Se você frequentemente tem que trabalhar a tipografia nos seus projetos, então escolher, comparar e analisar fontes é negócio sério. Mas gerenciar essas fontes nem sempre é algo automático. Problemas com a instalação e desinstalação, licenças, fontes faltando, conflitos entre arquivos, volta e meia vêm beliscar os designers gráficos e tipógrafos.
Quantas fontes você tem no seu computador? Se você costuma baixar o máximo de fontes grátis que consegue encontrar, ou se investiu em comprar algum pacote de fontes provavelmente deve ter centenas (se não milhares!) de arquivos que podem estar entupindo seu sistema. Imagine que se você mantém todas suas fontes dentro da pasta do Windows/Mac (ou qualquer que seja seu sistema operacional), toda vez que carregar a ferramenta de texto em um programa, ele vai ter de carregar toooodas as fontes do sistema. Logo, segundos ou minutos perdidos, não? E quando está escolhendo fontes para algum projeto, como faz? Vai passando as opções de tipografia uma a uma na lista da ferramenta de texto no Illustrator, por exemplo?
Isso pode não ser muito prático quando se tem mais de mil fontes no sistema. Pior ainda quando trabalhamos em rede com vários computadores compartilhando projetos, especialmente em estúdios/empresas maiores, em que quando é preciso instalar uma fonte perdida, pode exigir alguma burocracia ou perda de tempo só para encontrar onde está a fonte certa pra ser instalada.
Mas existem várias coisas simples que podem ser feitas para organizar e agilizar o trabalho na hora de escolher a tipografia certa para um projeto. A principal delas é usar um software gerenciador de fontes que deixe você ativar e desativa-las quando quiser, organizar suas coleções em grupos, e testar e comparar várias famílias tipográficas de uma vez só sem precisar instalá-las.
Existem várias opções, grátis inclusive, para essa função. Das opções gratuitas para Windows existem várias, mas as mais populares são:
Nexus Font
Já bem conhecido de outros carnavais entre os programas pra Windows, além de ser freeware, é um dos mais simples de usar, pois basicamente trabalha em uma única janela. Enquanto ele está rodando, pode acessar todas fontes no seu computador, incluindo as que não estão instaladas. As fontes podem estar dentro de pastas em qualquer lugar. Existem duas formas de organiza-las: por grupos de pastas e por coleções de fontes. Assim é fácil criar grupos separados de fontes, de acordo com suas preferências: dividir por características, por projeto, etc. Todas continuam em suas pastas originais e podem ser incluídas em várias coleções e grupos.
FontBase
Um pouco mais novo, ainda em versão Beta, só funciona a partir do Windows 7 em diante. Interface simples e funções semelhantes ao NexusFont, mas com um design mais bonito e adição de funções muito bem vindas — como a função de marcar uma fonte pra comparar mais facilmente com outras; e editar estilos de uma fonte ou de coleções inteiras — e um design mais bonito.
Já para Mac, existem menos opções gratuitas. Existe uma versão antiga do Linotype Font Explorer X (1.2.3), que é um ótimo gerenciador da Linotype tanto para Windows quanto para Mac. A versão atual, Linotype FontExplorer X Pro custa 89 euros.
Existem outras opções muito boas disponíveis tanto para Windows quanto para Mac:
Fontyou
É um gerenciador novo, baseado em armazenamento em nuvem, onde ao invés de manter as fontes no seu HD, você pode acessá-las online, além de ter acesso ao catálogo de tipos e foundrys do Fontyou, e poder testar algumas fontes antes de comprá-las. Há a opção de assinatura individual grátis, a Pro (9,99euros/mês) e a para equipes (Team, 14,99 euros/mês), com configurações extras para facilitar o compartilhamento entre vários computadores de uma biblioteca de fontes única para todos.
Suitcase
É o maior nome na indústria do design quando se trata de gerenciamento de fontes. O preço é 120$, mas é um dos programas mais completos, também com opções de sincronia via nuvem e compartilhamento em rede, inclusive com um plugin de auto-ativação de fontes nos programas da Adobe CC.
Adobe TypeKit
Não é exatamente um gerenciador de fontes, mas se você assina o Creative Cloud, então tem a opção de syncar sua biblioteca de fontes do CC e usar as fontes disponíveis no TypeKit, sem se preocupar com questões de licença. O site do TypeKit tem ferramentas de busca e comparação bem interessantes também.
Mas independente de sua escolha de gerenciador, o importante é ter em mente as funções básicas:
- ativação e desativação de fontes;
- organização por grupos, pastas ou tags;
- e a facilidade em conseguir pré-visualizar e comparar famílias diferentes.
Além de ter um gerenciador em que você se sinta confortável e supra suas necessidades, é importante também lembrar de mais algumas dicas:
1. Organize suas fontes por estilos
Crie nomes ou categorias para organizá-las em grupos ou coleções, mas também não encha demais esses grupos: deixe em torno de 20 fontes mais relevantes pra cada categoria, ou separe as que você mais usa de acordo com os designs que costuma criar. Manter suas fontes organizadas como mantém suas músicas é um passo importante pra agilizar a escolha delas.
2. Separe suas favoritas
Sempre tenha uma coleção com suas fontes favoritas, que você já sabe que funcionam em várias situações, pra usar a qualquer momento. Nossa memória é falha, então ter essa listinha preparada pode ajudar bastante na hora da correria.
3. Delete fontes duplicadas e ruins
Às vezes baixamos algumas fontes idiotas num momento de fraqueza. Mas depois de uma boa noite de sono, reconhecemos uma fonte malfeita e inútil quando vemos uma. Delete permanentemente esses erros de sua vida, e também arquivos de fontes duplicados, pois acabam virando um peso morto no seu sistema (ok, um arquivo ttf ou otf é micro, mas quando se tem mais de duas mil fontes e quase 1/3 são esse caso…), e só pesam na hora em que você passa pela sua lista de fontes.
4. Nunca delete fontes pré-instaladas
Por mais que você despreze a Comic Sans, é melhor não confundir seu computador apagando todas fontes de má fama. Muitas dessas fontes são necessárias pro seu sistema operacional funcionar sem problemas, então é melhor deixá-las instaladas e só desativar pelo gerenciador de fontes quando quiser.
5. Dê tratamento VIP para as fontes super legíveis
Leitura deve ser a prioridade número um. A adorável Giddyup Std pode enche-los de amores, mas dificilmente vai ter tanto uso quanto uma fonte como a Glober. Sendo esse o caso, talvez seja uma boa ideia desativar a Giddyup e criar uma coleção chamada “Legíveis”, pra ter a cereja do bolo rapidamente em mãos quando for preciso.
6. Não instale fontes em múltiplos formatos
Elas são basicamente duplicatas sem sentido e causam bugs. Se você tem uma fonte em formato OpenType, não há necessidade de ter a mesma fonte em TrueType*. É abrir espaço para dificuldades técnicas.
*Adendo: Mas qual a diferença entre um TTF e OTF? Fontes TrueType são um formato mais antigo, que guarda informações de tela e de impressão num único arquivo, facilitando que diferentes sistemas e produtos consigam ler, usar e imprimir as fontes. Já o OpenType é mais recente, e possui as mesmas características do TTF, mas com o adendo de poder armazenar até 65mil caracteres, abrindo espaço para ligaturas, glyphs, caracteres alternativos, etc; o eu no nosso caso, é sempre mais interessante. Para entender melhor confira essa ótima explicação do TypeKit Practice.
7. Aprenda a usar suas licenças
Esse é um assunto mais complicadinho. Sabemos que a criação de uma tipografia envolve milhares de horas de trabalho especializado por alguém que merece ser compensado por isso. Mas infelizmente, na prática, ainda são poucos os casos em que se usam fontes devidamente licenciadas. E mesmo quando são é dificil manter claro que tipo de licença a fonte tem, porque muitas são bem específicas quanto à liberação de uso: embedável em PDFs, somente como fonte web, somente para formato eBook, etc. Apesar de ser algo que geralmente ninguém presta atenção, em casos extremos pode causar confusão séria, como recentemente em que a NBC Universal teve que pagar uma multa gorda por falta de licença correta na fonte de alguns produtos de merchandising do Harry Potter.
A boa notícia é que é muito fácil organizar suas fontes manualmente, ou com ajuda de um gerenciador. Empresas maiores podem delegar a responsabilidade de administrar as fontes para uma pessoa específica, geralmente alguém de TI.
Como qualquer coisa ligada à caligrafia, tipografia e diagramação, saber administrar suas fontes também pede um pouco de prática, mas com certeza é um ótimo passo para agilizar e facilitar o trabalho pro resto da vida.
Fontes:
Creative Market / Powerful Management Apps for Type Addicts
Creative Market / Font Management Practices you Should Know
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