A Tartaruga Vermelha é um exemplo deslumbrante do que a animação é capaz de alcançar.
Coproduzida pelo Studio Ghibli, a animação é uma fábula animada, silenciosa, decidida e linda, sobre o homem e a natureza.
“Após sobreviver a um naufrágio, um homem acaba em uma ilha completamente deserta onde consegue sobreviver através da pesca. Na tentativa de deixar a ilha, constrói uma jangada que sempre ao ser lançada ao mar é destruída por um misterioso ser. Logo ele descobre que a causa é uma imensa tartaruga vermelha, com quem manterá uma relação inusitada”
Estreada na França em junho de 2016, a animação vem para o território brasileiro e chega aos cinemas em 2 de fevereiro de 2017.
The Red Turtle dirigida pelo animador holandês Michaël Dudok de Wit é uma animação coproduzida pelo Studio Ghibli (Princesa Mononoke, A Viagem de Chihiro), mas não possui nenhuma das características do Ghibli. É um filme estrangeiro, mas não contém diálogo, conta uma história universal através de músicas e belas ilustrações. A animação tem elementos mágicos, mas está profundamente enraizada na experiência humana.
Uma ilha deserta
O filme possui um estilo clássico de enredo: depois de uma furiosa tempestade arremessar o homem para fora de seu barco, ele é carregado pela maré até uma ilha deserta onde procura por sinais de vida humana, e sem sucesso começa a construir uma jangada para voltar a sua origem. Mas nós nunca descobrimos de onde ele veio, ou quando veio.
A Tartaruga Vermelha evita quaisquer indicadores que sugerem sobre a terra, onde ou em que período do tempo a história do homem se passa. A ilha tropical em que ele se apodera é literal e figurativa, um cenário discreto e isolado, afastado das especificidades do mundo maior, uma página em branco na qual Dudok de Wit esboça um amplo, mas belo exame de existência humana do mundo natural.
O homem é impedido de sair da ilha pela gigante tartaruga vermelha que quebra sua jangada sempre que tenta se dirigir ao mar. Mas, como indicado por sua cor, esta não é uma tartaruga comum, e sua insistência em frustrar as tentativas de fuga do homem está enraizada em algo maior do que o simples antagonismo. A tartaruga transforma-se eventualmente em uma mulher de cabelos ruivos e acabam tendo uma criança juntos, um menino que cresce com uma conexão natural à ilha, que o homem tentou uma vez tão desesperadamente escapar.
Fora da transformação da tartaruga vermelha, a história prossegue de forma realista, fixada mais na ligação de seus protagonistas ao seu mundo e uns aos outros do que o raciocínio – lógico ou metafórico – por seus elementos mágicos. A tartaruga pode ser o que impulsiona a história, mas sua existência não é o ponto, uma distinção que posiciona The Red Turtle diretamente no reino da Fantasia.
O conto simples do filme é secundário aos seus visuais deslumbrantes
Embora a narrativa da The Red Turtle se estenda ao longo de muitos anos, não é especialmente complexo ou detalhado. O filme possui 81 minutos e prossegue de forma simples e deliberada, apesar de seus elementos míticos. Em última análise, é uma história tranquila, o tipo de coisa destinada a ser descartada como chato pelos telespectadores que preferem estimulação narrativa constante.
O enredo não é o que é interessante sobre a animação, nem é a fonte do poder do filme. Este é um projeto extremamente lindo, utilizando cor e luz para evocar as emoções dos personagens que nunca dão voz. Sua visão do mundo natural repleta de energia e propósito é ao mesmo tempo convidativo e imponente, cheio de detalhes inesperados e movimento que oscilam entre o realismo e a abstração da luz como o momento exige.
O estilo de arte da obra é mais em linha com animação europeia do que japonesa, seus personagens esboçam olhos pretos em busca de trazer mais movimento e enquadramento do que suas expressões faciais. As composições do filme são incríveis, muitas vezes isolando as figuras humanas minúsculas em meio à exuberante paisagem natural.
O uso de dinâmico de luz e sombra em The Red Turtle é uma marca icônica dos curtas-metragens de Dudok de Wit, como o premiado pelo Oscar “Pai e filha”, o qual trouxe à atenção do Studio Ghibli. O Cofundador e diretor da Ghibli, Isao Takahata (Grave of the Fireflies) ajudou Dudok de Wit a expandir sua visão em uma obra de longa-metragem, e seu apreço por detalhes eloquentes pode ser visto no produto final – embora Dudok tenha feito questão de esclarecer que nem ele e nem Takahata buscaram emular a aparência de outras produções Ghibli em The Red Turtle.
E aí, Lemonauta? Ficou curioso pra assistir a essa anima?
Então se liga nessa lista com alguns longa-metragens animados do mundo todo que saíram em 2016 ou chegarão em 2017.
Fonte: VOX