Esse texto é uma tradução livre da matéria original escrita no Motionographer, dia 24/06/2016.
É um relato de uma situação que infelizmente quase todos os profissionais de qualquer área criativa vão encontrar pelo menos uma vez na sua carreira, e por isso mesmo merece ser mais divulgado, discutido e pensado.
Essa semana foi divulgado um email enviado por Ben Radatz, um dos fundadores do famoso estúdio de motion design MK12 (talvez o inspirador oficial da tipografia cinética contemporânea), a um colega.
Como muitas pessoas que estão no jogo a um certo tempo, ele está preocupado com a direção que a indústria está tomando. Todos, aparentemente, querem mais por menos — na metade do tempo. MK12 foi abordado para participar de um pitch no esquema de concorrência, em um trabalho para uma empresa multinacional. Ben não achou isso nem um pouco legal. Nesse email que ele escreveu para um colega, explica o porquê:
“Estamos recusando o [nome do cliente], e gostaria de rapidamente explicar o motivo.
Tanto a forma como o trabalho nos foi apresentado, e as informações fornecidas são problemáticas. Primeiramente, não podemos tomar uma decisão sobre aceitar um pitch se só sabemos os detalhes criativos do projeto. Muitas e muitas vezes, nós trabalhamos em uma apresentação para descobrir só no final que o orçamento é menos do que o mínimo necessário para pagar a equipe. Isso em projetos grandes para grandes marcas, que deveriam conhecer melhor o quanto custa esse tipo de trabalho. Mas elas não sabem, e por isso precisamos ser cuidadosos. Portanto, precisamos de estimativas de orçamento e cronograma antes de considerarmos qualquer projeto, ou pelo menos uma confirmação de que o cliente não tem nada disso e precisa que nós façamos a proposta.
Além disso, esse pitch é ofensivo. Não somente temos que primeiro fazer um pitch para ganhar o direito de no final realmente realizar o pitch final, mas temos que trabalhar de graça por duas semanas, e aí, depois disso tudo, a agência fica no direito de usar o que criamos durante esse período.
Em que mundo isso faz sentido? A empresa mãe da [nome do cliente] vale $240 bilhões.
Não consigo pensar em nenhuma outra indústria em que esse tipo de condição seja aceitável. É explorador, antiético e, francamente, imprudente. Temos famílias para alimentar, empregados para pagar e portas a manter abertas.
[nome do cliente] não trabalha com caridade, e é uma vergonha eles pensarem tão pouco da própria marca ao ponto de não enxergar o valor em dedicar uma fase exploratória para isso. Mas a agência — que acredito estar na correria — sabe que existe uma dúzia de estúdios pertinho daqui precisando de trabalho, que faria isso de graça, e ainda ficaria feliz por isso, porque, infelizmente, é assim que o jogo é jogado hoje em dia.
Nós estamos com certeza precisando de trabalho também, mas não à custa do nosso tempo livre e da nossa dignidade. Porque é disso que no fim das contas se trata — esse pitch não está pagando nenhuma conta, então aceitá-lo significa subtrair o nosso tempo com nossas famílias, nossos fins de semana e nossas férias.
Se eles não dão valor suficiente ao nosso tempo para pagar por ele, então nós não damos valor suficiente ao projeto para considerá-lo. E isso é azar deles, por que nós somos muito, muito bons no que fazemos.
Adoraria que você repassasse esse email para a agência (apesar de entender se você não o fizer), porque isso é uma prática que machuca a todos (menos eles) e precisa parar. Talvez estúdios como o nosso sejam os principais culpados por fingir estarem ok com isso, mas talvez se uma quantidade suficiente de nós falar alguma coisa e parar de participar desses pitches, as coisas possam mudar.
Obrigado por ouvir,
Ben”
Realmente esse tipo de proposta de trabalho é bastante comum, principalmente entre agências de publicidade, mas cada vez mais, tanto no Brasil quando no mercado internacional, questiona-se o quanto essa prática tem contribuído para um mal funcionamento das indústrias criativas. Fala-se muito na necessidade de educar os clientes, de alguma forma, e também na questão antiética e desleal envolvida em muitos casos. Certamente um assunto que ainda tem muito para ser falado, e que quanto mais for pensado por nós profissionais, mais avançará positivamente.
E você? Conhece casos assim? Já passou por isso? Seria ótimo compartilhar com a gente. Comente. Vamos falar mais sobre isso!
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