Semana passada escrevi pra vocês sobre o meu trabalho com o Poems by Post e foi (quase) só alegria né? Pois bem, essa semana a história é um pouco diferente. Quero falar pra vocês sobre os limites entre o esforço e a “auto” exploração.
É muito comum a gente falar das agências e produtoras que só faltam tirar o nosso coro, né? Mas vejo pouca gente falar sobre como é a vida de freelancer, nesse início, quando você ainda não tem nada certo e está tão preocupado em ter dinheiro no final do mês, que topa praticamente qualquer coisa (mesmo bicos que não tenham nada a ver com a área que você quer). E a linha entre “se esforçar” e “se explorar” ficam bem tênues quando você se coloca numa situação dessas.
Hoje mesmo eu escrevi a seguinte frase pra mim mesma, depois de um turno de mais de 17 horas ininterruptas (e de ter chorado de cansaço e ligado pra minha mãe pedindo colo nesse percurso): “esperança, no momento, é o quanto você está disposto a lutar por aquilo que te move”. O que, na teoria, é bem lindo, mas, na prática, é uma falta de noção extrema. Eu estou sem trabalhar com animação há algumas semanas, mas mal tenho dormido e meu tempo de estudo está cada vez mais escasso. Tá bom, estou lutando por sobrevivência, mas até quando isso é saudável pra mim? Sou extremamente grata pelas pessoas que conheci no processo, pelos bursts de criatividade que isso me dá e pelos cafés da vida (risos), mas também preciso de um plano de ação, porque a noção de que era só um esforcinho já foi pela janela faz tempo.
Todo dia, ou praticamente todo dia, vem alguém me falar que está com dificuldades em gerenciar o tempo pra conseguir estudar e eu vou de cara com o discurso pronto de “não precisa se matar, estuda o tempo que consegue, é só organizar um pouquinho a rotina”, quando eu sei que eu mesma não estou fazendo isso e que muita, mas muita gente está nesse mesmo ciclo vicioso que é a exploração (no caso, de si mesmo, disfarçada de esforço). É dolorido pensar que a linha é tão tênue que vai ter muita gente dando risada e dizendo que a gente, desse jeito, está fazendo drama ou que só quer uma vida “mamão com açúcar”, mesmo sabendo que os níveis de produtividade e todo o resto caem drásticamente quando a gente chega nesse nível de exploração.
Mas esse não é um texto de lamentação, esse é um texto pra pensarmos juntos em como não nos colocar nesse buraco. O que eu descobri até agora é que você precisa de uma força imensa pra dizer não pra um chefe abusivo, mas de uma força ainda maior quando esse chefe abusivo é você mesmo. Então a primeira coisa que decidi fazer foi organizar todos os meus horários e mostrar pra mim mesma o quanto cada hora vale em dinheiro, mais a quantidade de remédios e café que estou tomando todos os dias pra aguentar essa rotina e conversar com alguns amigos que realmente entendem a situação.
O Dhyan já falou inúmeras vezes e eu concordei em todas elas: “nenhum dinheiro vale a sua saúde”; mas a gente não se toca que ela de fato está indo embora porque sempre acaba se convencendo de que logo vai conseguir parar e recuperar (só que a gente não recupera saúde nem tempo depois de ferrar com ela inteirinha). É lógico que vão rolar uns dias sem dormir na vida de freelancer, mas fazer disso um hábito, tendo total controle da situação, é jogar com a sua própria vida e eu não quero isso nem pra vocês, nem pra mim.
Todos os dias me comprometi a fazer um “banco de horas” e me recompensar pelos momentos que conseguir descansar de fato. Resolvi tratar como um vício mesmo, mas, ao contrário dos outros, esse não tem doze passos pra seguir e um mentor. Fiz de mentora a minha psicóloga nesse processo (afinal, vício é doença psicológica e precisa de suporte psicológico né? Não importa se o vício é físico – álcool, drogas, etc – ou mental – trabalho, jogo, etc) e vou atualizando vocês aos poucos sobre tudo isso.