Essa é uma tradução livre do artigo “Trying to find a balance”, escrito por Laura Alejo para o Motionographer em 29 de Março de 2017.
Nota do Motionographer: tentar encontrar equilíbrio na nossa indústria é difícil. Quando podemos juntar negócios e prazer com sucesso, é uma vitória. Por um lado, o trabalho nunca parece trabalho, mas você sempre está… Bem, trabalhando. Pode ser um ciclo vicioso que nos afeta, cada qual a sua maneira. Existe um motivo pelo qual o tema do equilíbrio entre o trabalho e vida pessoal ser discutido tanto ao longo dos anos. Neste artigo impressionante e honesto, a talentosíssima Laura Alejo dá uma perspectiva sobre o que é ser uma das principais artistas criativas de Nova York à medida que sua família cresce, suas perspectivas mudam e você trabalha para manter o que mais importa.
Tentando achar o equilíbrio.
Como muitos outros fizeram, desembarquei em Nova York alguns anos atrás com um portfólio eclético, alguns contatos na indústria de Motion Design e muita motivação. Usando isso com sabedoria – e não graças ao meu inglês muito pobre -, consegui meus primeiros trabalhos e acabei entrando na Hush como seu primeiro empregado; aprendendo, agora de verdade, os obstáculos da profissão. Foram quatro anos extremamente ocupados e inspiradores. Depois disso, procurando por mudanças, comecei minha carreira como freelancer. Trabalhei em vários estúdios diferentes em Nova York. Gostei da emoção, da adrenalina do desconhecido, sentada em frente a um computador em um novo lugar com um novo time. Um, dois, três, VAI! Lutando contra o medo e experimentando de forma não formulada como chegar a um novo visual. Longos dias e grandes expectativas. Eu amei. Foi a melhor época para conhecer novas pessoas, aprender com os outros, sair para beber, ser boba enquanto esperava por renders de última hora e reunir-me com a galera do motion graphics de NY. “Party Hard – Work Harder”, como costumávamos dizer.
Aleatoriamente, consegui alguns projetos remotos e naquela época uma amiga havia alugado um espaço para um estúdio muito perto da minha casa, então decidi me mudar. Ao mesmo tempo, as prioridades começaram a mudar, meu marido Marcus e eu decidimos que queríamos uma família maior. Estar no estúdio foi bom, consegui administrar meu tempo e, como freelancer, estava fazendo um bom dinheiro. Pensei longamente sobre o futuro, por que e como queríamos que nossas vidas mudassem para acomodar um filho. Como minha carreira profissional será afetada por isso? Quais foram as minhas opções para combinar maternidade e carreira?
Levamos dois anos para conceber Ona e Mars, e preparando sua chegada comecei a construir um plano baseado em certas prioridades:
- Fazer dinheiro e ficar no topo das minhas finanças.
- Ter flexibilidade.
- Ficar por perto e aproveitar minha rotina diária.
- Fazer um bom trabalho.
O “bom trabalho” estava no final da lista, porque nem pensava em qualidade. Fiquei concentrada em ser contratada. Estava no modo “precisamos fazer ISSO funcionar”, e a vida é ASSIM. Ser de repente uma família de quatro pessoas em Nova York, sem outros parentes no país e nenhum tipo de apoio financeiro, não é fácil.
Eu sabia que precisava voltar a trabalhar por dois grandes motivos: dinheiro e saúde mental.
Neste ponto, eu estava sendo contratada constantemente, trabalhando remotamente na maioria das vezes. Os tipos de projetos eram os mesmos de antes: design, AD ou produzir peças inteiras. Foi difícil dar conta, trabalhando arduamente e tendo a convicção de que poderia fazer essa situação funcionar se fosse fundo. Os gêmeos eram esperados para meados de Fevereiro, então meu plano era desacelerar em Dezembro e me divertir fazendo cerâmica enquanto esperava. Nasceram dois meses antes da véspera de Natal. Foi um momento assustador e emocionante. A magia aconteceu, minha bela família, minha nova realidade. Hora de esperar, sonhar e admirar. Nessa época, dediquei algum tempo à minha cerâmica inacabada, mas não pensei uma vez em Motion Design. Eu sabia que o trabalho voltaria organicamente e todos os meus clientes sabiam o que estava acontecendo.
Resposta automática de licença de maternidade:
Olá,
Muito obrigada por me contactar!
Tenho orgulho de anunciar que sou uma nova mãe, nossos gêmeos nasceram na véspera de Natal e eles são o meu projeto mais importante e desafiador. Planejo me afastar do design e ilustração neste inverno e voltarei na primavera, pronta para novas aventuras. Se você tiver um projeto que gostaria de discutir, começando em torno de fevereiro / março, compartilhe os detalhes em [email protected] e ficarei feliz em revisar e dar uma resposta assim que puder.
Obrigado pela compreensão, aguardo muitas colaborações criativas e gratificantes para este Ano Novo.
E o primeiro email de trabalho interessante, que valeu a pena considerar, veio duas semanas depois que Ona e Mars nasceram. Uma longa cadeia de e-mails seguiu até o projeto finalmente começar no início de Março – os bebês tinham dois meses e meio de idade. Isso aconteceu depois de algumas de idas e voltas, mas eu encontrei apoio, compreensão e tempo extra. O trabalho foi uma segunda rodada de vídeos que eu tinha dirigido artisticamente no ano anterior, então era uma aposta segura, dado as circunstâncias. Consegui trazer meu computador para casa e configurar uma pequena mesa na sala de estar.
Eu amei. Estar por perto e ainda ser capaz de colocar meus fones de ouvido e me transportar para o domínio da abstração, entrar no fluxo da criação.
Felizmente, o trabalho do Marcus permitiu que ele tivesse um horário muito flexível nos primeiros meses, mas dois bebês, ao mesmo tempo, é muito trabalho, então meus pais ficaram aqui para ajudar. Nossa rotina diária era uma contínua troca de fraldas, alimentação e vigília. 24 horas, sem parar, para que o primeiro trabalho fosse como uma libertação.
Lembro-me dos momentos sentada lá, de frente para a janela, criando storyboard, brincando com cores e formas. Ouvindo atrás de mim o som dos bebês, avós, comida preparada, cheiro de leite e receitas familiares. Eu amei. Estar por perto e ainda ser capaz de colocar meus fones de ouvido e me transportar para o domínio da abstração, entrar no fluxo da criação. E amei o fato de que decidi quando e como voltar ao trabalho, que eu pedi por ele e que a equipe do outro lado concordou e respeitou minha nova situação (a propósito, todos eram homens, que ajustaram as coisas ao redor para me manter no projeto. Obrigada!)
Terminei esse projeto em casa enquanto aprendia a ser mãe. Antes que meus pais saíssem, começamos a procurar uma babá. Sabia que precisava da ajuda, senti-me completamente subjugada sozinha com essas duas pequenas criaturas e sabia que precisava voltar a trabalhar por dois grandes motivos: dinheiro e saúde mental.
Naquela primavera, mudamos o estúdio para um novo e excelente espaço no Pencil Factory. Ainda super perto, cheio de luz e com meus amados parceiros: Freddy, Alex, Isaac, Andreina e Isa. Peguei projetos menores e consegui trabalhar todo o verão das 10 as 15hs. Ia ao estúdio todos os dias e quando não tinha um projeto específico, comecei meu próprio. Idéias para livros infantis, tiras de quadrinhos, pinturas, doodles. No outono, decidi que tinha que tinha que ficar no trabalho até as 17 horas – se quisesse realizar projetos regulares e manter meu ganho diário.
Aprendi a negociar. Aprendi a conversar. Aprendi a gerir de forma eficaz o meu tempo e ser eficiente. Aprendi a não ter medo de explicar minha situação, minhas limitações e virtudes. Tento olhar horários, orçamentos e necessidades criativas com objetividade, sabendo que às vezes as coisas podem ser alteradas. Sugiro ativamente alternativas e soluções. Sou super clara sobre o que esperar e quando. Forço para receber feedback com antecedência, para que eu tenha controle e não haja surpresas, e possa estar em casa às 17hs. Sem e-mails, sem telefonemas, sem trabalho depois de voltar para casa. Essa é a hora da minha família. Não há trabalho nos fins de semana. Tudo isso parece ótimo e tento fazê-lo acontecer na maioria das vezes, mas nem sempre as coisas são como queremos.
Esta é a minha resposta de mãe para contatos:
Olá!
Obrigada pelo contato! Sim, ainda sou freelancer 🙂
Trabalho principalmente de modo remoto do meu estúdio em Greenpoint, mas também estou aberta para trabalhar fisicamente.
Se você tem um projeto em mente, onde eu poderia ajudá-lo, seria ótimo se pudéssemos falar sobre especificações, cronogramas e expectativas, pois tenho que planejar de acordo com os deveres maternais.
Mais projetos entraram, e tive sensações mistas ao longo do ano passado. Comprovei a mim mesma que sou capaz de prover minha família, enquanto passo tempo de qualidade com meus filhos. Também me sinto bem em ir ao estúdio todos os dias e estar ocupada. Por outro lado, me sentindo cada dia pior em relação ao meu trabalho, e isso é sobre as escolhas que fiz e sobre a minha lista de prioridades. Agora atendo os melhores projetos, fico realmente chateada por ter deixado alguns passarem. Tento encontrar desculpas para isso. Por que não fiz nada que valesse a pena compartilhar no ano passado? Escolhi os projetos mais bem pagos, escolhi os mais fáceis, não dedicava tempo extra, não fui suficientemente apaixonada…
Aprendi a não ter medo de explicar minha situação, minhas limitações e virtudes.
É difícil não ser competitiva e é ainda mais difícil quando seus colegas de estúdio são realmente apaixonados, trabalhadores, bem sucedidos e bebedores de café. Eu trabalho lado a lado com Alex, Freddy e agora Jimmy, que se juntou a nós há 6 meses. Para eles, esse tempo específico em suas carreiras – seus 30 anos -, é chegar ao pico e explorá-lo. Eu os amo, eles são meu combustível e eles mantêm essa mãe no caminho certo com as novas coisas que estão acontecendo. Mas tenho tanto ciúme. Eu não estava lá; eu estava chegando lá e tive de pisar no freio com força e abruptamente. E, mesmo com todo o planejamento, ainda não tenho a solução definitiva. Minha carreira está sofrendo, minha auto-estima está sofrendo. Todo o meu planejamento chacoalha, e não sei mais o que é importante.
Devo me dedicar mais? Devo voltar a trabalhar fora, com confiança? Mas tenho medo de participar de um bom projeto, porque geralmente eles têm um custo. Nós todos sabemos isso. Provavelmente exigirá atenção incondicional, horas extras, situações desconhecidas… E não tenho certeza de que posso ou quero fazer isso. Por outro lado, muitas vezes os projetos mais procurados são aqueles com orçamentos menores. Vivendo em Nova York e adicionando cuidados infantis a nossas despesas já elevadas, não posso me envolver em uma colaboração realmente legal, participar de uma ótima série ou lançar uma nova ideia.
É uma luta diária combinada com noites sem dormir e medos parentais. É por isso que o equilíbrio entre o trabalho e a vida é um tema tão importante.
Pessoalmente, decidi dar a minha carreira uma chance, fazer o que eu amo e aproveitar o tempo com meus filhos.
Nossas opções como pais são definidas por muitos fatores diferentes, como a configuração particular de cada família, recursos, localização, crenças pessoais… Nossas opções também são influenciadas pelo nosso setor e de alguma forma por políticas. Com escassas leis de licença maternidade e cuidados infantis muito onerosos, estamos colocando as mulheres em uma encruzilhada. Tendo que tomar decisões muito difíceis envolvendo as coisas que definem quem são. Filhos e filhas versus sonhos e objetivos profissionais. Eles o chamam de momento mais doce e difícil. E passa tão rápido! É muito difícil se concentrar e saber em que direção seguir.
O máximo que posso esperar é uma indústria madura que encontre respostas em pequenos grupos e em dezenas de lugares. Se, como uma comunidade profissional, nos preocuparmos com o equilíbrio e com nossas famílias, devemos construir uma cultura que seja sobre compreensão, sobre fazer escolhas corretas ao juntar projetos, horários apertados e expectativas realistas. Pessoalmente, decidi dar a minha carreira uma chance, fazer o que eu amo e aproveitar o tempo com meus filhos. Só preciso continuar tentando equilibrar minha lista de prioridades à medida que avanço, para que possa ser uma mãe feliz e satisfeita.
Traduzido e adaptado do original “Try to finding a balance”, por Laura Alejo para o Motionographer.