Daniel Danielsson é um Freelance Director & Motion Designer
sueco, baseado ao norte de Londres. Com cerca de uma década de experiência, Daniel especializou-se em Advertising e Branded Content, trabalhando com marcas como Nike, Sky e Hummel, além de atuar em estúdios como The Mill, de Londres. Daniel ainda mantém um canal relativamente novo no YouTube, onde cria tutoriais exóticos e bem-humorados sobre Cinema 4D.
Layer Lemonade – Onde você nasceu e cresceu, quais foram suas influências na infância / adolescência e quando você percebeu que se tornaria um Motion Designer?
Daniel Danielsson – Eu cresci no norte da Suécia, em uma aldeia bastante isolada – nem sequer tínhamos shopping. No entanto, uma coisa que tive em abundância foi natureza; vivia ao lado de um grande rio, com muitas corredeiras e cercado de floresta. Além da minha porta havia mundo inteiro para descobrir, então eu raramente ficava aborrecido. No extremo norte temos verões de 30°C, onde o sol quase não se põe, e invernos de -30°C, quando o sol mal nasce. Então, meu entorno estava constantemente evoluindo enquanto cresci. Até hoje, o mundo natural é provavelmente o que mais me inspira.
Sempre gostei de escrever histórias (como uma trilogia épica sobre uma viagem espacial escrita aos 8 anos, que era bastante estranha). Alguns anos depois entrei na fotografia e também quis ser, por pouco tempo, uma estrela do rock (assim como qualquer outro adolescente), e as tentativas meio que ajudaram meu senso de ritmo. Conheci algo sobre Design Gráfico por estar sentado nas aulas dos amigos na escola.
Mas foi quando eu e esses amigos começamos a fazer curtas-metragens que essas habilidades se juntaram. Acabei me inclinando para o After Effects e, logo depois, encontrei-me engajado no C4D. Não consigo lembrar como me tornei um Motion Designer, foi mais uma sopa de diferentes habilidades que me misturaram em uma.
O momento em que comecei a ser “Motion Designer” foi em um estagiário no ano de 2011 com David Sandberg – então Motion Designer, agora Diretor. Ele fazia coisas legais e dizia ser um Motion Designer; eu queria fazer coisas legais e aqui estamos!
LL – Na sua biografia, você se descreve como “… proprietário de uma imaginação hiperativa, coração apaixonado e mente curiosa”. Na sua opinião, qual o aspecto mais importante para ser um profissional de campo criativo?
DD – Bem, acho que todos os itens acima são necessários, juntamente com muitos outros aspectos. Mas uma mente curiosa pode ser especialmente importante porque alimenta muitas coisas. Curiosidade faz você se questionar, abrindo o processo mental, pelo menos para mim. Isso me ajuda a explorar padrões mais incomuns e a criar conexões mais raras. E em uma indústria onde as ideias são o produto; Ideias raras são inerentemente mais valiosas.
LL – No projeto “The X” (o que é incrível, a propósito), você dirigiu, animou, criou o Design e até a música! É demais para um artista! Geralmente, como você aborda esses projetos?
DD – Haha, obrigado. Para mim é tudo sobre ter um bom processo. O “The X” provavelmente não é o melhor exemplo, porque realmente não segue meu processo usual…
Inicialmente, criei uma pequena introdução, em poucos dias, para uma apresentação de cliente, onde o assunto era “o tempo”. Essa peça curta realmente mexeu com eles, então quiseram ampliá-la em algo maior para o lançamento de seu rebrand. Assim, trabalhei de trás pra frente, indo de uma pequena peça final, a um pouco de concepção e depois a uma coisa nova e maior.
A música foi algo tardio, pois o vídeo principal era para o site e não precisava de nenhum som, mas a animação era muito rítmica, por isso pensei ser uma pena não criar algo sonoro pra ele.
LL – Uma das questões mais discutidas em nossa comunidade é “como ser produtivo”. O que você pode nos contar sobre isso? Você tem alguma técnica para ser produtiva?
DD – Treinar sua autodisciplina e eliminar os gatilhos de procrastinação farão muito por sua produtividade, mas, além disso, posso dizer uma coisa: não subestime o poder de uma bom post-it.
Quando tenho muito o que fazer, coloco tudo em um post-it e vou eliminando uma a uma. É como uma droga para mim. Se preciso me concentrar em uma tarefa mundana, também coloco dois post-it próximos ao meu espaço de trabalho com “NÃO FAÇA” e “FAÇA” escrito neles. O “NÃO FAÇA” me lembra para não me distrair, o “FAÇA” me lembra de fazer o que deveria. Parece ridículo, mas é embaraçosamente eficaz…
LL: Quais profissionais e estúdios você mais admira hoje em dia? E com quem / onde você sente vontade de trabalhar?
DD – Eu sigo muitos estúdios e artistas no Vimeo, Behance e tal, e é realmente difícil escolher favoritos… Há muitas pessoas incríveis e com certeza adoraria trabalhar com qualquer uma delas. O que gostaria de fazer é ir a alguns eventos da indústria e conhecer mais pessoas do Motion na vida real, mas é difícil encontrar aquele momento em que não estou ocupado trabalhando.
LL – Qual é a pior situação que você já teve ao aceitar um projeto?
DD – Nenhum projeto foi infernal para mim, mas tive algumas coisas próximas a isso. Um das piores… Digamos que a experiência mais interessante nesse sentido foi a pouco tempo, uma história com teor tão antigo como o tempo, de mudanças de última hora no projeto.
Estava “freelando” in-house em um estúdio. Juntei-me com um dos seus melhores Motion Designers em um projeto de 60 segundos com a deadline de quatro semanas. Duas semanas se passaram com tudo tranquilo, quando o cliente teve uma súbita mudança de ideias: a peça de 60s estava se transformando em quatro anúncios de 10 segundos e seis anúncios de 15 segundos; todos com mensagens diferentes. Dez vezes mais coisas, mais do dobro do tempo de execução total, duas semanas antes de um prazo muito rígido acordado com o cliente.
Isso, por si só, já seria bastante estressante, mas havia algo mais: a mensagem a ser passada nas peças continuava mudando, porque as partes interessadas – do lado do cliente -, não estavam em concordância. Os visuais que desenvolvemos para os anúncios estavam totalmente ligados às mensagens, então eu e o outro Motion Designer criamos uma rotina de nos enclausurar quase que diariamente, esmagando dez novos scripts visuais para combinar à nova mensagem.
Uma semana antes do prazo, finalmente recebemos a mensagem (quase), final e cinco dias antes da entrega, podemos enviar as primeiras dez animações em wireframe.
Sem surpresa, descobrimos que o cliente não tinha sido inteiramente verdadeiro sobre o prazo real, o que explicou por que eles fizeram mudanças tão importantes no último minuto com tão pouca hesitação. No final, tanto o cliente como o estúdio ficaram bastante satisfeitos com o projeto, pelo menos não terminou em tragédia total.
LL: Em sua opinião, qual é o futuro da indústria Motion Design?
DD – Creio que vamos começar a ver categorias mais distintas aparecerem no setor. Quando comecei a mexer com Motion, as categorias pareciam ser 2D ou 3D, mas o campo cresceu muito desde então. As pessoas agora consideram o Motion como parte da experiência do usuário em inúmeras indústrias – muito mais do que costumavam -, especialmente no desenvolvimento de jogos e aplicativos.
Ao mesmo tempo, graças a disponibilidade dos renderizadores foto-realistas, o Motion está começando a se inclinar pro VFX.
Penso que dentro de alguns anos teremos pessoas que se especializam exclusivamente em UX Motion Design, Game Motion Design, VFX Motion Design e mais. Provavelmente já existem alguns desses, talvez até mesmo lendo isso agora.
LL: Qual é o melhor conselho que você recebeu de alguém na área e o que transmitiria a alguém que está começando?
DD – Alguns ótimos conselhos que recebi foram durante meu estágio com David. Eu estava editando meu segundo showreel, e ele fez alguns comentários. Basicamente, me disse para cortá-lo muito mais rápido, torná-lo curto e atrativo. A coisa toda era bastante lenta e mostrava partes completas de Motion em sequência, então escolhi uma nova trilha e reeditei todo o reel com muito mais dinâmica. Esse mesmo reel me colocou no The Mill em Londres, então é em parte graças a esse conselho que estou onde estou agora.
Mas se eu desse um conselho mais geral, seria para estudar o mundo natural. Saiba mais sobre física e óptica. Seja observador em sua vida cotidiana sobre como as coisas se movem, se comportam e se parecem em certas circunstâncias, e tente entender o porquê. Isso o ajudará muito quando se trata de fazer com que seu Motion se pareça e, especialmente, seja percebido corretamente.
LL: E, finalmente, quais são os planos futuros para Daniel Danielsson? Já tem novos projetos em andamento?
DD – Tenho muitas coisas no horizonte… Ando me divertindo fazendo tutoriais no YouTube, e agora que as pessoas parecem ter gostado, estou com alguns outros em andamento.
Descobri que muitos Motion Designers já possuem habilidades para fazer um motion incrível, mas não sabem abordar e trabalhar com clientes em projetos profissionais; apenas esperando no canto, doidos para entrar no jogo.
Então separei algumas semanas para trabalhar em um curso que, espero, possa levantar a cortina sobre como manejar um projeto profissional. Idealmente, de uma forma que não o faça perder a cabeça, manter seus clientes felizes e, claro, fazer um Motion magnífico. Então, isso deve me manter ocupado para o resto de 2017.
Quanto ao próximo ano, tenho algumas coisas planejadas. Há um curta que quero produzir a algum tempo. Mas é cedo demais para dizer muito sobre isso… ;D
RAPIDINHAS
LL – MAC ou PC?
DD – Mac, mas com saudades da renderização via GPU…
LL – After Effects ou Cinema 4D?
DD – C4D 4 Life.
LL – Dia ou noite para trabalhar?
DD – Ambos.
LL – Flat Design ou 3D foto-realista?
DD – 3D foto-realista, mas não sou contra o flat foto-realista…
LL – Limonada ou Cerveja?
DD – Limonada!
Muito obrigado por me convidar a fazer parte desta entrevista. 🙂