Esta é uma questão que tem me feito refletir bastante nas últimas semanas. Será que dá pra iniciar uma carreira como Motion Designer sem cobrar valores muito baixos nos primeiros projetos?
Eu, com certeza, já cobrei valores bem baixos por projetos complexos no começo da minha carreira. A minha situação era a seguinte: eu trabalhava numa agência de publicidade como designer gráfico júnior. Os freelas de motion começaram como uma renda complementar que eu fazia no meu tempo livro. Meu salário de júnior era bem baixo, portanto, fazer um freela que pagasse metade do meu salário (ou seja, um valor mais baixo ainda) já parecia algo “relevante”.
Eu não me lembro dos valores exatos mas, no começo, eu certamente cobrava algo em torno de 500 a 800 reais por um vídeo de mais de 1 minuto, full animation, onde eu iria criar o design, ilustrar e animar tudo, incluindo animação de personagens em todas as cenas. E pode haver gente hoje que ache estes valores são razoáveis por trabalharem por preços ainda mais baixos.
Antes de mais nada preciso dizer que cobrar valores muito baixos prejudica o campo profissional como um todo. É ruim, não só para o profissional que cobra pouco, que poderá ter dificuldade de subir os preços, mas também pro mercado em geral, que começa a enxergar nosso trabalho como algo de pouco valor.
Claro, na época que peguei meus primeiros freelas de motion minha animação era péssima. Meu design já era razoável, porque já tinha estagiado e trabalhado como designer gráfico por um tempo, o que certamente me permitiria cobrar bem mais do que cobrei. Acontece que o preço baixo não foi por pressão do cliente. Foi parte pelo meu desconhecimento sobre valores praticados no mercado, e parte pela minha insegurança com aquela nova área que pretendia atuar. Mas também é verdade que, na época, estes clientes realmente não teriam condições de me pagar muito mais do que pagaram, e é aí que está o “pulo do gato”!
Meus primeiros clientes de motion foram startups! Este seria o meu resumo sobre o que startups são: empresas criadas por pessoas jovens, que têm como principal objetivo serem inovadoras mas que, a princípio, não têm dinheiro pra nada. Claro que essa foi uma definição ridícula, mas é a melhor para explicar o meu ponto de vista!
Partindo do pressuposto que é muito difícil não cobrar pouco no começo, eu diria que a solução para “amenizar” os danos é escolher bem para quem você quer fazer seus primeiros projetos. Startups recém fundadas (não aquelas que já deram certo) são uma ótima oportunidade de fazer jobs legais, criativos e que mostrem todo o seu potencial. É por isso que considero que estes primeiros projetos low budget foram bem importantes para minha carreira. Eu pude fazer exatamente o tipo de projeto que eu queria e eles agregaram muito ao meu portfólio.
Outro pensamento que eu tenho sobre cobrar pouco no início da carreira é super controverso e digno de sofrer muitas críticas: eu penso que em certas ocasiões é melhor trabalhar de graça do que cobrar pouco. Eu já escrevi um artigo só sobre este assunto. Lembrando que trabalhar de graça pra mim significa fazer o projeto que você quiser, do jeito que quiser e no tempo que você precisar. É o “preço” que você precisa cobrar.
Mas é possível ou não começar sem cobrar pouco?
Para isso, você vai precisar ter disciplina para produzir seus próprios projetos pessoais e construir um portfólio legal por conta própria. A verdade é que o portfólio é essencial para aumentar o valor do seu trabalho. É muito difícil cobrar valores justos sem algo feito anteriormente que prove suas habilidades. Isso acontece porque, sem ver bons trabalhos anteriores, o risco do cliente ao te contratar passa a ser bem alto. Quanto maior o risco, menos ele vai estar disposto a pagar.
Na verdade, no começo da carreira, seu objetivo, infelizmente, não deve ser gerar lucros. É preciso, antes disso, construir um portfólio e uma reputação. É como se você estivesse fazendo um investimento. E, sim, é verdade, fazer projetos pessoais, querendo ou não, é o mesmo que estar trabalhando de graça. Sendo assim, não seria melhor trabalhar para clientes, mesmo ganhando pouco? Poisé! Esta pergunta eu deixo pra vocês mesmos responderem.
Eu termino este artigo com um sentimento ruim. Acabei concluindo que sim, trabalhar por pouco ou nada no começo parece inevitável. Mas é preciso que as pessoas não se sintam confortáveis fazendo isso. Não sintam que “cobrar pouco” é normal, e que é assim mesmo que as coisas funcionam. Eu comecei a cobrar “melhor” quando comecei a trabalhar como terceirizado para estúdios, em vez de atender clientes diretos. Isso me permitiu atender clientes grandes e entender melhor sobre os valores praticados no mercado.
Por mais que tenha ganhado menos do que merecia, eu ainda tive sorte. As primeiras startups que atendi foram ótimas clientes. Me deram liberdade e me permitiram fazer o projeto que eu queria fazer. Um trabalho semelhante ao que eu faria como um projeto pessoal. E o mais importante: me permitiu mostrar minha capacidade, na época, para os estúdios que me contrataram posteriormente. Este deve ser seu maior objetivo ao pegar seus primeiros trabalhos.
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A capa deste artigo é um frame de um dos meus primeiros freelas de motion para uma startup sobre o qual eu falo no artigo. Hoje eu agradeço muito pela oportunidade de ter realizado este job.