Quantas vezes você já se deparou com clientes que querem te ensinar a fazer o seu trabalho? Algo muito comum é aquele projeto que começa lindo e, depois de algumas alterações do cliente, vira um Frankenstein. Aí, no final, salvamos aquele “director cut“, que é a versão antes das mudanças, para por no portfólio.
Este artigo surgiu de uma discussão com alguns colegas sobre clientes que querem ser mais designers do que nós. Vou reunir aqui algumas reflexões sobre isso baseado em minhas experiências. Tudo é minha opinião, então, não deixe de comentar se discordar de alguma coisa!
A mentalidade de que o cliente é seu inimigo
Já reparou como é gostoso falar mal de um “inimigo em comum”? É por isso que colegas de trabalho estão sempre criticando o chefe ou as políticas da empresa. E é por isso também que profissionais criativos amam conversar sobre os perrengues da lida com clientes.
A ideia de que clientes são nossos inimigos e sempre limitam nossa criatividade é muito natural, mas este pensamento emerge da nossa mania de achar que somos “artistas” e que nossa arte nos pertence.
Na verdade, não somos donos do que fazemos e nem o fazemos para nós mesmos. Nosso trabalho tem uma função para o negócio de nossos clientes, e precisamos atingir as expectativas deles.
Mas o cliente não entende nada de design!
Certamente você sabe mais sobre design, animação e storytelling do que seu cliente, mas ele certamente entende muito mais do próprio negócio do que você. E lembre-se: nosso trabalho tem uma função! Temos que contribuir para a prosperidade de um negócio e não simplesmente encher os olhos da audiência com uma “obra de arte”.
A coisa mais importante é conhecer o público para qual nosso trabalho está destinado. O cliente pode entender muito bem o seu público alvo (ou achar que entende), e certamente ele está tentando enxergar o seu trabalho com o olhar de quem irá consumir.
Saber as expectativas do cliente
Entender o básico do negócio e do público alvo do nosso trabalho é o mínimo que precisamos antes de começar qualquer coisa. Porém, dá pra entender mais profundamente a expectativas e os “gostos” do cliente.
A Paula Scher, designer famosa da Pentagram, disse que quando ela é contratada para desenhar uma marca para um cliente, apresenta a ele um catálogo com centenas de logos que a empresa já desenvolveu anteriormente. Então, pede para que o cliente marque quais logos ele ama, e quais ele odeia. Assim, ela consegue saber se o cliente tem um gosto mais minimalista, sofisticado ou ousado.
Para um projeto de Motion também podemos mostrar referências e, talvez, descobrir o que o cliente não gosta seja mais esclarecedor do que entender o que ele gosta. Certamente, apresentar diferentes estilos e absorver a reação do cliente ao visualizar cada um deles pode evitar que você vá na direção errada quando estiver projetando.
Cliente criador
Vejo que alguns clientes fazem muita questão de “contribuir” ativamente com o trabalho. Eles querem se sentir co-criadores daquilo e isso pode gerar muitos “pitacos”. Com o tempo, você vai conseguir identificar facilmente quando o cliente é assim.
Lidar com isso pode ser simples. É só você sempre apresentar pequenas opções e variações do que estiver fazendo para que ele possa escolher. Você pode, por exemplo, apresentar dois layouts diferentes alterando apenas a cor do fundo. Só o sentimento de ter escolhido já vai dar ao cliente a sensação de que ele fez parte do desenvolvimento do projeto.
O seu posicionamento
Se o cliente parece tentar te ensinar a fazer seu trabalho, certamente existe um problema no seu posicionamento como profissional.
O cliente tem que sentir que está realmente contratando um profissional e que você é o especialista. Você está ajudando ele a ter o melhor projeto possível, não o contrário.
Dito isso, eu ouso dizer que, se você está tendo que lidar com clientes deste tipo, certamente está cobrando muito pouco pelo trabalho. Quando as pessoas pagam caro, elas sentem intuitivamente que estão lidando com um profissional experiente e que sabe o que está fazendo. Clientes que pagam pouco se sentem inseguros e a tendência é que eles peçam mais alterações.
O seu posicionamento é definido pela maneira com que você apresenta uma proposta, pela organização do seu site, pela forma com que você escreve um e-mail e, claro, por quanto você cobra. Assegure-se de que você faz tudo da maneira mais séria e profissional possível. Assim os clientes vão te enxergar como um especialista.
Desapego
No final, o importante é desapegar. Lembre-se que você não trabalha pra você mesmo e que tem que se curvar à vontade de terceiros.
Mas uma coisa é certa. Se o trabalho está te dando muita dor de cabeça, certamente você está cobrando muito pouco por ele. O valor do nosso ganho deve sempre compensar, inclusive, o estresse que temos lidando com clientes chatos.
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Você costuma ter clientes deste tipo? Como lida com isso? Comente aqui em baixo!
-A imagem de capa deste artigo é do projeto Halloween ID for Empower do estúdio 4HUMANS.