A armadilha do “Efeito WOW”

No começo da minha carreira, trabalhei como designer gráfico em uma agência que fazia identidades visuais. Eu me lembro que no dia de apresentar uma nova marca para um cliente havia um clima de bastante ansiedade e dúvida. Normalmente, fazíamos uma longa apresentação de slides explicando o problema, falando sobre o público, concorrentes, o conceito para, finalmente, mostrar a marca.

A função da apresentação era sempre construir uma justificativa para que, no final, aquela solução gráfica se apresentasse como uma síntese de tudo que foi mostrado antes. Na verdade, aquilo era como um espetáculo de teatro. Todos aguardavam ansiosamente pelo desfecho da história que deveria ser, necessariamente, surpreendente. Buscávamos o chamado “Wow Effect” – ou Efeito Wow, em português. É aquele momento em que – “tchã-rã” – apresentamos o resultado final e recebemos os aplausos.

Não demorou muito para perceber que esta abordagem era uma armadilha. Isso porque gastávamos muito tempo construindo uma apresentação longa, cheia de conceitos e histórias para, no final (e várias vezes acontecia) o cliente dizer que não era bem isso que ele esperava.

A busca do Efeito Wow faz com que os designers mantenham todos seus processos em segredo, já que, para que a surpresa aconteça no final, é necessário que o cliente tenha um total desconhecimento do que será apresentado. Se você tiver spoiler do show, o final perde um pouco a sua magia.

Além disso, uma coisa que ficou muito claro pra mim depois de lidar com diversos tipos de clientes é que eles gostam de influenciar no resultado final. Muitos deles até pedem alterações desnecessárias só porque, desta forma, sentem que estão ativamente contribuindo com o projeto. Estão deixando sua marca, sua impressão digital naquilo que está sendo criado. Na contramão disso, o Efeito Wow depende da exclusão do cliente em todo o processo de criação, o que aumenta muito os riscos de desaprovação, revisão e tempo desperdiçado.

Além disso, uma coisa que ficou muito claro pra mim depois de lidar com diversos tipos de clientes é que eles gostam de influenciar no resultado final

O bom designer não pode ter a arrogância de se considerar o especialista que sabe tudo e, portanto, deve tomar todas as decisões sem consultar a pessoa mais importante do trabalho: o cliente. Nossos processos devem ser abertos e colaborativos. Não tem nada de errado em discutir sobre conceitos com o cliente antes mesmo de ter começado a desenhar. Não tem nada errado em mostrar sketches inacabados – e é sua função deixar muito claro que aquilo é apenas um work in progress. Ir validando etapa por etapa vai te possibilitar corrigir problemas rápido, economizar tempo, e fazer com que o cliente sinta que você está realmente trabalhando com ele – e levando suas ideias em consideração.

No final das contas, o Efeito Wow tem a ver com nossa vaidade como artista e nossa vontade de surpreender, porém, um processo aberto e colaborativo é bem mais eficiente e profissional.

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