Capacitismo é o termo que se dá ao preconceito com PCDs. A nomenclatura Pessoa Com Deficiência também já mudou diversas vezes para tentar emplacar um termo que não seja pejorativo ou que não dê a ideia de que a deficiência está acima do ser humano. Até pouco tempo atrás, o termo mais aceito era Pessoa com Necessidades Especiais, o que podia passar uma ideia de que todas as pessoas com deficiência precisam de ajuda. Como se todo ser humano não precisasse de ajuda também em algum momento da vida, né?
Uma atitude capacitista é duvidar da capacidade da pessoa com deficiência, seja em qual área for. Com a acessibilidade correta, todos nós temos toda a capacidade de realizar qualquer coisa a que nos propomos a fazer. O artigo “Até um surdo legenda vídeos” foi impactante pelo conteúdo em si ou por ter sido uma pessoa com deficiência que o escreveu? Quando criança, por não ter legendas em desenhos animados, eu lia muitos gibis e isso ajudou a desenvolver minha escrita. Às vezes o deficiente é até eficiente no que faz.
Vocês sabiam que no Brasil temos quase um quarto da população só de deficientes? De acordo com o IBGE, são 45 milhões de pessoas sofrendo com falta de acessibilidade, falta de políticas públicas e, muitas vezes, falta apoio familiar e dinheiro. Menos de 1% dessas 45 milhões de pessoas com deficiência têm um emprego formal e muitas vezes abaixo da qualificação da pessoa.
Quando estava desempregada, uma pessoa do RH de uma grande loja de varejo de roupas me procurou para uma vaga PCD e, quando fui na apresentação, entreguei o currículo e perguntei se tinha alguma vaga alinhada com meu perfil. A mulher falou que sim, que era uma vaga PCD. Eu respondi: “Ok, mas além de ser surda, também sou formada em Design, não teria algo relacionado a marketing ou algo assim?”. Ela riu e disse que não tinha não, que era uma vaga para estoquista mesmo.
Cheguei a ir na entrevista com o gerente da loja de shopping na qual iria possivelmente trabalhar. Entreguei outra cópia do meu currículo para ele e lembro que leu e ficou levemente chocado. A entrevista virou um debate sobre o mercado de trabalho no geral, pois ele era formado em fisioterapia e também acabou entrando nessa por falta de oportunidade. No final, ele não me contratou.
E como a área de motion, animação, cinema podem ajudar nesta situação? Dar mais visibilidade a pessoas com deficiência de uma forma que não seja focada na deficiência em si. Podemos inserir pessoas com deficiência em todos os contextos possíveis. Por exemplo, uma pessoa sem um braço andando, uma pessoa de cadeira de rodas lendo, um jornalista cego, uma bailarina com prótese ou até mesmo uma motion surda. Isso ajuda a desmistificar a crença popular de que somos incapazes ou de que somos super-heróis.
Somos apenas pessoas com deficiência.
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Ilustrações de capa e corpo do texto por miirandly.