de iniciado o processo a gente finalmente recebeu os vistos de permanência. Foi um processo longo e árduo, mas nós conseguimos.

LL- Comparando o mercado no Brasil e no Canadá, quais são as maiores diferenças que vocês perceberam:

  • na relação dos clientes com os estúdios/profissionais ;
  • nos tipos de projeto e nos prazos ;
  • nas relações trabalhistas e na remuneração ;
  • no comportamento dos colegas de trabalho com relação a questão trabalho x vida pessoal ?

Rafael Cliente é cliente em todo lugar: Eles sempre esperam o máximo possível pagando o mínimo necessário. Mas aqui o profissional é tratado como tal. Uma coisa EXTREMAMENTE importante aqui é quanto a sua hora custa, e tudo gira em torno disso. Como aqui e no Brasil eu trabalhei em áreas diferentes é difícil comparar.

Relações trabalhistas aqui e remuneração são radicalmente diferentes comparados com Brasil. No Brasil impera essa mentalidade do dono do studio enriquecer às custa do seu trabalho enquanto aqui existe a noção de que você é parte vital do produto final e, portanto, parte dos ganhos são compartilhados contigo. Aqui você é reconhecido como profissional, e tratado como tal. Fora que a qualidade de vida é extremamente mais alta aqui…

Também existe a CLARA noção de que você PRECISA ter um bom equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. Você não se sacrifica em nome do trabalho: Você faz o seu melhor mas todos respeitam a sua vida pessoal. (Boas empresas até esperam isso de você. Empregado feliz e descansado é empregado produtivo…)

LL- E o que não muda ?

RafaelO que você aprende.

Rafael Rossetti. Para ver 3d interativo: https://www.artstation.com/artwork/XDBVa

 

LL- O que você mais gosta da vida no Canadá? O que sente falta do Brasil?

RafaelOnde começar? Eu me sinto seguro, consigo prosperar com os frutos do meu trabalho, dificilmente alguém tenta te passar para trás (brasileiro é dose…), todos se respeitam e são cordiais um com o outro, o seu espaço pessoal é muito importante…

E sinceridade? Não muita coisa. Tudo o que eu preciso e quero eu tenho aqui.

LL- Quais vocês diriam que são as maiores ilusões das pessoas aqui quando falam sobre ir trabalhar e morar fora do Brasil?

RafaelSe pretendem sair do Brasil, deixem o MALDITO jeitinho para trás. Aqui malandragem não tem chance. Regra é regra. Ponto final. Eu vi muita gente se dando mal achando que pode passar os outros para trás e sair impune. Aqui não existe impunidade. Se você apronta, você paga.

LL- Quais foram/são as maiores dificuldades pra você como estrangeiro em um novo país?

RafaelNÃO É FÁCIL. A adaptação cultural pode ser demais para alguns. Eu não sofri muito pois sempre fui muito independente, mas muito brasileiro não aprende a “cortar o cordão umbilical” com a família (principalmente no ponto de vista afetivo). Solidão é real. Os amigos que você faz aqui não serão tão próximos de você como costuma ser no Brasil. Por outro lado, muita gente tem medo de sofrer preconceito aqui. Mas isso não acontece aqui no Canadá. Quase todo mundo aqui é imigrante ou filho de imigrante. Aqui as pessoas te avaliam pelo seu trabalho e pela sua ética pessoal, não pela cor da sua pele.

LL- Qual o melhor conselho que recebeu de alguém na sua área que gostaria de passar adiante para quem ainda está começando, ou que conselho você mesmo daria ?

RafaelESTUDE. Não tenha medo de perguntar. Encha o saco de quem sabe. Quem não pergunta não aprende.

Rafael Rossetti. Para ver 3d interativo: https://www.artstation.com/artwork/kwL9y

 

E agora nossas Rapidinhas!

LL- 24fps ou 30 fps?

Rafael Do que vocês estão falando? 60 fps NO MÍNIMO! (pc masterrace mode on)

LL- Animação realista ou cartoon?

RafaelDifícil dizer, não sou animador…

LL- Mac ou Windows?

RafaelWindows, é óbvio (para game developers)

LL- Inverno Canadense ou verão Brasileiro?

RafaelInverno Canadense é fácil. Tá com frio? Põe mais roupa. Continua com frio? Põe MAIS roupa…

LL- Limonada ou chá?

RafaelLimonada? Quando tem briga na feira?

O Layer Lemonade agradece enormemente ao nosso amigo Rafael por dividir um pouco do seu tempo conosco nesse papo.

Muitíssimo obrigada e boa sorte na nova casa!

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