Reflexão sobre os prazos curtos que recebemos

Trabalhar com Motion no Brasil é, na grande maioria das vezes, sinônimo de correria. A publicidade é a maior demandante dos nossos serviços, a que paga melhor e todo diretor de arte sabe que os prazos são sempre apertados.

Certa vez, ouvi uma história engraçada de alguém que tentava explicar para um estrangeiro o conceito de “trabalho pra ontem”. O que pra eles não faz o menor sentido, é uma expressão corriqueira no nosso dia-a-dia.

Me parece que a cultura dos prazos curtos é algo arraigado no nosso jeito de trabalhar há muito tempo. Fruto da falta de organização e planejamento dos clientes, da ânsia das agências de aceitarem qualquer condição de trabalho para não perder uma conta, e da falta de empatia dos profissionais de atendimento que, muitas vezes, não entendem bem os processos de um projeto de animação.

Sendo assim, o buraco é bem mais embaixo e eu não vejo grandes soluções para resolver este problema. Provavelmente estaremos fadados a brigar por prazos melhores e, mesmo se não houver nenhum resultado prático, continuar brigando vai ser sempre nossa obrigação.

Mesmo assim, ainda podemos refletir sobre o assunto. Resolvi trazer uma das minhas reflexões sobre esse assunto. É um pensamento bastante ingênuo, principalmente se acreditarmos que ele é capaz de mudar alguma coisa. Mas acredito que só é possível imaginar um mundo ideal com uma dose de ingenuidade.

Na verdade, a minha suposta solução é absolutamente simples em teoria, mas pode ser quase impossível na prática. Não. Eu não vou sugerir que as empresas comecem a se preocupar mais na qualidade do projeto final que elas entregam do que na lucratividade gerada por um projeto feito rapidamente, mesmo com pouco refinamento. Isso sim seria uma utopia!

O que eu proponho é que uma pergunta muito simples seja feita: “afinal, qual é a real motivação daquele prazo?”

Já trabalhei em uma agência de publicidade e, em incontáveis vezes, as coisas aconteciam assim: prazo super curto, projeto feito às pressas e, claro, a qualidade deixava a desejar. De ali em diante eram semanas e semanas de alterações e modificações. Ou seja! Que prazo era aquele, inicial? Se tivéssemos tido tempo o suficiente da primeira vez, certamente não viriam tantas mudanças posteriormente.

Daí, eu chego a conclusão que alguns prazos realmente são inadiáveis. Datas comemorativas, por exemplo! Não podemos lançar um vídeo de uma campanha de natal no ano novo, certo? Esse prazo não dá para discutir. Mas, cá pra nós, desde que o ano começa (até antes disso) nós já sabemos que o natal acontece no dia 25 de dezembro! Será que não dá pra planejar com antecedência?

Certamente daria! O que acontece é que, uma vez que os clientes vêem que, mesmo sofrendo, nós, profissionais brasileiros, damos conta de entregar no prazo, por quê eles vão querer se planejar antes? – Vale observar que nós somos muito valorizados lá fora pela nossa habilidade de resolver problemas rápido e se virar nos trinta.

Outra motivadora de prazos é a grade das programações de televisão. Os comerciais precisam entrar no ar em uma determinada data por questões de contrato e coisa e tal. É um outro fator que um bom planejamento antecipado resolveria.

Mesmo assim, eu poderia garantir que grande parte dos nossos prazos tem origem no simples capricho do cliente. Claro que aí entram outros fatores como o desconhecimento dos nossos processos. Mesmo assim, é relativamente fácil identificar quando um prazo não tem realmente um motivo claro e consistente.

Essa é uma discussão complexa. Mas meu ponto é que, se você trabalha com motion, deveria saber claramente porque você tem o prazo que tem (quando ele é muito curto, claro).

Essa é uma pergunta que eu sempre me faço, mas nem sempre consigo alguma resposta por parte das agências para as quais eu trabalho.

O que vocês pensam sobre isso? Comentem! Principalmente se discordarem dos meus pontos de vista!

A imagem de capa deste artigo é do projeto The Guardian Labs x O2 / 3D Illustrations do estúdio Ben Fearnley de Nova Iorque.

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