No início do mês, o vídeo abaixo fez estardalhaço nas mídias sociais, arrepiando e desencadeando debates. Nele Chris Do, dono do estúdio Blind há 20 anos, e co-fundador do The Skool, conversou com os instrutores Allison Goodman e Petrula Vrontikis do Art Center sobre o que ele vê como problemas fundamentais enfrentados pela educação no design contemporâneo.
O site Motionographer convidou Chris a comentar a polêmica gerada e, de certa forma, esclarecer o assunto. Essa é uma tradução livre do original ‘Are you a “bricklayer” or an art director? Chris Do explains’.
Chris aborda uma série de assuntos, mas queríamos mirar em algumas das afirmações mais controversas que ele fez, dando-lhe a oportunidade de esclarecer sua posição.
Motionographer: Vamos falar sobre a ideia de um “diretor de arte.” Você não acha que os melhores diretores de arte são aqueles que já estão na indústria há vários anos?
Chris Do: Não necessariamente. Parece que ser um realizador e ter anos de experiência, tende a torná-las diretoras de arte. Mas não acho que idade, experiência ou anos fazendo algo são indicadores de que alguém está qualificado para ser diretor de arte.
Para mim, um diretor de arte tem a difícil tarefa de trabalhar, quer diretamente com clientes, quer com um diretor criativo e decifrar as necessidades de tais clientes. Isto pode ser alcançado via script, brief ou conversa para entender quais são os objetivos do design e da comunicação. Eles têm que transmitir isso para o cliente, ganhar sua confiança e ganhar o trabalho em uma situação de campo competitivo.
Há um monte de “competências” interpessoais necessárias para fazer isso. Eles têm que demonstrar habilidade para fazer grandes perguntas, permanecer objetivo, ouvir atentamente, diferenciar desejos de necessidades e converter linguagem vaga (por exemplo “legal”, “orgânico”, “épico”) em uma linguagem visual compartilhada. Este é o primeiro desafio e nem todos são hábeis para isso.
Em segundo lugar, um diretor de arte tem de determinar a melhor equipe de designers e animadores os quais são mais adequados para executar um dado trabalho com orçamento e cronograma específicos. Eles precisam comunicar o objetivo para a equipe, redirecioná-los quando saírem do curso, gerir personalidades e estados de espírito e manter o projeto no caminho certo. Às vezes, eles precisam treinar sua equipe ajudando-os a superar bloqueios criativos.
Por último, eles têm que ser capazes de quebrar as tarefas difíceis em pedaços mais manejáveis e dividir o trabalho de modo que os membros da equipe possam contribuir e compartilhar a carga de trabalho.
Assim como a idade não é um indicador de maturidade, não acho que anos fazendo algo o torna mais capaz do que outros em termos de ser um grande diretor de arte. É um conjunto de habilidades totalmente diferente. É também por isso que alguns dos melhores treinadores não são os melhores atletas aposentados.
Agora gostaria de perguntar a você a mesma coisa. Será que ter mais ou menos experiência como designer ou animador, torna-o mais ou menos qualificado para gerir e comandar o site número um de Motion Design?
M: Não tenho certeza se isso é uma pergunta retórica, mas morderei a isca. Acho que o fato de ter passado 15 anos fazendo coisas à mão (continuando até hoje), definitivamente teve um impacto positivo sobre o Motionographer.
Como um criativo (ainda que medíocre), tenho amor genuíno pelo ofício. Cada peça que não é postada no site me machuca, porque sei o quanto de talento e esforço vão até as criações mais simples. Aquela empatia continuada, penso eu, é o que separa o Motionographer de outros sites.
Voltando ao vídeo: lá pelo minuto oito você compara designer/criativos a pedreiros. O termo “pedreiro” perturbou algumas pessoas na mídia social. Por quê?
CD: Não teria dito aquilo se soubesse que era tão ofensivo. Estava tentando chegar a um ponto. Meu melhor palpite a respeito do porque as pessoas estão chateadas é porque elas fazem uma distinção entre a arte, o pensamento e a formação de um profissional designer/artista e ser um “comerciante” (pedreiro). Eu não.
Voltando à década de 90, quando entrei na escola, meus colegas de classe muitas vezes se referiam à Escola de Design como sendo super glorificada. Não ficava ofendido por este comentário, e era bastante comum ouvi-lo. Nós não estávamos sendo enganados sobre o que estávamos aprendendo e fazendo.
Nunca me vi como um artista. Estabeleci uma distinção nítida entre ser um designer de criação que trabalha por contrato e criar arte como um meio de autoexpressão. Pessoalmente, não vejo muita diferença entre um conjunto de profissionais criativos em relação a outro.
Um pedreiro, marceneiro, chefe de cozinha, vidraceiro e designer são todos iguais para mim. Todos eles exigem anos de prática, aprendizagem e habilidade para se tornar um artesão de um determinado comércio. Quando estou fazendo alguma coisa, não me vejo de forma diferente. Não acho que haja algo de errado nisso. E não é só para mim.
Estou interessado em resolver outros tipos de problemas, não apenas os gráficos. Meu negócio está crescendo, ajudando outras empresas a crescer.
Então tenho que desistir da parte feita e me concentrar nas coisas que mais ninguém na empresa pode fazer, as quais incluem: desenvolvimento de negócios, trabalhos de fechamento, falar em público, escrita e planejamento para o futuro.
M: Olhando de relance o vídeo parece que você está dizendo que há uma opção educativa adicional para as pessoas que se concentram no empreendedorismo. Mas a maneira como você realmente o coloca, parece que essa opção educacional é presumível de ser contrária a aprender como fazer as coisas.
CD: Meu ponto era/é que devemos criar espaço para o pensamento divergente no ensino do design.
Qual é a lógica de ter cada instrutor com a mesma filosofia e abordagem de ensino e aplicação do design? Como nosso sistema educacional tem se adaptado às mudanças necessárias do mundo? Que responsabilidade os instrutores e as próprias escolas têm com estudantes em prepará-los para uma vida criativa longa e sustentável? Estamos sendo realistas sobre a capacidade dos estudantes em pagar seus empréstimos dado o mercado atual para os designers?
Eu estava fazendo um apelo apaixonado para quem estava ouvindo, para armar os alunos de amanhã com o maior número de ferramentas e torná-los competitivos no século 21, no mercado global.
Se há um estudante que apresenta pontos fortes que parecem fora da norma, não deveríamos encontrar uma maneira de ajudar este estudante ao invés de puni-lo? Não devemos aprimorar no que ele é bom em oposição a dizer-lhe para trabalhar em seus pontos fracos?
Eu me oponho a esse tipo de pensamento. Sou um grande crente no “vá em seus pontos fortes e esqueça suas fraquezas”. Como uma instituição criativa muito respeitada, não devemos ser pioneiros e incluir cursos sobre liderança, gestão, teoria de negócio, retórica e pensamento em design? O mundo mudou, mas nós mudamos para entender isso?
M: Mais alguma coisa que gostaria de acrescentar?
CD: Algumas pessoas estão muito desapontadas. Entendo porquê. Nós parecemos estar no precipício do declínio do motion design. Empregos estão diminuindo. Nossos clientes pedem mais, mas tem 25% do orçamento de apenas alguns anos atrás. O poder parece estar do lado deles, porque a oferta e a demanda estão fora de equilíbrio.
Podemos reclamar. Podemos tentar diminuir o dobro as mesmas estratégias. Podemos olhar para novos nichos de mercado onde aplicar nosso talento. Estou propondo que projetemos nossa própria solução para o problema. Podemos aplicar o mesmo raciocínio criativo que vendemos aos nossos clientes e aplicá-la a nós mesmos e nossa indústria? Acho que sim.
A resposta varia de acordo com o indivíduo, mas minha resposta é a de encorajar todos a pensar mais em um nível empresarial. Parar de procurar emprego e criar um. Construir uma audiência em torno de crenças comuns, valores compartilhados e poder para criar seu futuro financeiro.
Use toda sua habilidade, talento e criatividade para fazer algo que ajuda, entretém ou move outros.
Fonte: Motionographer
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