O futuro promete ser um futuro um tanto nublado, mas no melhor sentido! Com a popularização dos serviços de armazenamento em nuvem, muitas empresas e pessoas começaram a pensar como isso poderia melhorar a organização de grandes linhas de produção e projetos envolvendo profissionais remotos.  O Elara e o Nimble, são dois exemplos de como o futuro das linhas de produção envolvendo CG, Animação e VFX pode sofrer grandes mudanças nos próximos anos.

Elara: nuvem para o VFX

A Foundry, (empresa responsável por softwares como Nuke, Modo, Mari, Katana etc), recentemente apresentou o Elara, um novo serviço que promete oferecer uma pipeline completa para VFX totalmente alocado em nuvem, e que vai entrar em versão beta agora no meio do ano. Os serviços do Elara incluem aluguel de software, ferramentas de colaboração, rendering online e análise estatística da produção – tudo isso acessado através de um browser comum de internet, em qualquer computador, tablet ou smartphone, e pagando somente o que for utilizado.

O Elara começou a três anos atrás como Production Pipeline in the Cloud, uma pesquisa patrocinada pelo governo do Reino Unido envolvendo a Foundry e a Industrial Light & Magic.  O objetivo do projeto foi descobrir como poderia se pensar um mundo onde todos os recursos necessários para uma pipeline sejam flexíveis e estejam acessíveis de qualquer lugar do mundo em uma nuvem. Em 2016, com uma pesquisa inicial completa, a Foundry convenceu o mercado do potencial da tecnologia e uma versão demo inicial foi apresentada durante a Siggraph 2016. Agora, durante o NAB 2017, o Elara apareceu mais robusto, e seu uso prático foi demonstrado nessa apresentação:

Logando no Elara, o que pode ser feito de qualquer browser de internet, em qualquer aparelho e sistema operacional, o primeiro passo é criar uma “organização” – o estúdio virtual propriamente dito. Esse estúdio consiste em projetos e pessoas, então o próximo passo é convidar colaboradores, que podem ter acesso aos projetos e ter diferente níveis de permissão para cada membro convidado.

O custo de cada pessoa e tarefa também pode ser adicionado – uso de software, tempo de render, custo/hora de um profissional por exemplo – permitindo que os custos sejam calculados e analisados para garantir que cada departamento se mantenha dentro dos seus recursos.

Houdini rodando através de um browser.

Os arquivos de projetos ficam online, e os usuários podem linkar serviços de nuvem existentes à sua conta Elara: a Foundry mencionou o Dropbbox, Google Drive e Cloud Storage, e Amazon S3 como possíveis opções. Os programas rodam na nuvem, sem necessidade de estarem instalados na máquina localmente. Apenas a tela do programa é transmitida para o usuário. A demo mostrou o Nuke Studio, Katana e Houdini rodando através de um browser comum de internet. Mas também foi dito que será possível usar as informações de data do Elara com programas rodando localmente, e que será possível integrar o Elara com pipelines offline já existentes.

Além dos softwares da Foundry, a lista de aplicativos mostrada na demonstração contou com Blender, RealFlow, 3D-Equalizer e Gaffer – apesar de nenhum software Autodesk. Mas Simon Robinson, co-fundador e cientista chefe da Foundry, disse que não há razão para que outros programas (hmm… Autodesk?) sejam oferecidos pelo serviço, apesar de nenhum acordo estar previsto por enquanto, assim como os possíveis preços do serviço.

Sem necessidade de baixar ou processar arquivos localmente, a interatividade do serviço é “bastante boa”, segundo Nathan Strong, especialista criativo da Foundry. “Você esquece que está trabalhando em um browser rapidinho” , ele disse, lembrando que arquivos ARRI ProRess 4444 tocam em tempo real com efeitos GPU aplicados. O render também acontece online, com a opção de acessar milhares de servidores – a demo mostrou um extravagante número de 701 render nodes em uso, um para cada frame de um corte VFX.

A Foundry também diz que o serviço é extremamente seguro por natureza, uma vez que não é necessário compartilhar nenhuma data com um colaborador remoto: tudo o que o colaborador recebe é apenas uma transmissão de pixels.

 

O Elara também possui ferramentas de colaboração, em que usuários podem apenas copiar e compartilhar um link URL para participar de uma sessão compartilhada.  Além de revisar cenas juntos, os usuários convidados também podem tomar controle do software, tornando possível que um usuário veja o trabalho de outro em tempo real. (nota da editora: uma ótima função para tutoriais e aulas online em tempo real, quem sabe?)

O sistema automaticamente grava informações sobre o uso de seus serviços, incluindo o tempo e o contexto de cada seção, oferecendo relatório de dados essenciais para gerentes de projetos como custos de software e render, por exemplo. A página de relatório pode ser filtrada por tipo de trabalho, programa, usuário, e ainda é possível ver quando um usuário fez o login para trabalhar num projeto e por quanto tempo ele ficou logado.

Apesar do preço ainda não ter sido divulgado, junto com a resposta para a pergunta se será possível usar programas da Autodesk nele, o conceito do Elara é bem atraente para muitos artistas. O serviço entra em fase beta agora no meio do ano. Qualquer um interessado poderá se cadastrar para saber mais no site oficial em breve.

 Nimble: Nuvem para animação

Já o Nimble Collective trás o mesmo conceito, mas focando numa pipeline de animação. Fundado em 2014 por animadores da Dreamworks e com um time de diversos profissionais vindos de outras grandes empresas como Google, Youtube e Netflix, a idéia do Nimble Collective é simplificar e baratear o processo de criação da animação para profissionais e amadores, que não possuem o mesmo poder dos grandes estúdios, e permitir uma colaboração mais eficiente entre pessoas trabalhando remotamente.

Assim como o Elara, no Nimble “Nós não estamos usando a data da forma comum de upload e download para uma nuvem (…) Você nunca sincroniza entre seu computador local e a nuvem ou entre dois computadores locais (…)” Tudo funciona diretamente na nuvem, via um browser de internet, sem necessidade de download e instalação de nenhum software.

Ele também vai funcionar como uma espécie de banco de artistas, onde um artista pode criar um projeto, convidar outras pessoas para dar uma olhada e ajudar como colaboradores. Pintores, storyboarders, roteiristas, animadores, riggers, modeladores, etc poderão trabalhar de projeto em projeto de qualquer parte do mundo. Algo similar ao Artella, que além de banco de artistas também se propõe a oferecer uma pipeline em nuvem, mas ainda funciona com os softwares localmente, sincronizando seus arquivos locais com a nuvem de um projeto.

O Nimble também promete dar a oportunidade para artistas iniciantes consultarem artistas mais experientes, claro, pagando por isso. O serviço também oferece infraestrutura que permite a organização de agendas, orçamentos, e produção.

Segundo o site oficial, o Nimble Collective está em negociação com várias empresas de software e pretende dar aos usuários liberdade para que qualquer software seja utilizado, de acordo com a necessidade do projeto.

 

A Nimble espera que eventualmente 10 milhões de profissionais e aspirantes a animadores usem a sua plataforma. Os usuários podem usar seus programas preferidos, mas o serviço por enquanto, na sua versão beta, só oferece suporte completo para o Blender e o Krita. Em 2016 foram abertas inscrições para interessados em usar a versão beta do Nimble em alguma produção. Alguns projetos já podem ser vistos no site oficial do Nimble.

Seria um novo jeito para estúdios pequenos e artistas individuais produzirem?

Segundo a Foundry, o Elara é “tudo o que você precisa para fazer um estúdio funcionar, entregue a medida que você o utiliza, e baseado em recursos quase infinitos de armazenamento e poder computacional”. Enquanto a idéia de alugar uma pipeline não é nova – StratusCore já lançou um serviço parecido, mas focando nos grandes estúdios – o Elara tem por trás um dos maiores desenvolvedores de ferramentas da indústria VFX; e o Nimble tem por trás pessoas envolvidas nos grandes estúdios de animação. Talvez um serviço não tão atraente para grandes estúdios que já tem um esquema robusto de pipeline internacional, mas ambos os serviços falam especificamente sobre estúdios menores e até mesmo usuários independentes.

Há quem se incomode com a idéia pois fatalmente serviços desse tipo trarão grandes mudanças econômicas nessas indústrias e mudarão bastante a forma de muitos trabalharem, independente do tamanho dos estúdios. Também há uma grande promessa de vantagens sobretudo para quem trabalha remotamente e para profissionais e empresas iniciantes. Porém só mesmo testando e se tornando mais popular pra ver aonde essa idéia de trabalhar 100% flutuando na nuvem vai nos levar.

Fontes: Studiodaily, CGChannel, Nimble Collective, Elara.

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