Fabrício Teixeira e Caio Braga são autores de um projeto que traz as maiores tendências para o próximo ano no mercado do Design UX. Apesar dos dois autores serem brasileiros, os artigos são publicados em inglês uma vez por ano em trends.uxdesign.cc/.
Eles não falam sobre tendências estéticas, cores ou tipografias. Falam sobre métodos, ferramentas e desafios profissionais. Nós, do Layer, fizemos um recorte dos pontos mais relevantes e que podem ser aproveitados por quem trabalha no mercado de Motion Graphics. Tudo resumido e em português. Aqui está o que podemos esperar do nosso mercado em 2019.
Não deixe de ler o artigo completo dos caras que é muito legal!
Todo mundo é um “lead“
Antigamente, o título que uma pessoa tinha dentro da empresa significava muita coisa. A relação entre senioridade e tempo de trabalho era direta. Hoje existem muitas variações de títulos e, muitas delas, indicam certo grau de liderança. Sem falar no fenômeno das pessoas que obtém um título de sênior antes mesmo de completar um ano de profissão.
O importante é entender que a senioridade deve estar relacionada com o poder de decisão e com o impacto que a pessoa é capaz de gerar na empresa. No Motion, especificamente, eu diria que o profissional sênior é aquele cujo as habilidades definem as diretrizes dos projetos e influenciam o trabalho de outros.
Nós estamos muito ocupados estando ocupados
Estamos tão ocupados com pequenas tarefas diárias como, por exemplo, responder e-mails ou mensagens no whatsapp, que acabamos não dedicando tempo suficiente para fazer o que realmente importa. A sensação que fica é que o dia é muito curto ou que temos tarefas demais.
Tudo se resume a ter um planejamento claro sobre onde você quer chegar na sua carreira. As coisas mais importantes são aquelas que te aproximam do seu grande objetivo. O amontoado de informações e distrações que o mundo de hoje proporciona o tempo todo nos deixa perdido no caminho para os nossos sonhos. Criativos precisam, então, ter uma vida mais estratégica.
Algumas dicas que vão ajudar a ser mais eficiente no seu dia: comece sempre um projeto pela “big picture” e se preocupe com detalhes mais tarde. Esteja sempre em busca do desnecessário a fim de excluí-lo de seus compromissos. Tenha paciência pois tudo é uma questão de consistência e criação de bons hábitos.
O Design não está salvando o mundo
O Facebook divulgou outdoors falando de seu compromisso em combater as fake news. A Uber também tem feito comerciais na TV para ilustrar seu compromisso em fazer o bem. Dizer que se preocupa com a sociedade é uma tendência em todas as grandes empresas. Mesmo empresas disruptivas como essas têm recorrido à mídias tradicionais para se venderem como provedoras de benefícios sociais.
Apesar de o intuito final, na verdade, ser aumentar cada vez mais os lucros, isso nos mostra a importância que as causas humanitárias têm atualmente. Poucas vezes nós temos uma reflexão realmente profunda sobre o impacto dos nossos projetos na sociedade. Muitos deles podem ter, inclusive, impactos muito negativos.
É sempre importante usar nosso poder de comunicação para ajudar causas e promover o bem-estar social. Oportunidade de enriquecer o portfólio com projetos pessoais para clientes filantrópicos que não teriam como pagar. Grandes empresas privadas provavelmente vão ter o lucro como um objetivo acima de qualquer causa social, mas você, como indivíduo, tem poder de fazer a diferença usando os seus skills.
Designing for less
A maioria dos aplicativos que usamos foram projetados para que gastemos o maior tempo possível dentro deles. Muitos ficam viciados. Barras de rolagem infinitas nos fazem perder horas sem se dar conta.
Os usuários estão percebendo o quão nocivo isso pode ser e, atualmente, pode-se notar um movimento na direção contrária. As empresas estão adotando funcionalidades em que o usuário pode ter controle do tempo que gasta dentro do aplicativo. Algumas até te alertam quando você já está a tempo demais rolando o feed.
É importante que o material que produzimos leve em consideração o dia-a-dia corrido das pessoas. Precisamos criar coisas que libertem as pessoas ao invés de prendê-las. Esta tendência de pessoas buscando produtos e serviços que atendam às suas necessidades mas respeitam seu tempo vai crescer ainda mais em 2019.
Nossa obsessão pelos métodos
O google pode nos proporcionar soluções rápidas e genéricas para os nossos projetos. Há centenas de bibliotecas, sistemas de design, templates e métodos prontos que podemos baixar e usar a vontade (falando de motion, eu acrescentaria templates e paletas de cores). O problema é que isso está nos deixando preguiçosos.
Não podemos nos viciar em um único jeito de trabalhar e ficar dependente destes recursos. É como usar presets de animação e esquecer-se de como trabalhar no Graph Editor. Não existe solução única para todas as situações possíveis. Design é resolver problemas e decidir como resolver um problema é o primeiro passo para resolvê-lo.
Designers/ferramentas de design deveriam usar código?
Há uma discussão antiga sobre se designers devem ou não aprender a programar. Um dos argumentos é que eles deveriam saber conversar com programadores quando estes estiverem trabalhando em seus designs. A verdade é que se gasta muito tempo e esforço para um designer aprender a escrever códigos, esforço que deveria ser aplicado na atividade principal: fazer design.
A tendência é que novas ferramentas venham suprir a necessidade do designer programar. Já existem alguns programas que fazem isso: o design é feito e o código é gerado automaticamente, sem a necessidade de conhecimento de HTML ou Javascript.
Esta é uma tendência valiosa para a área de motion. Aprender a animar por meio de programação abre um leque de possibilidades e nos dá o poder de criar coisas bastante complexas. O próprio After Effects usa linguagem de programação nas suas expressões e nós acabamos tendo que aprender um pouco. No futuro, será cada vez mais simples usar programação sem saber nada de código. As ferramentas vão fazer o trabalho sujo.
Pensando fora do artboard
Telas estáticas cada vez representam menos a experiência real dos usuários atualmente. Os designers precisam pensar fora dos seus artboards. Pensar no contexto de uso, na história e no objetivo por trás de cada funcionalidade, tal como no relacionamento entre elas. Uma única tela pode se organizar de N maneiras diferentes, revelando e escondendo elementos e garantindo que o usuário terá o que precisa na hora que precisa.
Não podemos deixar de falar de motion, neste ponto. Transições e micro-animações não são mais firulas dentro de projetos de web ou de aplicativos. A animação tem o importante papel de informar e guiar o usuário dentro de um universo onde não existirão mais telas que apresentem, de uma vez só, todas as funcionalidades que ele precisa.
Adote a cozinha aberta
Por muito tempo, os designers protegeram seus processos como se estes fossem algo misterioso e acessível para poucos. Ser designer era como fazer parte de uma sociedade secreta de criativos. A comunidade criativa mudou muito e agora está acontecendo o contrário: compartilhar conhecimento é o que pode agregar mais valor a sua carreira criativa.
Antigamente, era muito difícil saber como o resultado dos projetos que gostamos foram alcançados. Hoje, vemos centenas de artigos explicando processos, tutoriais, estudos de casos focados nas falhas e não somente no sucesso, e pessoas compartilhando online a maneira com que elas trabalham.
A abertura das portas do conhecimento fez com que o espírito colaborativo vigorasse. Grandes empresas estão incluindo clientes nas etapa dos projetos para que os resultados sejam gerados colaborativamente. As coisas não são mais escondidas e apresentadas só no final de tudo para aprovação. A ideia é democratizar o acesso ao conhecimento, às ferramentas e aos métodos que usamos.
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Ilustração da capa: Camila Rosa