Fala galera! Hoje eu vou direto ao ponto para compartilhar uma dica que vi no canal HealthyGamerGG, administrado pelo psiquiatra formado em Harvard, Alok Kanojia, mais conhecido como Dr. K. O trabalho dele é voltado para o tratamento de pessoas com vício em jogos, mas alguns insights se aplicam a diferentes áreas.
A dica que achei interessante fala sobre procrastinação, principalmente nos dias que a mente não quer focar nos trabalhos que você precisa fazer. É extremamente frustrante quando você sabe que tem a capacidade de executar uma tarefa, mas algo na sua cabeça te impede e nada flui. Nesses dias a frustração por não conseguir trabalhar é muitas vezes transformada em uma necessidade de ser produtivo.
Produtividade é um termo que acabou ganhando uma conotação muito negativa devido a onda de hiper produtividade que vivemos atualmente. A obsessão com performance é realmente prejudicial, mas ser produtivo é algo muito positivo, principalmente quando é uma energia voltada para projetos que são importantes pra você.
No vídeo do Dr. K ele divide as ações do dia a dia em 4 opções:
- trabalho
- não fazer nada
- fazer algo produtivo não ligado ao trabalho
- fazer algo que dê a sensação de recompensa (no caso do público dele, jogar)
No nosso cérebro existe um ranking bem claro, sempre queremos primeiro algo que dê a sensação de recompensa, em segundo vem alguma ação produtiva, terceiro o tédio e em último o trabalho. Nosso cérebro não gosta de trabalho, porque isso exige energia e muitas vezes não traz recompensa imediata. Entretanto, nosso cérebro também odeia ficar parado, porque isso também não gera recompensa. Logo, o que geralmente acontece é você sentar pra trabalhar, não conseguir, ficar um tempo entediado, se sentir mal porque não está fazendo nada e ir arrumar alguma coisa ou organizar sua agenda. O dia passa e para lidar com a frustração você vai fazer alguma atividade que seja extremamente recompensadora.
O tempo inteiro o seu cérebro está numa disputa com você pra ver quem desiste primeiro. Quando eu era criança ainda não existiam celulares, então muitas vezes tinha que lidar com o tédio. O trabalho era o dever de casa, mas na verdade eu queria brincar e não estudar. Meus pais falavam que se eu fizesse o dever podia sair pra brincar, então eu ficava encarando a folha de exercícios, sem nenhuma vontade de fazer, mas ao mesmo tempo não podia sair pra brincar enquanto não terminasse. Sem perceber o meu cérebro infantil estava nas suas primeiras disputas com a minha mente. Depois de vários minutos encarando o tédio de olhar a folha sem fazer nada eu acabava aceitando a tarefa e fazendo o dever.
Hoje as coisas são um pouco mais complicadas. O trabalho é bem mais prazeroso que o dever de casa na época, mas ainda assim é trabalho e muitas vezes não tenho vontade ou foco para executá-lo. O problema é que existe o celular e suas infinitas possibilidades de distração e recompensa. Não consigo trabalhar? Não tem problema, vamos pesquisar formas de se concentrar ou vídeos que ajudem na organização. Não existem mais momentos de tédio, quando não estou trabalhando eu estou olhando o celular. Assistindo um vídeo engraçado enquanto como, ouvindo podcast no banho ou simplesmente absorto por horas no scroll infinito das redes sociais. Cada um desses aplicativos é moldado para oferecer recompensas instantâneas para o cérebro, então é difícil competir com isso.
Qual foi a última vez que você se sentiu entediado? Qual foi a última vez que você se viu parado sem nada pra fazer e ficou ali sem fazer nada? O nosso cérebro não suporta o tédio e atualmente existem tantas saídas para o tédio que a gente se desacostumou com o ócio. A briga de criança com o tédio muitas vezes trazia as melhores ideias e aventuras. A criatividade fluía, a imaginação era alimentada e o cérebro recebia o recado de que precisava se acalmar e executar as tarefas.
Nesse exato momento em que vos escrevo, estou em uma batalha com o meu cérebro. Eu fiquei bastante tempo encarando a tela em branco e querendo outras distrações. Quase levantei e fui fazer outra coisa, quase fui buscar vídeos interessantes para assistir, para me sentir motivado. Porém, me lembrei do tema que queria conversar com vocês e resolvi voltar a infância e brincar desse jogo de quem desiste primeiro. Permaneci sentado e dei duas opções para o meu cérebro: escrever o texto ou não fazer nada. Fiquei sem fazer nada por um bom tempo. Vasculhei minha mente, olhei ao redor, imaginei coisas. Senti vontade de levantar, mas eu tinha a decisão na minha mente: só existem essas duas escolhas e você (meu cérebro) vai ficar aqui até resolver o que quer fazer.
O interessante é que, antes do que eu imaginava, a vontade de escrever surgiu. Eu até fui um pouco exigente e disse que meu cérebro ainda ia esperar mais um pouco pra escrever. A sensação era realmente de estar lidando com uma criança e que era um jogo onde eu tinha o controle. Duas decisões simples, todas as notificações desligadas (até avisei as pessoas próximas que não ia responder mensagens no celular e que se fosse uma emergência era só ligar. Ficamos eu e meu cérebro nesse retorno à infância, mas dessa vez o papel dos meus pais era meu. O meu cérebro cedeu e eu ganhei o jogo. Nós dois ganhamos na verdade, pois enquanto vou me aproximando do final do texto a sensação de dever cumprido é uma baita recompensa.
Boa semana a todos!