Este artigo é uma reflexão que vai além do universo da animação e da nossa área de atuação. É sobre como um novo conhecimento é capaz de mudar a maneira com que pensamos, e assim, trazer vários benefícios pra nossa vida ㇐ inclusive nos tornando melhores motion designers.
O sistema educacional que temos é realmente antiquado e, certamente, somo obrigados a aprender muita coisa desnecessária nos vários anos que passamos na escola. Porém, nem tudo que parece irrelevante realmente é.
Depois de me formar em design, tornando-me um profissional criativo, o senso comum olharia para trás e diria: afinal, passei tanto tempo aprendendo sobre equações de segundo grau! Para quê? Nunca mais tive que usar a fórmula de báskara durante minha vida profissional e, portanto, aprender tudo aquilo foi totalmente desnecessário.
Este raciocínio é um grande equívoco. A verdade é que cada conhecimento nos obriga a exercitar certos tipos de raciocínio e (um neurocientista que me corrija) ativar diferentes regiões do cérebro. Isso significa que, mesmo que você nunca mais na vida use uma equação de segundo grau, aprender aquilo desenvolveu em você certo raciocínio lógico que você poderá usar para várias outras coisas. Em suma, aprender aquilo te deixou mais inteligente.
Cada nova skill que você se propõe a aprender, te faz pensar de uma forma diferente, com a qual nunca havia pensado antes e, portanto, adiciona a você muito mais do que a skill em si.
O exemplo da matemática é, na verdade, bem aplicável ao universo do motion, porque fazemos muitos cálculos em animação. Principalmente as equações de segundo grau, que nos fazem entender melhor a lógica por trás dos eixos “x” e “y”, usados sempre nos nossos graph editors. Porém, acredito que cada disciplina acadêmica desenvolve um “tipo de pensamento” diferente, e cada um deles afeta nossa forma de ver e entender o mundo. Sem falar no aumento do nosso “repertório”, que é sempre tão importante em tudo que criamos.
Os softwares de 3D que usamos são bastante complexos, e é muito importante entender a lógica por trás de cada ferramenta. Sem isso, fica impossível dominar o programa. Eu não me assustaria se uma pesquisa revelasse que os bons alunos de matemática tem muito mais facilidade de aprender programa do que alguém que só tiravam notas baixas nesta matéria.
Aprender matemática desenvolve seu raciocínio lógico. E este raciocínio você poderá usar onde quiser.
Eu falei muito sobre disciplinas acadêmicas, mas isso serve pra tudo. Acredito que alguém que toca guitarra tem uma noção de ritmo muito melhor do que alguém como eu, que não sabe nenhum instrumento, e portanto vai ter mais facilidade dominar o timing na animação. Um cabeleireiro que resolve virar motion designer vai ter uma noção incrível de proporção e simetria, porque são conhecimentos úteis quando corta o cabelo de alguém. Pense sobre quantas habilidades diferentes um cozinheiro deve ter para chegar a um prato perfeito. Provavelmente algumas delas seriam úteis para um designer gráfico!
Este artigo é um convite para que o leitor ouse desenvolver uma habilidade totalmente nova e não pense que, para se tornar um animador melhor, ele só precisa estudar animação.
Eu mesmo desenvolvi uma facilidade maior para organizar meus projetos desde que comecei a escrever estes artigos para o Layer Lemonade. A escrita me exigiu a habilidade de transformar pensamentos em palavras de uma forma clara e objetiva. É um esforço para transformar o caos em algo lógico e que faça sentido pra quem lê. Certamente essa habilidade também me ajuda a resolver questões de design e de storytelling nos meus projetos.
Por os pés em um território desconhecido é sempre um desafio, mas tenho certeza que cada habilidade nova nos faz pessoas um pouquinho melhores, mesmo que as vantagens não sejam tão nítidas.
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A capa deste artigo é uma ilustração de Klawe Rzeczy.