No último final de semana, aconteceu em São Paulo o maior evento de Motion Graphics da América Latina, o Anymotion. Ocorreram palestras do estúdio Lobo, Vetor Zero, Birdo, Ariel Costa (Blink My Brain), Le Cube e ainda uma atração internacional, diretamente de Atenas, Tony Zagoraios. Pra quem não foi, aqui estão as minhas principais reflexões sobre o que vi e ouvi no evento que não foi nada menos que incrível.
A arte é o processo
O Anymotion começou com um vídeo de abertura que feito pela Yellow Lab, com direção do Ricardo Mendes, especialmente para o evento. Acredito eu, claro, que todos estavam esperando um puta vídeo de motion. Que nada! Um vídeo filmado, com poucos letterings animados, que mostra o processo de criação da artista Melina Toffanello na pintura de um quadro abstrato. Um quadro! Nada digital. A quebra da expectativa gerou reflexão. O vídeo falava de processo e de como a arte está em nós, não importa o meio. “A arte não é o resultado final. A arte é o processo. Arte é você” – explicou Andrew Embury, Canadense e um dos criadores do vídeo.
Por quantas coisas nós já passamos desde que tomamos a decisão de seguir nessa carreira? Quantas pessoas você já conheceu por isso? Quantas pessoas já te inspiraram e te ensinaram coisas? A arte está no processo de construção de nossa carreira. O resultado final que mostramos nos nossos Demo Reels é apenas consequência disso tudo. Nós somos artistas mesmo criando VTs de varejo e mesmo que tentem separar Arte e Design. Isso porque o trabalho que fazemos somos nós em pixels.
Difícil pensar numa abertura mais forte e impactante.
Motion Design social
Projetos com causas sociais foram destaque no evento. A discussão foi iniciada pelo Mateus de Paula Santos do estúdio Lobo. Já pensou como assuntos muito delicados podem ser tratados de forma leve e super efetiva com animação? Violência doméstica, relacionamentos abusivos e até prevenção do câncer? Este é um aspecto muito poderoso do Motion e faz com que tenhamos um papel muito importante nestas questões sociais.
Daí surge um dos principais insights que eu trouxe de São Paulo depois do Anymotion: Porque não usar minhas skills para fazer projetos incríveis pro meu portfólio e ainda ajudar em causas importantes? Já é claro que projetos pessoais são essenciais nas nossas carreiras. Neles podemos colocar em prática o nosso poder criativo sem as limitações de prazo, orçamento ou clientes. Se é assim, porque não fazer projetos autorais para ajudar ONGs que não podem pagar? Poderíamos ter liberdade criativa, ajudar uma causa e ainda ter um projeto legal no portfólio.
Motion não tem barreiras
A combinação de digital e analógico estava sempre presente nos projetos mostrados no Anymotion. Cenários construídos artesanalmente, combinação de filmagem e computação gráfica e muita animação frame a frame. Parem de buscar inspiração no vimeo e em outros projetos de Motion e olhem pela janela. Os projetos ganham muito quando saímos da frente do computador e produzimos coisas incríveis com o que temos no mundo real.
Tenho que destacar o filme da Vetor Zero para a abertura do Ciclope Festival 2012. Vídeo todo filmado dentro de um aquário cujos “personagens” eram objetos reais sendo manipulados. Isso é Motion? Não importa. O Anymotion nos mostrou que não existem barreiras entre motion e animação tradicional, entre analógico e digital, entre o mundo real e o mundo virtual e nem mesmo barreiras geográficas limitando até onde nosso trabalho pode ir.
Brasil no mundo
Falando em barreiras, o que ficou muito claro é que o Brasil, se tratando de criatividade, é tão grande quanto as nações mais ricas e desenvolvidas do planeta.
Todos os palestrantes fazem trabalhos para grandes clientes estrangeiros. Vimos Ariel Costa como um exemplo de brasileiro que trabalhou em um dos maiores e mais reconhecidos estúdios de Motion do mundo. Podemos destacar também a Birdo, que produz desenhos animados conhecidos no mundo todo e que são transmitidos por grandes canais internacionais. Vimos como os estúdios brasileiros estão ganhando espaço e reconhecimento internacional.
Me parece que a internacionalização do nosso trabalho depois de um certo nível atingido é um movimento natural. Ficou claro também que você nem precisa sair do Brasil para isso. O mercado está cada vez mais aberto para descobrir talentos em qualquer parte do globo e dar oportunidade de trabalho remoto para qualquer um que mostre capacidade. Esta é uma das coisas mais animadoras que o Anymotion trouxe.
Qualquer um pode
Vimos a história da Birdo começando com duas pessoas e crescendo rápido a ponto de serem os criadores dos mascotes das Olimpíadas no Rio. Vimos o Ariel Costa crescendo na carreira com erros e acertos e chegando a ser uma das referências no mercado Americano. Vimos também pessoas mostrando um Reel antigo de qualidade questionável, seguido de trabalhos de cair o queixo em projetos mais recentes.
Qualquer um pode chegar lá com esforço, caindo e levantando e às vezes dando alguns passos atrás para poder dar passos mais largos lá na frente. O processo é difícil mas sempre vale a pena.
Comunidade do Motion
Por fim, tenho que falar sobre como a comunidade do Motion está se unindo e gerando uma cadeia de relacionamentos em que todo mundo só tem a ganhar. Foi incrível ver a interação das pessoas e quantos amigos a gente fazia apenas andando pelo espaço do evento durante os intervalos. Gente de todo tipo e de toda parte do Brasil. Animadores 2D, 3D, ilustradores, designers, editores, donos de estúdios, freelancers…
Eu diria que criadores de conteúdo como a gente aqui do Layer Lemonade, a galera do Vida de Motion e outros pela internet, vêm fomentando o mercado e proporcionando a criação de uma comunidade muito unida em torno do Motion.
Assim o mercado cresce, o conhecimento se espalha, e o nível do Motion Brasileiro sobe, atraindo mais clientes e marcas grandes e gerando um ciclo virtuoso. Foi essa a sensação que ficou depois do evento, que somos mesmo uma comunidade. Obrigado Anymotion!