Papo Lemonade com Henrique Lira – Iconic

Fundador do ICONIC, co-fundador do Menty e criador/diretor do projeto de série Howdy, Harrdy, dentre outros projetos incríveis, Henrique Lira é daqueles artistas híbridos : faz bem, como poucos conseguem, muitas funções dentro do campo das artes.  Tanto é verdade que, agora, se dedica em ajudar outros artistas a desenvolverem suas habilidades e encontrarem propósito em projetos.

Antes de tudo, gostaria de agradecer pela disponibilidade de tempo pra esse nosso bate-papo, Henrique.  Somos grandes admiradores do seu trabalho a frente da ICONIC, e, com certeza, seu projeto não inspira só a nós. Então, permissão pra subir a bordo e vamos lá?

1 Para quem ainda não te conhece, conte-nos como foi o início da sua carreira, Henrique?

Com uns 12 anos de idade, roubei uma apostila de HTML e CSS do meu irmão e comecei a programar – sites lindos recheados de Comic Sans. Foi quando eu conheci o artista Shag aos 13 anos que minha vida mudou para sempre e me apaixonei por ilustração. Me interessei profundamente pela parte visual de criar coisas e com 13 anos comecei a mexer no Photoshop.

Via www.shag.com

Meu primeiro trabalho como freelancer foi aos 14 anos – criei um site para um cliente de Portugal que tinha me encontrado em um fórum. Meu primeiro trabalho e meu primeiro semi-calote – pagaram metade. Um ótimo jeito de começar, né? Com 15 anos comecei a trabalhar em agências de publicidade, e só depois dos 20 que comecei a fazer faculdade de Artes Visuais e me interessei por trabalhar com ilustração.

Minha vida mudou bastante em 2013 quando saí da publicidade e conquistei uma bolsa de intercâmbio pra Holanda, onde fiquei 1 ano focado em aprender animação e ilustração. Lá conheci muita gente impressionante e minha vida mudou para sempre.

Voltando para o Brasil em 2014, finalizei meu primeiro curta chamado “Harrdy”, que chamou a atenção da Nickelodeon International e poucos meses depois já estávamos produzindo um curta promocional com uma equipe de 30 pessoas, o “Howdy, Harrdy”

Ao terminar o curta no início de 2015 resolvi realizar meu sonho de compartilhar minhas experiências com os outros e fundei o ICONIC. Atualmente meu coração está 100% em fazer o ICONIC crescer e impactar positivamente a vida do maior número de pessoas possível.

Hoje minha busca tem sido a de melhorar como empresário e pessoa, no meio tempo em que viajo e trabalho por esse mundão maravilhoso! <3 (Escrevo para vocês de Vienna, Áustria)

2 – Você tem um portifólio muito interessante, já trabalhou na produção de séries e curtas de animação para Tv, como Concept Artist, e, também como Ilustrador, conte-nos um pouco sobre essas experiências e se você ainda produz tais trabalhos.

Todas as experiências que tive com programação, escrita, ilustração, direção, animação e design foram essenciais para formar a pessoa que eu sou hoje.

Ao longo da minha jornada tive a oportunidade de colaborar na concepção de uma série para o canal Boomerang, da Cartoon Network, criar meu próprio projeto de série com a Nickelodeon da Inglaterra, fazer a direção de arte de outros projetos de animação e jogos pelo mundo e isso foi muito especial – mas acho difícil a curto prazo eu fazer algo do gênero novamente.

Eu sou uma metamorfose ambulante, como diria Raul Seixas, e até recentemente tive dificuldades de aceitar essa minha pluralidade. Tenho muitos interesses diversos, e sinto que eu sou uma intersecção de todos eles. Em uma era onde se especializar é o Santo Graal, eu posso ser considerado uma quimera.

Depois que fundei o ICONIC passei a produzir bem menos arte, e isso me impactou fortemente de início – não tinha ideia do quanto a empresa afetaria a minha produção artística.

Mas posso dizer com alegria que hoje me realizo profissionalmente e pessoalmente de outras maneiras que jamais imaginaria no passado. Nada é mais recompensador para mim do que receber uma mensagem de agradecimento de alguém que foi tocado por algum texto que escrevi ou impactado positivamente por algum projeto que encabecei.

3 – A Iconic se intitula como Um navio para artistas, apesar de bem-humorada a analogia e proposta, o projeto desenvolve um trabalho muito sério levando proposito a muitos artistas brasileiros, como surgiu a ideia para montar a Iconic? E quais as principais frentes do projeto?

Todos os dias me pergunto: “Onde eu deveria estar colocando minha energia para criar o maior impacto positivo possível?” – e o ICONIC veio como uma resposta a isso.

Apesar de eu amar criar minha própria arte, há um tempo atrás entrei em um processo interno de descobrir que, na realidade, eu sou um construtor de pontes. Isso é o que eu mais gosto de fazer – conectar pessoas.

Foi com essa reflexão que segui minha intuição e busquei as pessoas que mais admirava para compartilhar o melhor delas com os outros – e assim nasceu o primeiro Congresso Online de Animação e Concept Art.

Temos três frentes principais: nossos conteúdos, nossos cursos e nossos eventos.

Nossos conteúdos estão principalmente no YouTube e Facebook. Nossos cursos estão no ICONIC Academy, e novos eventos estão à caminho.

Ainda estamos engatinhando nas três frentes, mas uma coisa que o tempo tem me feito almoçar todos dias é a paciência. Não tenho a expectativa de conquistar meus objetivos para ontem e entendo que criar algo de valor leva muito tempo e dedicação. Com isso em mente, vivo um dia de cada vez, um desafio de cada vez, sem tentar pular os degraus da escada e me espatifar de boca no chão. (Prezo pela minha saúde bucal.)

4 – Qual a principal mudança de mindset você teve de ter para se tornar um empreendedor digital?

Essa é fácil: a mentalidade de negócio.

Sempre fui um artista, e talvez vocês saibam como artistas geralmente amam burocracias, negociações, lidar com dinheiro e qualquer outra coisa que não envolvam estética.

Quando fundei o ICONIC não tinha ideia do que significava ter uma empresa e enfrentei muitos desafios pesados no processo. A transição de artista para empreendedor foi dura, e só fui entender genuinamente o porquê disso depois que conversei com Alain de Botton, um filósofo suíço que admiro demais.

Ele, na condição de filósofo/escritor/documentarista, também abriu sua própria empresa, a School of Life, por isso era a pessoa perfeita para conversar. Quando questionei o por quê de ser tão difícil transitar da vida artística para a empreendedora, ele me respondeu o seguinte:

“Quando você é um artista, você tem controle sobre todas etapas do processo. Você quem escolhe as formas, as cores, o que fica e o que sai do seu trabalho. Quando você tem uma empresa, você precisa abrir mão do controle.”

Assim que ele me disso isso um trovão caiu sobre minha cabeça e as coisas passaram a fazer muito mais sentido.

Como diria Benjamin Zander: o maestro é o único integrante de uma orquestra que não faz som algum. Mas isso é porque sua função não é a de criar harmonias – e sim a de despertar as potencialidades de cada músico para darem o melhor de si. É assim que vejo meu papel com o ICONIC hoje.

“Hoje, como construtor de pontes, sinto que estou bem alinhado com a pessoa que gostaria de ser. Posso afirmar com orgulho que me sinto muito mais confortável e preparado para ter um negócio e ajudar a construir coisas que podem potencialmente melhorar a vida dos outros. 🙂 ”

5 – Em seu livro A Jornada Interna, disponível tanto em PDF quanto em formato de audiobook, (diga-se de passagem, as duas versões são incríveis) você conduz artistas a uma viagem de autoconhecimento. Na sua experiência, quais fatores atrapalham mais esses artistas a alcançar seus sonhos?

Que bom que gostaram do livro, obrigado! Acredito que o que mais impede as pessoas EM GERAL de crescerem são as portas que elas trancam em suas cabeças sem ao menos terem a curiosidade de entender o que há do outro lado.

Em outras palavras: o medo de errar, fracassar ou fazer algo muito ousado.

E não é fácil, mesmo – são inúmeras as cobranças e pressões externas dos familiares, amigos e a sociedade. O temor de se tornar uma peça descartável, incapaz de fazer algo de valor e ter uma vida minimamente confortável é bem real.

Mas felizmente o que não falta na história são exemplos de pessoas que em condições ínfimas conquistaram coisas maravilhosas. Essas pessoas são importantes por um motivo principal: elas provam que se é possível para um ser humano, é possível para os outros também.

É importante reconhecer que nós somos todos capazes de moldar nossa própria realidade – o mundo não é feito por pessoas mais inteligentes que a gente, logo, podemos mudar coisas.

O medo nunca vai deixar de existir dentro da gente. Nossos esforços não deveriam estar em eliminar o medo, e sim extinguir seu poder de influencia sobre nossas decisões. Esse é o grande desafio do controle emocional. Muitas vezes tenho medo de errar, mas nunca medo de estar errado.

Estar com as orelhas sempre abertas para aprender com o mundo te proporciona uma liberdade incrível. Quando você se liberta da identidade de detentor de algumas verdades, tudo que acontece na sua vida passa a ser um palco de aprendizados valiosos.

“Só sei que nada sei” – afirmou o homem mais sábio de todos, Sócrates. Então nada mais justo do que aceitar que vamos escorregar muito no caminho, mas sempre com a intenção de ser melhor.

6 – Cursos como A Saga do Artista livretrabalham com os sonhos e desejos de muitas pessoas e isso é incrível. Mas, para alguns, este é terreno arenoso e muito sensível de se pisar. Você pode nos detalhar mais sobre o seu curso? Como é lidar com a expectativa de tantas cabeças diferentes?

Acredito que a vida compensa os corajosos, por isso negligenciar seu ímpeto de construir algo grande para si mesmo é uma perda tanto para você, que se sente menos completo, quanto para os outros, que se beneficiariam da sua melhor versão.

É por isso que criei a Saga do Artista Livre – para auxiliar artistas a se tornarem uma versão mais autêntica de si mesmos. Os convido a tomarem conta do que chamo de “os outros 50%”, que são as coisas que não envolvem técnica artística, mas são igualmente vitais. (Aspectos emocionais, organização, negociação, conquista de oportunidades, entre outras coisas)

Adoro lidar com expectativas diferentes, porque isso significa que vou ter a oportunidade de aprender mais coisas por muito mais ângulos. Tem sido uma aventura incrível! 🙂

7 Vimos no seu site que há outros cursos em andamento, você pode nos adiantar que cursos seriam esses?

A proposta do ICONIC Academy é que ele seja uma ponte para outros artistas incríveis, por isso estamos coproduzindo cursos com pessoas que admiramos demais e temos certeza que proporcionarão uma experiência de ensino transformadora à nossa comunidade.

Os cursos serão todos voltados à técnica artística – e já posso adiantar que entusiastas de 3D e narrativa visual podem ir se preparando! 🙂

 8 – Recentemente, casos de artistas como Robin Williams, Jim Carrey, Stephen Fry e até Chico Anísio vieram a tona a respeito da depressão que estas pessoas sofrem ou sofriam. Muitos acharam paradoxal artistas/comediantes terem tais disturbios, pois o senso comum atribui ao campo das artes como terreno fértil para alegria, felicidade e criatividade. Na sua experiência como professor, você acha que o labor artístico pode mascarar muitos problemas sérios que as pessoas passam?

Perder o senso de propósito na vida não é exclusividade de nenhuma profissão. Há alguns anos atrás passei por uma fase muito difícil. Comentei sobre essa fase com um professor meu da época, e a resposta que ele deu, levo para a vida:

“Pegue toda essa sua dor e transforme em produção artística.”

A arte pode sim mascarar problemas sérios – assim como qualquer outro subterfúgio humano, como as drogas – mas gosto de pensar que artistas têm o privilégio de utilizar sua produção como instrumento de cura pessoal. O ato de criar arte pode se transformar em uma jornada interna muito intensa, e isso é muito especial.

Claro que isso por si só pode não ser o suficiente – contar com a ajuda de outras pessoas é fundamental. Acho engraçado como em geral as pessoas consideram apropriado ter um professor de dança para aprender a dançar, mas achar problemático ter um professor de emoções para te ajudar a lidar com seus problemas (vulgo psicólogo).

Sinto que muita gente abafa o próprio sofrimento para não incomodar os outros ou por medo de não ser considerado bom o suficiente. Da minha experiência, a jornada soltaria é sempre mais difícil.

Assim como quando você quebra o braço corre para o hospital, acredito que quando você estiver com vontade de explodir deve buscar ajuda profissional.

9 – O ICONIC CAST é um dos podcasts mais divertidos que conheço e sempre há convidados muito talentosos. Qual o principal ativo em compartilhar conhecimento e experiências de outros?

O principal ativo é receber comentários como esse que vocês acabaram de fazer – obrigado, fico feliz que estejam gostando!

Mas além de receber o carinho do público, aprender a ser melhor com pessoas que admiro,  e das mais diversas áreas, é uma experiência sem preço.

10 – Como funciona o congresso online que vocês promovem?

Em cada evento convidamos uma porção de artistas incríveis para compartilhar o melhor deles com o mundo por 1 semana, de maneira online e gratuita. O congresso nasceu como uma tentativa de direcionar a comunidade para um bom caminho, com boas referências e conteúdos transformadores.

(Novidades em breve!)

11 – Para fechar, o que podemos esperar da Iconic em 2018?

Cursos e conteúdos feitos com muita dedicação, carinho e cuidado! <3

 RAPIDINHAS:

LL- PC ou Mac?

Mac

LL- Software favorito?

Photoshop (Não tem como dar outra resposta)

LL- Podcast ou vídeos?

Videos

LL- Trabalhar de dia ou a noite?

Dia

LL- Café ou limonada?

Café

LL – Virtual ou presencial?

Por que não os dois?! 😀

Presencial é preferível, mas se não fosse o virtual não conseguiria trabalhar de longe.

Henrique, mais uma vez, obrigado pelo tempo e respostas tão generosas. Vida longa ao ICONIC! E caso você não conheça esse projeto, caro leitor, sugiro fortemente que o faça: é só clicar aqui!

 

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