Tony Zagoraios é um Motion Designer e Diretor de Animação premiado em todo mundo. Natural da Grécia, Tony estudou música e diz que ela o ajudou a abordar motion design da mesma maneira que aborda música; onde você precisa ser criativo, mas também muito preciso para compor uma obra-prima. Zagoraios atualmente reside em Atenas, onde faz parte do YELL, estúdio mundialmente reconhecido – além de ser um mentor no MoGraph Mentor.
Layer Lemonade – Vamos começar pelo início de tudo. Onde você nasceu e cresceu e o que costumava fazer quando criança?27
Tony Zagoraios – Nasci na Grécia e cresci na vizinhança de Kallithea, uma pequena cidade de Atenas. Para ser honesto, eu não era bom aluno e meus anos de adolescência foram duros. Costumava tocar guitarra o dia inteiro e andar de moto. Sabe como é… Nos anos 90, simplesmente não existiam PCs em sua casa; com sorte o suficiente, você poderia ter um console Sega ou Nintendo. Comprei meu primeiro PC quando entrei na faculdade, e percebi que queria ser Motion Designer quase 9 anos mais tarde; o que significa que mudei minha vida e carreira drasticamente.
LL – Todos temos nossos heróis da infância; aquelas pessoas que nos guiam e nos fazem ser pessoas melhores – seja pessoalmente, seja artisticamente. Desse modo, quais suas maiores influência dessa época da vida?
TZ – Admiro muitas pessoas desde criança, talvez não como heróis, mas como mentores de vida. Por exemplo, a disciplina do meu herói da guitarra Joe Satriani; o magnífico cérebro do psiquiatra Jacques Lacan; o talento do design de Saul Bass e a mente genial de M. Escher, foram realmente algumas das personalidades que me inspiraram e motivaram durante estes anos.
LL – A Grécia é famosa por trazer à luz grandes obras da Humanidade. Você acha que a cultura grega possui força na comunicação visual moderna? Em sua opinião, quem além de você, são os expoentes da indústria grega atual?
TZ – Isso é verdade, mas infelizmente não acho que a Grécia contribuiu seriamente para a comunicação visual moderna. Nós gostamos de ouvir sobre a nossa história, mas não há nada importante quando as coisas vêm para a arte contemporânea. Talvez tenhamos medo de distorcer nossos costumes e cultura. Mas admito que existem algumas agências de design aqui na Grécia e artistas individuais, que realmente fazem a diferença, criando excelentes peças de arte, com reconhecimento mundial. O Motion Design está começando a crescer também, e passo a passo uma comunidade está sendo criada com pessoas e estúdios talentosos.
LL – O desenvolvimento artístico e profissional leva tempo e muita disciplina. Como você desenvolveu suas habilidades artísticas e quais métodos criou para ser bom no que faz?
TZ – Basicamente, sou um autodidata do Motion Design e passei incontáveis horas aprendendo softwares e as técnicas, embora não acredite que tenha alcançado altos níveis de complexidade ou habilidades avançadas. Acredito que, a partir do momento em que decidi deixar de lado o aspecto técnico do nosso trabalho, e foquei mais em minha própria visão e estética, revelou-se meu caminho criativo.
Sobre métodos, sempre sigo uma meta pessoal, para aprender algo novo cada semana. Além disso, mantenho um notebook com questões específicas que preciso melhorar, por exemplo, iluminação 3D, Hand Lettering e exercícios relacionados para fazer disso uma realidade.
LL – Você é um cara versátil no que faz (indo do 2D ao 3D foto realista), mas tem uma linguagem própria facilmente reconhecida. Desde o início você quis ter algum tipo de “assinatura” ou isso aconteceu por mero acaso? Como define seu estilo?
TZ – Sim, isso é o que estou tentando alcançar todos esses anos. Para mim, encontrar um estilo e continuar trabalhando apenas nele me deixa entediado e me sinto estático. Gosto de ser diversificado, mas mantendo minha voz distinta e ressonante por trás disso.
É muito difícil definir se há uma assinatura específica sobre o que faço, porque ainda estou tentando encontrar meu caminho e continuar recriando a criatividade. Acho que minha obsessão com geometria, tipografia, números e atmosfera, estilo noir, juntamente com surrealismo e abstração, pode definir principalmente o meu estilo.
LL – Quais os softwares que mais usa em sua pipeline e porque?
TZ – Bom, eu uso principalmente Cinema 4D e After Effects. Em nosso estúdio – YELL -, temos uma pipeline diferente porque usamos principalmente 3ds Max, então significa que na maioria das vezes faço Art Direction/Styleframes no C4D e depois passamos para 3ds Max para produção final. O After Effects é sempre a nossa ferramenta de composição e, claro, fazemos tudo de animação 2D por ele. Além disso, usamos o Illustrator para design, layouts e algumas vezes Houdini ou Nuke para diferentes tipos de projetos.
LL – O Motion Design explodiu nos últimos anos, sendo usado de forma onipresente em todos os meios de comunicação. Como você enxerga esse crescimento de uma linguagem tão única e flexível?
TZ – Fico feliz com isso e é realmente incrível ver o crescimento do Motion Design. Às vezes fico “assustado” com esses jovens talentosos… A maioria deles sequer têm 22 anos e já têm grandes habilidades. Outra grande coisa é a enorme quantidade de fontes de aprendizagem na internet: de tutoriais a cursos on-line com cronogramas de aprendizagem em tempo integral. Fico feliz sendo um professor no MoGraph Mentor nos últimos 2 anos e meio, e estou chocado com a quantidade de pessoas que entram na indústria com paixão e amor.
Sobre a mídia em geral, acredito que realmente tem um crescimento, mas precisamos de mais trabalho para estabelecer a necessidade do Motion Design em todas as suas plataformas. Gostaria de ver mais Mograph em comerciais de TV e filmes de cinema e menos vídeos explicativos. Sem ofensas sobre isso, por favor 🙂 Adoro alguns deles, mas sinto uma tendência de uso excessivo.
LL – Sendo autodidata, quais dicas daria a quem começou do mesmo modo e continua a aprender sozinho a difícil arte da animação/motion design?
TZ – Hoje as coisas são muito mais fáceis, mas ao mesmo tempo extremamente difíceis. Parece estranho, mas deixe-me dizer o que quero dizer: com o crescimento da tecnologia e ascensão do Motion Design, há uma grande quantidade de conhecimento na web, mas também um grande número de projetos e artistas, o que torna isso mais difícil para os jovens iniciantes. Em poucas palavras, a concorrência é maior e o nível muito alto. Vejo pessoas paradas por dias, garimpando uma enorme quantidade de referências para inspiração e idéias, mas no final, não avançam. Diria para não temer qualquer tipo de falha, para experimentar muito, mesmo que sua técnica não não seja perfeito ou precisa. Expresse-se com as ferramentas que você já tem e cometa erros todos os dias; a causa destes você pode aprender e também surgem coisas interessantes e frescas. Minha frase favorita é: “O erro é superior a arte”
LL – Qual sua abordagem ao trabalhar em projetos incríveis como SKINOS e ED AWARDS 2015?
TZ – Estes são dois dos meus projetos favoritos. Em primeiro lugar, crio um script visual, o que significa fragmentar meus elementos e o que quero apresentar através das cenas. Depois disso, começo a dirigir as cenas; a criação de ângulos de câmera e finalizo layouts e composições. Um storyboard se segue e então um animatic apenas para certificar-me de que a animação tem o fluxo apropriado. Quando tudo isso termina, sigo para terminar a direção de arte com styleframes e então nos movemos para iluminação, texturização e animação. Finalmente o trabalho é refinado na pós-produção para dar os toques finais e beleza. Por último, mas não menos importante, criamos a música – mas na maioria das vezes já temos um tempo e beat do processo animático, para que possamos definir o ritmo da peça.
LL – Você já aceitou um projeto e percebeu, tarde demais, que não teria habilidades pra executá-lo?
TZ – Raramente, mas isso não significa que gosto de me manter em uma zona de conforto. Adoro expandir minhas habilidades, mas procuro ter certeza de trabalhar com os parceiros adequados para que isso aconteça. Sabe como é, o que importa mais em nossa indústria é entregar o projeto no prazo certo, com as necessidades do cliente atendidas. Então, sim, assumo riscos e aceito projetos desafiadores, mas ao mesmo tempo, certifico-me de não falhar em prazos e qualidade.
RAPIDINHAS
LL – PC ou Mac?
TZ – Costumava ser um cara de Mac, mas há alguns meses fui pros PCs.
LL – 2D ou 3D?
TZ – Ambos 🙂
LL – Em uma luta: Aquiles ou Heitor?
TZ – Aquiles.
LL – Trabalhar de dia ou de noite?
TZ – De noite, claro.
LL – Limonada ou Cerveja?
TZ – Cerveja.
Última Pergunta: Deixe uma mensagem para a comunidade brasileira de Motion Design e Animação; são inúmeros artistas, iniciantes ou não, que têm você como herói!
TZ – Fico honrado que alguém seja inspirado por uma das minhas peças. Eu uso óculos, não tenho cabelo, então com certeza eu não pareço um herói… ahhahahaha !!! Trabalhe se divertindo, se expressando e para pesquisar mais seu interior criativo. Não comece com a postura de se tornar uma estrela do Motion Design ou ganhar milhares de dólares. SEJA HUMILDE… E DEIXE O SEU TRABALHO FALAR POR SI MESMO.
O Layer Lemonade agradece imensamente a Tony Zagoraios pela entrevista cedida. Desejamos que, nos anos vindouros, continue a brilhar e que nos brinde com mais projetos brilhantes!