Antes de darmos inicio as dicas, faço aquela pergunta obvia, o que é direção de arte? Direção de arte é um projeto que envolve toda a concepção estética de uma obra especifica. Existem algumas nuances que diferenciam a direção de arte entre o cinema e a publicidade, mas a finalidade acaba sendo a mesma, nortear a estética para comunicar algo.
Uma boa direção de arte busca alinhar todos os elementos através de uma linha narrativa, onde apesar de o apelo estético existir de forma plena, só é um elemento de apoio para uma mensagem e não o fim por si só. Então vamos as dicas!
1- Entenda os aspectos da comunicação
Quando o arquiteto norte-americano Louis Sullivan, um dos fundadores do movimento modernista na arquitetura disse que a forma segue a função, os arquitetos e designers do século XX começaram a focar mais os seus olhares para o que realmente importava, a funcionalidade das coisas, porém uma funcionalidade que se utilizava de elementos artísticos como uma roupagem para algo maior. Neste ponto começamos a separar o que é arte e o que é design, pois a primeira te permite a inúmeras livres interpretações enquanto a segunda segue um projeto, um objetivo claro. Na comunicação o fundamento primordial é que o emissor se faça entendido pelo receptor, se houver qualquer ruído de comunicação, o objetivo de comunicar pode falhar miseravelmente. No caso da publicidade a mensagem passada deve ser certeira, induzindo o receptor a uma ação específica, para conduzirmos o receptor pela trilha comunicacional desejada é importante que tenhamos o mínimo de conhecimento da semiótica, porém não me aprofundarei neste assunto, pois aqui mesmo no Layer já escrevi um artigo em duas partes falando sobre este tema.(parte 1 e parte 2)
Comunicar pede também conhecimentos que entram no campo da sociologia e psicologia, já que falamos com pessoas que apesar de suas individualidades, fazem parte de um contexto social que influência diretamente o comportamento de cada um. Observem a imagem abaixo e veja como estes entendimentos ajudam na criação de uma peça espetacular.
Aqui temos uma propaganda da Lego feita pela agência JVN de Hamburgo, perceba que com poucos elementos ele passou a mensagem, porém esta mensagem só faz sentido para aqueles que conhecem o contexto (olha a semiótica ai na jogada), e uma vez que o receptor entendeu a mensagem logo é acertado em cheio, missão cumprida!
2- Estude história da arte
A história é sempre cíclica, e com a arte não é diferente, pois de tempos em tempos voltamos a beber dos movimentos de vanguarda do passado. A importância de se entender os movimentos (construtivismo russo, modernismo, futurismo e etc) é o porque daquele movimento, que tem sempre uma ligação com o momento atual do seu tempo e sociedade, ou uma rebelião aos movimentos vigentes.
Este conhecimento sempre nos ajudam muito a implementar elementos e ferramentas para o nosso repertorio visual, vou dar dois exemplos interessantes de como beber destas fontes são imprescindíveis.
A direção de arte criada para a capa do 2ª álbum, You Could Have It So Much Better (2005), da banda escocesa Franz Ferdinand, é uma influência direta do construtivismo russo (1913). Até a primeira campanha de Barak Obama para presidência usou desta referencia, bem irônico por sinal.
No ano de 2000 a banda White Stripes lançou um disco chamado De Stijl, que foi um movimento holandês do ano de 1917. Vou deixar um artigo da USP que fala sobre a influência das vanguardas artísticas históricas.
3- Apure o seu olhar
Vamos falar das benditas referências, tudo ao nosso redor pode ser reciclado para o uso criativo, música, literatura, teatro, vida cotidiana e etc. Aprenda como enxergar o mundo ao seu redor, faça associações, não seja preconceituoso com as manifestações artísticas populares, beba de todas as fontes e retire o que elas tem de melhor. Nunca se aliene a uma única mídia ou referência, crie um olhar múltiplo. Tem um fato histórico bem interessante e que vale a pena ser relatado neste artigo, a Alemanha só se tornou referencia no design mundial, por conta do governo ter ensinado a população a como enxergar um bom design. Varias feiras e eventos foram criados para ensinar o povo em geral. Na internet temos muitos materiais bons para estudos, porem nada substitui bons livros relacionados a arte ,design e comunicação. Na internet temos recortes superficiais que já servem como pontos de partida, mas nunca com a devida profundidade, então como diria Tim Maia, leia o livro rs.
4- Conheça os fundamentos do design
Teoria das cores, tipografia, diagramação e fundamentos da linguagem visual são alguns dos itens indispensáveis para pensarmos em design. O referencial teórico que muitas vezes é menosprezado, é justamente o que vai fazer a diferença em qualquer projeto. Quando vemos aquela animação ou qualquer outro produto visual que nos deixa de queixo caído, não foi por obra do acaso, houve um projeto em que todos os elementos usado tinham uma finalidade e função especifica. Este saber vem justamente dos fundamentos do design, tem um livro muito bom chamado Novos fundamentos do design, da Ellen Lupton e Jennifer Colen que aborda de forma magistral este assunto.
5- Não tenha medo de experimentar
A coisa mais fácil do mundo é sermos fisgados pelas tendências, seguir a moda da semana, este realmente é o caminho mais fácil e menos trabalhoso, principalmente quando falamos de publicidade, mas houve um tempo em que a publicidade se aventurava mais a sair da caixa, não só ela, mas todas as manifestações artísticas em geral. Nos anos 80 e 90 a publicidade brasileira era reconhecida justamente por esta explosão livre de criatividade não tão presas a tendências que atualmente nos engessam mais do que nos libertam. Vou deixar aqui um link de uma matéria da Meio e Mensagem que fala sobre o documentário 30 segundos da HBO, além de ler o artigo sugiro que tentem ver este doc, é uma aula de como pensar fora da caixa e também entender como a diversidade pode ser um elemento mágico para os criativos em geral.
Imagem montagem com elementos do Freepik