Existe uma grande polêmica no mundo do Design que questiona: “Design é arte?”. O consenso dentro das universidades é que não. Design não é arte porque tem função prática/comercial. Arte não tem, necessariamente.
Eu sempre achei essa discussão uma bobagem, porque para se chegar a uma conclusão é preciso encontrar uma definição de arte – que, na minha opinião, é algo indefinível.
Porém, existe algo que, inquestionavelmente, aproxima o design da arte: a sensibilidade. Para sermos melhores artistas, temos que ser cada vez mais sensíveis. Para sermos melhores designers também.
Sensibilidade é algo difícil de definir. Como o próprio nome sugere, a gente “sente” o que é, mas é difícil explicar com palavras. Eu definiria sensibilidade como a capacidade de perceber pequenos detalhes e, o nosso trabalho como designers e animadores, o que separa o bom do excelente são, justamente, os pequenos detalhes.
Todos que fazem o curso Motion Design Essencial do Layer Lemonade, percebem a enorme capacidade que o Dhyan Shanasa (o instrutor) tem de apontar defeitos nas animações que os alunos não conseguiam notar (mas depois que ele fala, fica evidente). O Dhyan, depois de tanto tempo ensinando Motion, tem o chamado “olho treinado”.
“Olho treinado” nada mais é que sensibilidade para perceber os detalhes. É o que nos aproxima de artistas tradicionais. E é também a habilidade que precisamos buscar para nos tornarmos melhores profissionais.
Mas como é que se “treina” o olhar?
Essa é uma pergunta difícil. Talvez não haja resposta certa, mas aqui posso dar algumas sugestões.
Prática
Você não precisa se preocupar. Continuar trabalhando e buscando fazer o melhor a cada projeto já é o treinamento mais importante para seu “olhar”. A prática faz a perfeição.
Cada animação nova que você faz é acrescentada ao seu repertório e, a cada dia, vai ficando mais fácil replicá-la. Seu olhar vai ficando cada vez mais aguçado para perceber defeitos em trabalhos semelhantes.
Referências
A prática e a referência são aliados importante. Ao assistir boas animações que outras pessoas fizeram, você desenvolve a capacidade de identificar o que é bom e, daí, pode fazer uma comparação com os seus próprios projetos e tentar alcançar resultados cada vez melhores. Porém, assistir a muitos jogos não vai tornar ninguém um artilheiro no futebol.
É por isso que muitos professores aconselham que você copie obras de outras pessoas a título de estudo. Tente copiar o timing de uma animação muito boa que você assistiu! É um exercício poderoso porque você alia a acumulação de referências à prática.
Quanto melhores as animações que você tem na memória, mais fácil será visualizar bons resultados quando estiver animando. A animação precisa estar clara na sua mente antes de começar a posicionar keyframes. E lembre-se! As vezes é preciso assistir e reassistir pequenos trechos por dezenas de vezes para identificar o que está errado.
Contato com a arte
Como dito antes, tudo é uma questão de sensibilidade. E nada melhor que o contato com arte para nos tornar pessoas mais sensíveis. E qualquer tipo de arte vale, mesmo que não tenha nenhuma relação com a sua área de atuação profissional.
Eu, por exemplo, tenho me dedicado a ler os clássicos da literatura mundial. Isso porque sempre há alguma coisa que fez com que aquela obra se tornasse tão popular e aclamada pela crítica. Nada se torna um “clássico” em vão. E meu objetivo tem sido identificar: o que esta obra tem de tão boa, a ponto de ter atingido relevância mundial? Este questionamento tem me tornado mais sensível para identificar a boa arte.
Ir ao teatro, cinema, museus… tudo que te coloca em contato com uma manifestação artística vai contribuir pra sua sensibilidade e te tornar um melhor artista (consequentemente com um olhar mais treinado). E claro, você não precisa gostar de tudo. Algumas obras clássicas são bastante “chatas” para alguns leitores. Mas até isso vai te deixar mais sensível em relação aos seus próprios sentimentos: vai entender melhor o que você gosta mais e o que não é pra você..