Qual o nome daquela coisa? #4 Aberração Cromática | Ctrl+Alt+N

Prosseguindo com o roteiro desta série digna de reprises, chegamos à quarta matéria, meu pirraia. Hoje o termo da vez será aberração cromática, fenômeno que, se você nunca ouviu falar, com certeza já chegou a ver.

Roteiro? Série? Quarta matéria? Que? Então, você que chegou agora por aqui, isso que está lendo é nossa quarta matéria de uma série que demos início três semanas atrás, para tratarmos de termos normalmente desconhecidos por profissionais da área. A ideia aqui é ajudar a fazer uma pesquisa mais direcionada, para que de alguma forma, você possa aprimorar seus estudos e/ou trabalhos. Antes de começarmos, convido a ler outras matérias por aqui: #HUD, #MemphisDesign e #BroadcastDesign.

Termos – Direto ao ponto

Hoje em dia, com a facilidade de ter uma câmera acoplada ao celular é pouco provável que você nunca tenha tirado uma foto na vida, né? Também não seria estranho afirmar que provavelmente você já chegou a tirar uma foto que revelasse algum tipo de anomalia visual. Seja pela interferência do sol, tremida na câmera, um ovni – nunca diga nunca -, lente manchada ou quem sabe um tempo de abertura muito longa do diafragma. Então é interessante perceber que esse tipo de fenômeno nem sempre é devido a erros estruturais do equipamento. Muitos deles podem ocorrer apenas pelas variações das características dos materiais que compõem uma câmera ou lente fotográfica.

Dentre algumas destas anomalias presentes em fotos, além das suas classificações entre cromáticas e monocromáticas, podemos encontrar os termos: barrel distortion, chromatic aberrations e purple fringing, os quais ganham dimensões mais engraçadas quando traduzidas para a forma literal: distorção de barril, aberrações cromáticas e franjas púrpuras. Sim, franjas púrpuras. Isso sem mencionar as distorções de bigode (mustache) e alfineteira (pincushion).

by Cécile Dormeau

by Cécile Dormeau

Todos termos citados acima se referem a fenômenos ópticos conhecidos há bastante tempo, bem antes do advento da fotografia digital e das famigeradas selfies. Refiro-me à coisa de séculos passados mesmo, e que podem afetar desde óculos até telescópios. Como hoje em dia a tecnologia tem um crescimento exponencial, o aumento de complexidade das lentes e as reduções nas dimensões das câmeras sofrem constantes modificações, alguns desses fenômenos foram se agravando e ficaram mais conhecidos pela comunidade de fotógrafos.

Aberrações Monocromáticas

Esses tipos de anomalias também são retratadas como aberrações geométricas e foram identificadas por Ludwig von Seide em 1857. As aberrações de Seidel, como são chamadas atualmente, se configuram como aberrações monocromáticas porque afetam a imagem como um todo em vez de cores específicas. Embora estes problemas distorçam a imagem de alguma forma, tecnicamente o termo distorção se refere a apenas uma das cinco aberrações geométricas identificadas por Seidel.

Exemplo de distorção de barril e de alfineteira (Julio Preuss)

Exemplo de distorção de barril e de alfineteira (Julio Preuss)

Aberração Cromática

Este tipo de aberração, como o nome já sugere, são problemas que ocorrem nas cores da imagem. Isso acontece quando diversos comprimentos de onda das cores se diferem pelos índices de refração da lente. Ou seja, ocorre quando a lente não é capaz de trazer os comprimentos de onda da cor para o mesmo plano focal. Um sistema óptico livre de aberrações cromáticas é chamado apocromático.

Aberração Cromática

Aberração cromática

Aberração cromática corrigida

Aberração cromática corrigida

 

Lentes de menor qualidade ótica ou excessivamente complexas (muito compactas, com zoom enorme, etc) tendem a apresentar o fenômeno com maior intensidade. Já nas lentes melhores, são usados diferentes tipos de vidro ou vidro tratado com flúor para reduzir as aberrações. O suprassumo da tecnologia são as lentes apocromáticas (apo), capazes de focalizar três diferentes comprimentos de onda no mesmo plano, minimizando as aberrações. – Techtudo

Outra aberração cromática conhecida da galera é a purple fringing – aquela franja púrpura citada acima, no qual também podemos traduzir a palavra fringing para dispersão –, que são aqueles fantasminhas arroxeados que aparecem ao redor de partes da imagem, que podem aparecer mesmo em câmeras com ótimas objetivas, já que as causas se dão pelas microlentes do próprio sensor da câmera.

Exemplo de aberração cromática (Julio Preuss)

Exemplo de aberração cromática (Julio Preuss)

Purple Fringing

Purple Fringing

Por que a aberração cromática é importante?

Bom, aqui é um tópico importante para ficarmos atentos, porque dependendo da aplicação e dos gostos pessoais de cada um, esse tipo de “defeito” pode variar bastante de aceitação. Não é porque o termo é considerado uma anomalia que devemos sempre corrigi-lo.

Na comunidade de motion design e animação, por exemplo, o uso de aberração cromática chega a ser aceitável, principalmente para indústria 3D, em que arriscaria dizer até que aberração cromática é algo obrigatório. O lema para se fazer uma boa peça 3D é a seguinte: para deixar perfeito, faça imperfeito. Ok, pode parecer confuso mas explicarei melhor abaixo.

Nada no mundo real é 100% perfeito, há sempre camadas de sujeiras, distorções, focos, luminosidade, poeira, etc, que torna o cenário ao nosso redor um ambiente imperfeito. Ou seja, se você produz uma peça 3D sem nenhuma imperfeição aplicada, a maioria das pessoas notarão que algo de errado não está certo  algo está errado.

Integrar diferentes efeitos de lente em seu trabalho ajudará a vender o realismo e fazer as pessoas esquecerem que estão vendo algo criado pelo computador. Mas claro, o uso precisa ser sutil e correto, nada de exageros.

© 2014 Sony Computer Entertainment America

© 2014 Sony Computer Entertainment America – The Order

Existem outros milhões de efeitos de lentes – ou não -, que você pode experimentar colocar em suas animações para ressaltar o realismo da peça, como por exemplo: Light Wrap, Color Grading, Vignette, Lens Flare, Lens Distortion, Optical Ghosting, Motion Blur, Depth of Field, Lens Dust and Scratches e Noise e Grain, os famosos ruídos.

Vamos fazer um pequeno teste aqui: coloque seu dedo indicador a um palmo de distância do seu nariz. Ao fazer isso, quando você direciona o seu olhar para o dedo e as coisas que estão em segundo plano – atrás do dedo – são automaticamente desfocadas. Caso você faça o contrário, seu dedo fica desfocado. Isso é o mundo real, beleza? Agora caso a sua imagem 3D não tenha nenhum tipo de Depth of Field, por exemplo, o negócio não fica crível, saca? Mesmo que esteja perfeitamente modelado, etc.

Muitos animadores utilizam esse efeito de aberração cromática em animações 2D, mas nesse caso o uso se torna mais pessoal, particularmente gosto da sutileza gerada pelas texturas e aberrações. É uma boa alternativa para fugir um pouco dos vetores com suas cores chapadas.

Como fazer?

Existem muitas maneiras de se conseguir forçar uma aberração cromática digitalmente e, dois tutoriais que achei bem interessante e direto ao ponto foram os do Tutorama, no qual eles ensinam como fazer duas alternativas no Adobe After Effects e uma no Adobe Photoshop, ambos programas de pós-produção. Ah! É importante ressaltar uma dica: deixe para aplicar estes efeitos apenas numa pós-produção. Obrigado, de nada.


Conclusão

Essa é uma pegada da animação na qual vejo como sendo de suma importância para qualquer nível de profissional; não porque o uso dos efeitos seja obrigatório, mas porque isso trabalha a percepção de cada um.

Inclusive, uma bela dica para quem trabalha com essa área é começar a tirar umas fotos por aí. Sério! Seu olhar artístico muda completamente quando você mantém contato direto com a fotografia. Você ganha uma percepção incrível e isso o puxa pra um next level gradativamente.

Fique sempre atento a estes quesitos porque de uma forma ou outra você acabará usando algum destes efeitos um dia. Por isso ter um bom senso nessas horas para dosar com sutileza é essencial.

Apesar de não ter compartilhado referências de vídeo nesta matéria, o que deixaria o conteúdo muito extenso, coisa que sempre faço, não deixarei de recomendar uma bizurada clássica nos trabalhos da frametouch, porque eles brincam muito com isso e sou super fã dos trabalhos da galera.

Espero que esta matéria tenha ajudado mais uma vez e, conte-nos o que achou nos comentários. Também não esqueça de compartilhar com os amigos!!


Fonte: Techtudo, InfoEscola, Pluralsight e Tutorama.

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