Há vários mitos sobre o mercado de motion e animação que circulam por aí, inclusive propagados pelos próprios profissionais da área. Confira neste artigo alguns desses mitos.
Saber desenhar
É necessário saber ilustrar para trabalhar com motion design? A resposta é não. Muitas pessoas que estão começando a ter os primeiros contatos com essa área acham que é obrigatório saber desenhar para trabalhar com motion, mas esse não é o caso. A nossa área não tem conexão direta com a ilustração propriamente dita. A única vertente que exige ilustração é a de animação frame a frame (ou cel animation), que é a animação tradicional desenhada à mão. Ou seja, se não é do seu interesse ser um(a) animador(a) frame a frame, não é necessário saber desenhar. Mas isso não significa que essa seja uma habilidade totalmente descartável nessa área. Caso você saiba ilustrar, isso pode ser um plus, uma carta extra na manga que te ajudará a solucionar alguns problemas que podem surgir no decorrer de alguns projetos.
É necessário, no entanto, saber design para se tornar um motion designer, e não apenas animação, pois você será apenas um(a) animador(a) se estiver trabalhando somente com a parte de animar. O motion designer é o profissional que faz ambos, o design e a animação de uma peça. Mas se você quer atuar nessa área e não quer fazer ambas as coisas, você pode fazer apenas a animação ao pegar o design de outro profissional, assim como pode fazer somente o design e passar para um animador fazer a animação. Há vários profissionais (animadores e designers) que dividem essas funções fazendo apenas uma parte específica de um projeto.
Ter um PC foda
Não é imprescindível ter um super computador para trabalhar com motion, mas, quanto melhor ele for, mais otimizado será o seu tempo. A galera que está dando os pontapés iniciais nessa área acha que não tem chance nenhuma nem de começar a estudar porque têm um notebook ou desktop comuns, sem os hardwares mais potentes do mercado. Isso não é verdade. A melhor máquina é aquela que está a sua disposição. Então, para começar a estudar e para pegar seus primeiros trabalhos basta um computador que consiga executar o(s) software(s) que você vai utilizar. O que acontece é que você vai precisar de um pouco mais de paciência ao lidar com computadores menos poderosos, pois, dependendo do quão pesado é o projeto que você está fazendo, vai demandar mais tempo para concluir alguns processos durante a produção.
O After Effects, por exemplo, possui alguns recursos para otimizar esse tempo que máquinas menos poderosas demandam, como a criação de proxys (uma pré-renderização das composições que você já finalizou a fim de deixar a visualização da composição principal mais leve) e a diminuição da qualidade do preview para você ter um vislumbre de como a animação está ficando de maneira mais rápida, dentre outros recursos. Daí conforme a sua demanda de projetos vai aumentando, é importante você ir atualizando as peças do seu hardware aos poucos, com o intuito de otimizar o seu tempo para conseguir trabalhar da maneira mais rápida possível.
Se você quiser saber mais sobre como o After Effects funciona em relação ao hardware e quais peças você precisa dar mais atenção na hora de montar o seu PC ou dar um upgrade, assista esse vídeo do Dhyan Shanasa: DICAS DE HARDWARE PARA AFTER EFFECTS.
Clientes não são flexíveis / O que o cliente pede é lei
A verdade é bem diferente disso. É muito importante e demonstra profissionalismo saber conversar de igual para igual com seus clientes, saber propor melhores soluções de prazos, defender suas ideias e o custo do projeto. Nós temos o poder de ter mais autoridade que o cliente em certos projetos. Dependendo do jeito que você fala com o cliente, você mostra pra ele o seu domínio sobre o assunto, e pode estar acima dele na questão de tomar decisões. O que deve ser feito não é apenas o que o cliente quer, mas o que é melhor para o projeto. É importante você mostrar que tem interesse suficiente no projeto a ponto de discordar do cliente e falar que é necessário mudar uma coisa ou outra. Falar sim para todos os pedidos do cliente não é se importar com o projeto, e sim trabalhar que nem um robô cumprindo tarefas, o que provavelmente vai fazer com que o projeto fique muito ruim.
Existem clientes, entretanto, que realmente não são flexíveis, e esses são os que você não vai querer ter. Se o cliente não te dá liberdade para opinar e mexer em certas coisas que às vezes são primordiais no processo de animação, então esse cliente está querendo uma coisa que você não vai dar pra ele, que é o que ele quer. De novo, a gente não faz o que o cliente quer, e sim o que é melhor para o projeto. Conversamos e debatemos com o cliente não somente sobre as ideias dele, e sim sobre o que é melhor para o projeto a partir da ideia dele. Às vezes o cliente tem uma ideia muito boa, mas o que ele quer a partir da ideia é muito ruim. E você como profissional especialista tem que falar para ele que o que ele quer não vai funcionar. Na grande maioria dos casos o cliente é flexível, então é importante que você converse com ele e passe confiança com assertividade.
Faz parte virar noites e aceitar a cultura exploratória da indústria
Se você acha que não faz diferença ser contra e tentar ir contra essa realidade da exploração no campo criativo, você não poderia estar mais errado. Na verdade temos o poder suficiente para evitar a exploração. Esse é um assunto que já foi muito discutido aqui no Layer Lemonade, e continuará a ser, pois um dos nossos objetivos é educar a comunidade a melhor se posicionar a esse respeito, e assim aos poucos ir educando o mercado para que ninguém precise mais passar por tal situação.
Confira este artigo fenomenal da Ester Rossoni aqui no blog, Manual de Exploração do Iniciante, em que ela lista de forma “bem humorada” um manual com inúmeras situações de exploração que acontecem todos os dias no nosso mercado de motion e da indústria criativa no geral, muitas delas vivenciadas pela própria Ester. Há também outro artigo que complementa esse, também escrito pela Ester, Exploração no mercado de Motion, o qual ela fala sobre esse assunto de forma mais direta. Além desses dois artigos, há também esta live do Manual do Freelancer, EXPLORAÇÃO NO MOTION DESIGN, dedicada exclusivamente a falar sobre assunto tão importante e indispensável.
Só quem tem muito tempo de motion pode se tornar freelancer
Um freelancer, em teoria, seria o profissional que tem muita experiência na área e que sabe solucionar o problema, seja ele qual for. Porém, essa é a definição que seria ideal para estúdios, produtoras e agências que precisam contratar alguém para exercer uma função em um projeto que ninguém da staff sabe desempenhar, ou simplesmente não é da alçada deles. Hoje em dia, no entanto, está cada vez mais comum que iniciantes comecem no motion já como freelancers, mesmo sem experiência de mercado. O freelancer está deixando de ser aquele cara que resolve tudo e está virando simplesmente o profissional que trabalha pra si mesmo, independente do nível que tem de carreira.
É necessário faculdade para trabalhar com motion design
Não é necessário. Grosso modo, a exigência de um diploma acontece mais nos estúdios gringos. Aqui no Brasil não é pedido diploma e currículo, na grande maioria dos casos. Não é essencial para poder trabalhar no mercado. Um diploma por si não garante que você é bom no que faz. O contratante está interessado no seu portfólio; o que você tem pra mostrar, o que sabe fazer e se você vai dar conta do que é preciso para executar o trabalho. Mas não é por isso que uma faculdade deve ser descartada. Qualquer forma de você agregar conhecimento é válida. Inclusive, o networking é muito bom em uma universidade, pelo fato de você conhecer e estar rodeado por várias pessoas que se interessam nessa área e que provavelmente vão atuar nela.
Confira este artigo da Ester Rossoni aqui do blog para ter mais detalhes sobre esse assunto: Faculdade para Motion: é necessário?
Este artigo é um resumo do que foi abordado na live MITOS E VERDADES NO MOTION, episódio 35 do Manual do Freelancer.
O Manual do Freelancer é uma série de lives apresentadas por Dhyan Shanasa e Ester Rossoni (os Supernova Duo), trazendo dicas para a comunidade e aprofundando na parte mais burocrática da indústria de motion design e animação. As lives do Manual do Freelancer acontecem nas segundas-feiras às 16h, no canal do Layer Lemonade no Youtube. Você pode conferir todos os outros episódios na playlist do Manual do Freelancer. Logo após o término da live, o episódio fica disponível automaticamente no canal.
Assista a live na íntegra (disponível acima, no começo deste artigo) para conferir todo o conteúdo discutido a respeito desse tema. A parte final da live é dedicada a responder perguntas, deixadas pela comunidade no chat ao vivo e também na caixa de perguntas disponibilizada no Instagram do Layer Lemonade e do Supernova Duo. Contamos com a sua presença na próxima live do Manual do Freelancer, na segunda-feira às 16h.