Animadores, sejam mestres em Moving Hold! – Ctrl+Alt+N

Um moving hold (literalmente retenção de movimento), é uma técnica que, basicamente, sugere segurarmos certo personagem em uma key pose por determinado tempo sem que ele fique congelado. Parece importante, certo? E é… Talvez mais do que muitos imaginam. Mas como conseguir um moving hold sem que seu personagem fique artificial – em termos de movimento -, ou muito estático? Shawn Kelly nos ensina como.

Esse post foi originalmente criado por Shawn Kelly, em 2009, mas permanece atual em todos os sentidos. Abaixo o texto na íntegra.


Romantic Doctor Why All Animators Need to Master the Moving Hold

O moving hold pode ser complicado em vários aspectos. É fácil fazer com que seu personagem se mova demais, criando uma sensação de CG flutuante; ou que o personagem congele muito, que é a morte instantânea, especialmente na animação 3D. Você trabalhou tão duro para convencer o público de que seu personagem é um ser vivo (pensante, que sente), mas não importa o quanto os convença, pois um personagem congelado parece instantaneamente morto e todo o seu trabalho fará com que a audiência lembre que estão assistindo um desenho animado.

Claro, haverá momentos em que desejaremos congelar um personagem  – por efeito dramático ou cômico -, em um projeto mais estilizado; assim como há momentos em que precisaremos de um “hold” particularmente estilizado. No entanto, para a grande maioria das situações, provavelmente você procura um meio-termo onde usa o hold para congelar o personagem, mas deixando-o vivo mesmo assim.

Eis algumas digas para um bom uso do moving hold:

1 – O Overshoot deve ser usado

Uma parada de movimento abrupta é OK em animação, mas para que isso seja orgânico ao invés de robótico, você precisa empregar uma quantidade, por mais sutil que seja, de overshoot. Overshoot não é complicado, e basicamente funciona assim:

Digamos que você tenha uma cena onde um homem surpreende a garota com suas flores favoritas. Ele tira as flores das costas quase que chicoteando, e as segura para ela. Enquanto ele fica de pé segurando as flores, você precisará fazer uma “moving hold”, que é apenas uma maneira de manter essa pose por um longo tempo sem parecer morto. Então, o que fazer?

A) Decida qual será a pose final. A primeira coisa que você precisa fazer é descobrir qual é a pose final desse cara enquanto ele fica lá, segurando as flores para ela; e não, isso não é algo que você deve tentar descobrir milagrosamente enquanto cria keyframes em seu cena – é algo que deve ser previamente planejado. Ele está segurando as flores com orgulho? Timidamente? Ele está envergonhado? Animado? Triste? Nervoso? É o seu primeiro encontro com a garota? O último? Ambos? Todas essas coisas afetarão sua pose, e sua pose deve estar comunicando algumas dessas ideias para o público.

Ok, então você descobriu sua pose principal que é “segurando as flores”. Alguns chama isso de “extreme” ou “key pose”. Geralmente, você quer que essa pose seja tão comunicativa quanto possível, especialmente se for parte de um moving hold! Se o público precisa olhar essa pose por alguns segundos, é bom que seja mais interessante e emotiva. Bem, agora é hora de:

B) Desenhe sua pose de overshoot. Esta pose é basicamente sua “key pose” anterior, mas levemente diferente. Levante-o um pouco sobre os dedos dos pés, empurre as flores um pouco mais perto da garota, aperte os ombros um pouco mais, abra seus olhos um pouco mais, etc. Todas essas ideias podem contribuir para a criação do overshoot.

Se você pegar sua key pose que, por si só, deve ter uma silhueta e linha de ação ligeiramente exageradas, e depois exagerá-la UM POUCO MAIS, agora terá sua “overshoot pose”.

C) Agora tudo o que você tem de fazer é encaixar esse overshoot em sua cena, talvez alguns quadros após sua keypose, retornando em seguida para ela. Você precisará sobrepor algumas coisas para fazer isso funcionar adequadamente, mas em resumo o que fará é realmente sair da key pose, ir para a overshoot pose e então retornar para a keypose.

Arcos e timing são fundamentais aqui, pois ajudam muito no sentido de não deixar as coisas pararem de se movimentar no quadro.

2 – Mantenha os olhos expressivos e vivos

Enquanto os olhos estiverem vivos e expressivos, podemos chegar perto de congelar completamente o corpo e, ao mesmo tempo, convencer o público de que o personagem existe, então dê atenção especial aos olhos durante qualquer moving hold! Deixe um pouco de tempo para resolver as poses dos olhos que realmente comunicam suas intenções, emoções e processo de pensamento – e escolha seu piscar de olhos com cuidado e por razões específicas.

3 – Ease in

Fazer um personagem parar completamente sempre vai parecer falso. Há momentos em que o estilo exige esse tipo de coisa (a Warner Brothers que o diga), e se o estilo permite que os personagens congelem completamente, podemos usar isso para um excelente efeito cômico ou dramático. No entanto, a maioria de nós não será capaz de manter personagens congelados o tempo todo, e quando nosso cara mostra suas flores, precisamos mantê-lo vivo; daí o moving hold.

Bem, para criar um moving hold, você sempre precisará do uso de Eases, pelo menos um pouco. Tenha certeza de que seu personagem não pareça como se tivesse atingido uma parede invisível ou algo assim, o que é muito comum nos portfólios que vejo por aí.

Enquanto usamos o Ease-in em qualquer moving hold, é bom que se saiba que existem, essencialmente, dois tipos básicos de moving holds. O Overshoot hold, onde você passa sua key pose e retorna para ela rapidamente e a Long ease-in pose, que é basicamente um longo ease-in de sua key pose.

Em ambos os casos, uma vez que chegamos a key pose, precisamos manter o personagem vivo, certo?! Como eu disse, a animação dos olhos ajudará. A animação sobreposta (overlapping animation), nos membros também ajudará muito. No entanto, um grande truque é:

4 – Ambient Motion

Quero enfatizar que este não é um “movimento aleatório”, e sim algo sutil que você pode colocar em seus personagens. Pode ser pequenos movimentos no tórax que lembram, mesmo subconscientemente, respirações. Ou leves tiques na cabeça, ou ainda uma ligeira mudança do peso nos quadris (e a cadeia de eventos que se segue). Pode ser uma animação secundária, como um espirro e etc.

Em qualquer um desses casos, você está adicionando uma complexidade sutil que transmite a sensação maravilhosa de que seu personagem está vivo.

Espero que essas dicas tenham sido úteis! Continuem animando e, como sempre, divirta-se!


Fonte – Animation Mentor

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