Essa é uma tradução livre do artigo You Are an Impostor, por Joey Korenman – School of Motion -, publicado originalmente em junho de 2015. O texto traduzido mantém a forma original, ou seja, em primeira pessoa com Joey contando sua experiência com o que costuma chamar “A Síndrome do Impostor”.
Às vezes aquela pequena voz na cabeça pode acabar com sua autoconfiança. Pode fazer com que acredite que é um impostor. Ahhh… lembro bem da minha primeira passagem pela “Síndrome do Impostor”.
Quando tinha 22 anos precisei editar, criar e animar meu primeiro spot para TV.
Naquela época me sentia editando um puta ad do Superbowl, mas na realidade era um spot irrelevante de uma marca de iogurte infantil chamada Danimals.Trabalhei com um Produtor e Diretor de Arte de uma agência grande de Nova Iorque, e foi a primeira vez que um trabalho meu poderia ser visto de costa-a-costa, possibilitando mesmo que minha família no Texas assistisse (isso se eles passassem o dia no Nickelodeon ou Disney Channel).
Sabe o que eu pensava sentado na minha ilha, com dois criativos em minhas costas? Isso:
Que merda estou fazendo aqui? Não tenho a menor ideia do que estou fazendo. Estou fingindo ser um editor.
Para provar que minha reflexão estava correta, o Universo decidiu que não apenas o Diretor de Arte deveria me socar na cara após uma briga de bêbados (história longa e esquisita, para outra ocasião), mas também eu deveria entregar por engano um spot de 29″ para a ilha de mixagem (dica: Spots supostamente precisam ter 30″). Ainda bem que o engenheiro de áudio gostava de mim, e me deu o toque para consertar o spot.
Mesmo assim, o spot foi ao ar em toda a Nação com minha edição e etc., e eu tinha a porra de um comercial nacional em meu demo reel. Agora eu era “realmente um editor”.
Qual foi minha reflexão?
TODOS ESTÃO FINGINDO!!! NINGUÉM SABE O QUE ESTÁ FAZENDO!!
Isso é meio aterrador quando se observa que, talvez, pilotos de avião, médicos e o cara que instalou o sensor de fumaça provavelmente vislumbraram algo chamado “Síndrome do Impostor”. Estranho? Com certeza, mas também é algo que podemos usar a nosso favor.
Então, vejamos alguns pontos que podem ajudar a sobrepujar a sensação de que você não é aquilo que pensa ser; você é apenas um mané em um mundo de profissionais de verdade, e que a qualquer momento seu castelo de cartas vai desabar sobre sua cabeça…
1. Comece algo e termine. Algo pequeno.
Pessoas de sucesso em qualquer campo (especialmente em Motion Design) são arrematadores. Eles podem começar um projeto de três meses e enxerga-lo até o fim. Você é assim? Se não tiver certeza, tente esse experimento: Escolha uma fonte qualquer, vá ao After Effects, escreva seu nome e anime-a de algum modo bacana em cinco segundos. Essa pequena gif abaixo me custou duas horas de trabalho, e não me envergonho.
Sabe o que acabou de fazer? Um MoGraph! Talvez tenha acabado de criar sua intro do próximo reel. Quem faz esse tipo de coisa? Motion Designers fazem… Os de verdade, não os pretenciosos.
O mérito desse pequeno exercício é que você perceba que VOCÊ É aquilo que FAZ… E realmente começará a se sentir um Motion Designer quando praticar inúmeras vezes. Depois de um tempo, projetos de cinco segundos tornam-se spots de 30″, vídeos de dois minutos e nesse momento sua confiança estará em paz.
Que seja esse um novo hábito: terminar as coisas. Simplesmente faça e termine.
2. Seu trabalho não é pra vencer um concurso de MoGraph…. É para tornar a vida de alguém mais fácil.
Quero dizer o seguinte: o cliente sempre parece ter plenos poderes em nossa relação; tendo em conta que são eles que detém o dinheiro e controle sobre o que termina indo para as telas. Mas na realidade, o artista é o que tem maior controle.
Pense nisso. Um produtor de uma pequena agência precisa de alguém para criar um vídeo de 60″ para uma de suas marcas. Ele faz contato com você e mais outros três Motion Designers para ver qual é melhor para o trabalho. O produtor é A) provavelmente ignorante em relação a design e animação e B) não costuma visitar o Motionographer diariamente. Eles precisam escolher entre quem será pago para realizar o projeto, mas tem habilidades limitadas para julgar quem é o “melhor”. Então, o que procura?
Clientes procuram por “Quem fará meu sono mais tranquilo?”
Seu primeiro trabalho como Motion Designer não é animar ou criar storyboards… É fazer a vida do cliente mais fácil. É isso. No momento em que se prova ao cliente que contrata-lo significa que podem parar de se preocupar, você venceu. Não importa se o outro artista tem um reel melhor ou melhores habilidades no Cinema 4D. Na maioria dos casos, clientes querem pessoas confiáveis que deem conta do projeto, ao invés de rockstars que podem deixa-los na mão.
Então, como deixar transparecer ao cliente que você é o cara que fará todos os problemas desaparecer? Primeiro de tudo, diga o que pretende fazer. Imagine duas respostas para a questão “Você está interessado em trabalhar nisso?”
Opção A
Claro! Qual o orçamento/prazo? Seria incrível participar e fazer do projeto algo único. Vocês já possuem alguma arte pronta?
Opção B
Claro. Adoraria ajuda-los com um processo suave e simples. Se por acaso trabalharmos juntos, posso gerir o projeto o máximo ou o mínimo que quiserem.
Talvez pensemos que produtores estão mais interessados em toda sua criatividade, mas a realidade da maioria dos projetos é que eles querem aquilo feito no prazo, no orçamento combinado e com um nível respeitável de acabamento. Prometa isso, e quanto à parte da criatividade… Esse é o ticket de ouro.
Então, seu trabalho é assegurar que o cliente fez a escolha certa, que o projeto está em boas mãos. Isso é bem mais simples que transformar seu trabalho em uma competição de “o melhor MoGraph da praça”.
3. Invista em seu crescimento como artista.
Isso não significa literalmente gastar dinheiro, mas em geral cursos profundos e bons não são gratuitos. O que quero dizer é para, de algum modo, se manter na vertical; sempre melhorando, sempre criando e procurando formas de se superar.
Acorde uma hora mais cedo todos os dias e crie um speed project nesse tempo.
Estamos falando de uma hora a menos de sono, para começar a fazer projetos diários como O Cara, O Mito, A Lenda Beeple. Tem noção do quão melhor você será com essa iniciativa? Nem consigo conceber. Faça um frame no Photoshop, anime cinco segundos de alguma coisa no After Effects, modele algo todo santo dia no Cinema 4D. É incrível como um hábito como esse dá retorno.
Use a ridícula quantidade de aprendizado online gratuito à sua disposição.
O School of Motion possui inúmeros tutoriais, do mesmo modo o GreyscalleGorilla, After Effects with Mikey, Lester Banks, Lemonade XPRESS… Qualquer coisa pode ser aprendida pela rede de graça, basta ter paciência pra procurar. Geralmente, fico das 9h30 às 10h30 da manhã assistindo a tutoriais, todo dia. Ver aqueles tutos de como fazer certa coisa não é a forma mais eficiente de se aprender, mas com o tempo, depois de assistir muitas coisas, começamos a montar uma biblioteca de técnicas esparsas que podem ser usadas em situações diversas. É tipo, “Opa! Há dois anos assisti a esse tutorial randômico do Houdini e agora acho que posso aplicar aquela técnica nesse projeto de Cinema 4D”.
Invista em bons cursos.
Se você tem uma grana em caixa, há inúmeras opções para acelerar o processo de aprendizagem. Há opções mais em conta como o Lynda.com e Digital Tutors que possuem uma incrível quantia de recursos, que cobrem qualquer área e tópico. A qualidade das lições individuais pode ser meio fraca, mas aprendi muito em ambos os sites. Pode-se também ir a sites como Gnomon Workshop ou FXPHD com cursos ridiculamente avançados, lecionados por grandes artistas da indústria. Claro que são bem mais caros, mas as aulas são fantásticas. E, claro, você pode mergulhar direto em coisas como o Animation Bootcamp ou Mograph Mentor. Esses cursos são muito, muito, muito intensos.
Ao investir tempo e dinheiro em sua educação MoGraph, logo perceberá que aquele negócio que a Buck postou no Vimeo não precisa de magia negra pra fazer. Eles estão apenas fazendo (aquilo que você acaba de aprender), e fazendo bem! Com o tempo perceberá que a intimidação dos bons trabalhos que enxergamos por aí não existe mais. Você será capaz de perceber os motivos que fazem com que um certo trabalho, de um certo estúdio, sejam tão bons; e aprender com isso.
Então, vamos recapitular.
- Seja um artista que termina as coisas.
- Seu trabalho é fazer a vida de um cliente mais simples.
- Invista em si mesmo.
Essas ideias parecem não-relacionadas, mas o propósito por detrás delas é força-lo a dar pequenos passos – física e mentalmente -, e eliminar a sensação de que, de algum modo, você é um impostor no campo do Motion Design. Claro, talvez esteja no primeiro dia em sua jornada rumo à primeira página do Motionographer, mas isso não significa que realmente é um impostor. Significa que está aprendendo, e há uma comunidade enorme lá fora para ajuda-lo e empurra-lo pra cima. E caso já seja um Pro, e sinta essa sensação de falsidade naquilo que faz, as mesmas regras podem ajuda-lo a perceber e superar.
Então… Alô, alô, Motion Designer. O que podemos fazer por você?
Fonte: School of Motion | traduzido do original You are an Impostor, by Joey Korenman