Muitos conhecem o nome de Sander van Dijk por algumas ferramentas muito populares (e úteis), de After Effects como o Ouroboros, Ray Dynamic Color, o recente lançado Ray Dynamic Texture e através do festival BLEND.
Sander é um Motion Designer e comunicador visual holandês, com mais de 10 anos de experiência – a maior parte como freelancer. Nós, do Layer Lemonade, tivemos uma chance de conversar com Sander sobre sua carreira, experiência como freelancer e seus projetos!
Obrigado, Sander por compartilhar seu tempo conosco!
Layer Lamonade – Vamos começar! Conte-nos um pouco sobre como começou com Motion Graphics e onde foi criado. Quais foram suas maiores influências visuais quando jovem e como entrou no VFX?
Sander van Dijk – Minha família sempre foi favorável ao que eu queria fazer e, definitivamente, posso dizer que isso é um componente-chave que me permitiu chegar onde estou. Fui criado em uma pequena cidade chamada Houten, na Holanda. Os filmes The Matrix foram a minha maior inspiração, e me motivaram a explorar o mundo VFX. Comecei a recriar cenas VFX com amigos, e isso foi essencialmente onde comecei. Depois de trabalhar com VFX em alguns filmes holandeses, comecei a criar movie titles, o que me levou para a toca do coelho do Motion Graphics.
LL – Você é freelancer. Onde Trabalha? Em casa ou compartilha um espaço de co-working? Quais são as coisas boas e ruins de ser freelancer?
SvD – Trabalho em qualquer lugar, desde que seja um ambiente bom para o tipo de trabalho que preciso fazer. Tenho um home studio no Brooklyn, NY, e passo metade do meu tempo por lá. Mas quando estou trabalhando para um cliente, sempre prefiro estar na mesma sala com eles, principalmente porque isso me ajuda a entender melhor suas necessidades e oferece mais oportunidades de colaboração. Quando se trata de colaboração, estar no mesmo escritório faz toda a diferença do mundo.
LL – Você nasceu e cresceu na Holanda, mas agora vive e trabalha nos EUA. Como foi sua experiência ao mudar para outro país e você notou alguma diferença na forma como designers trabalham na Holanda e nos EUA?
SvD – Naquela época, alguns dos melhores trabalhos de animação eram feitos fora da Holanda, então eu sabia que se quisesse melhorar, teria que viajar, trabalhar e colaborar fora do meu país. Ao mesmo tempo, estava cansado de minha rotina de escritório e queria ver mais do mundo com meus próprios olhos – ao invés do fluxo distorcido que nos é passado pela internet ou TV. Comecei a economizar e, em seguida, me tornei freelancer. Depois disso, abracei meu laptop e decidi viajar pelo mundo por dois anos. Acabei indo em diferentes cidades da Europa e países como Canadá, EUA, Austrália, Nepal e Egito. Logo depois, uma posição na BUCK abriu-se, o que inevitavelmente me trouxe para Nova York, onde sinto como se o mundo inteiro estivesse condensado em uma cidade.
LL – Em relação à comunidade criativa, como você vê a situação dos imigrantes nos EUA agora com Trump na presidência?
SvD – Estou atento as notícias, mas não deixo isso me assustar. Por agora, consegui obter um visto de trabalho, porque tenho muito a oferecer às empresas nos EUA e, se o seu novo presidente decidir que dessa forma não funciona mais, então teremos de encontrar outras maneiras de colaborar. Felizmente, vivemos em um mundo conectado, e isso nos permite colaborar além das “fronteiras”. Para mim, não existem fronteiras, apenas regiões diferentes com culturas diferentes. Trabalhei com tantos clientes surpreendentes, tanto dentro como fora dos Estados Unidos! Depois de passar pelos processos de Imigração dos Estados Unidos, ainda existem pequenos desafios. Se você quer realmente algo, há sempre um caminho.
LL – Em geral, qual é a sua rotina de trabalho? Você diria que é uma pessoa disciplinada ou bagunçada? Você usa algum aplicativo ou ferramenta para ajudá-lo?
SvD – Definitivamente disciplinado. Dito isto, a vida e o processo criativo podem ser bastante confusos às vezes. Projetei rotinas diferentes, e elas me deram resultados específicos. Então apenas sigo uma seqüência de coisas que uso como gatilho para entrar na “zona”. Exemplo: ouço o mesmo tipo de música quando preciso estar realmente focado no trabalho e, depois de um tempo, a música me ajuda a entrar em “modo de trabalho focado”.
Tentei muitos aplicativos e ferramentas, mas descobri que – a menos que você seja uma grande empresa -, pode ser mais trabalhoso gerenciar e acompanhar seus aplicativos e ferramentas. Então só mantenho os mais simples como o Notes, aplicativo de calendário e planilhas bobas para gerenciar tudo.
LL – Atualmente, quais são suas principais fontes de inspiração? Existe algum “truque” que para manter as idéias frescas, como sempre carregar um bloco de desenho, fazer listas, dar um passeio para ter idéias?
SvD – Não sei se posso chamá-los de “truques”, mas algumas das táticas ou técnicas que uso são as seguintes:
Em primeiro lugar, gosto de criar experiências interessantes na minha vida; isso me inspira.
Em segundo lugar, posso obter idéias perguntando: existe uma maneira melhor de fazer isso? Pense criticamente, em vez de apenas aceitar como é.
Em terceiro lugar, me permito vaguear. Vou ocasionalmente tomar um banho longo, passear de bicicleta, ou deitar por uma hora ouvindo música instrumental, permitindo que meus pensamentos se reorganizem.
Por fim, gosto de me cercar de outras pessoas talentosas. Sempre percebo que, quando estou com outras pessoas criativas, minha mente começa a ferver de idéias.
LL – Você criou algumas ferramentas muito úteis para outros animadores. De onde vem o seu interesse em desenvolver essas ferramentas?
SvD – Ao trabalhar em projetos desafiadores, descubro frequentemente como as coisas podem ser feitas de forma mais eficiente. E sou o tipo de pessoa que gosta de trabalhar de maneira “mais esperta”, não mais difícil; compartilhando em seguida o que sei para que possa beneficiar os outros. A partir disso, ferramentas como Ouroboros, Ray Dynamic Color, e a mais recente Ray Dynamic Texture, surgem. Levei muito tempo para construí-las, mas, em última instância, meu fluxo de trabalho geral – e espero que o fluxo de trabalho de todos – torna-se mais eficiente.
LL – Você acha importante que Designers/Motion Designers, saibam programação?
SvD – Acho que é muito importante entender um nível básico de programação/javascript. Quando você está usando um software, já está codificando, mas está usando botões que representam partes do código. Tente aprender algo de codificação em seu próximo projeto, se tiver tempo extra. Mantenha-o simples, e pergunte a si mesmo: “Como poderia construir isso de forma mais dinâmica, para que possa altera-lo sem um monte de trabalho manual?”. Agora você tem um propósito para descobrir algo, e que vai força-lo a encontrar uma resposta.
LL – Você está desenvolvendo um projeto novo e muito promissor, onde propõe novos recursos para tornar o After Effects mais eficiente para animadores. É também um projeto colaborativo e até mesmo a Adobe mostrou interesse. Conte-nos mais sobre isso! O que você espera obter com este projeto? Como nossa comunidade pode ajudá-lo a se tornar uma realidade?
SvD – A Animação está em constante evolução, com novas técnicas e formas; e nossas ferramentas devem evoluir do mesmo modo. Ambos os lados precisam um do outro para criar projetos de alto nível. No entanto, o After Effects é a principal ferramenta para animadores atualmente, e tem ficado para trás na inovação em áreas como Motion Design e Animação Interativa.
No artigo, explico como mudanças sutis no After Effects podem adicionar funcionalidades para acompanhar os desafios da animação de hoje, sem que se perca suas funcionalidades pré-existentes. Alguns recursos propostos tornarão o programa mais fácil para iniciantes, e a reação inicial da Adobe foi de excitação; mas não vi nada implementado, o que é monumentalmente frustrante, porque acho que a maioria dos Motion Designers querem ver um monte de mudanças. Compreensivelmente, criar softwares de animação leva tempo, mas sinto que as prioridades da Adobe estão em outro lugar no momento. Como a comunidade poderia ajudar? Envie uma mensagem para a Adobe, mande um tweet dizendo que você deseja ver esses recursos nas próximas versões do After Effects.
Sinto como se houvesse um movimento – não só da Adobe -, mas também de empresas como a Apple, em deixar para trás sua base de usuários pró. Eles estão se voltando para outras pessoas, que querem apenas executar tarefas simples, e isso deixa os profissionais para trás – e acho que muita inovação é perdida dessa forma. As ferramentas simples que temos hoje, muitas vezes se originaram da exploração de usuários mais avançados na tentativa de criar algo novo.
LL – O Motion Graphics é um campo recente, e não há muitas escolas preparadas para nos ensinar. Você lecionou um semestre no Mograph Mentor, uma incrível escola online de motion graphics, onde os alunos são orientados por um profissionais mais experientes. O que pode nos dizer sobre esta escola? Quão importante você acha que é ter aulas e estudar com um mentor?
SvD – Acho que escolas como Mograph Mentor são incrivelmente valiosas, porque é difícil aprender esse ofício em qualquer outro lugar – a não ser viajando muito, encontrando mentores e adquirindo experiência. Se você é atualmente um artista de Motion Design, então está anos-luz à frente de qualquer área, quando se trata de comunicação visual. Mais e mais pessoas estão consumindo conteúdo “visual”, e quase todo mundo que converso admitem que são “alunos visuais”.
A realidade é, todos nós somos criaturas visuais; e motion graphics é um atalho para comunicar de forma mais eficaz. Com isso, também é psicologicamente atraente, e gostaria de ver mais líderes no campo, mais mentores e mais escolas, também começarem a falar sobre a ética da comunicação. Tudo que fazemos pode ser tão persuasivo, e precisamos estar atentos para ver se este é o tipo de informação onde queremos usar nossos talentos.
Estou interessado nisso, então também lancei um canal do YouTube, onde quero compartilhar minha abordagem de projeto, fluxo de trabalho e valores pessoais quando se trata do meu trabalho.
“Se você é Motion Designer, então está anos-luz à frente de qualquer área, quando se trata de comunicação visual.”
Sander van Dijk
LL – Estar online também significa estar disponível para todos no mundo. Como tem sido seu caminho ensinando diferentes designers, em diferentes níveis de experiência, de diferentes culturas?
SvD – Em geral, tem sido uma experiência positiva, mas deixe-me ser claro que nada se compara a aprender e colaborar na vida real. Saiam da web!
LL – Você também está envolvido com o festival BLEND. Como começou e se envolveu com isso? Você experimentou algo que você não estava esperando por causa do festival?
SvD – O BLEND surgiu de um desejo distinto de estar no mesmo lugar que outros artistas, que é o que mencionei acima. Todos nós vivemos em lugares diferentes, mas temos essa linguagem incrível em comum – e não há nada melhor do que ser capaz de se conectar no mesmo lugar.
No BLEND criamos um ambiente muito inspirador, e convidamos alguns dos melhores artistas a virem para dois dias. Isso cria uma experiência amplificada, única e surpreendente. Algo que você não consegue alcançar on-line… Imagine uma chamada de Skype com um grupo de 400 pessoas? Não funcionaria. Para se ter a energia de todos na mesma sala, é necessário algo mais.
LL – Sendo parte de Mograph Mentor, BLEND e desenvolvendo novos recursos e ferramentas para todos os animadores, acho que poderíamos dizer que você faz parte de uma cultura colaborativa que está muito presente na indústria de Motion Design. Por que você acha que esse espírito colaborativo está tão presente em nosso campo, e como você vê isso no futuro?
SvD – Acredito que muitas pessoas nesta indústria descobriram que, com a verdadeira colaboração, nos tornamos muito mais do que se estivéssemos sozinhos. Vejo um futuro em que somos capazes de colaborar cada vez mais, e construir um mundo sustentável onde todos possam viver um alto padrão de vida e fazer o que amam. Não só on-line, mas também off-line, na vida real. Isso pode ser contrário ao que vemos na TV, marketing e política. Eles se concentram em manter um mundo escasso e dividir a humanidade.
Eu me concentro no que nos une, coisas que criam abundância e capacitam as pessoas com a informação que precisam para atingir seus objetivos de vida. É assim que todos crescemos. Eu certamente não cheguei onde estou por conta própria. É através da partilha e da ajuda dos outros que ganhamos tudo o que precisamos na vida.
A mídia hoje em dia é altamente tóxica, especialmente para uma mente criativa e colaborativa. Pode atrapalhar e distrair, e nos fazer acreditar que estamos separados um do outro. Mas juntos podemos construir coisas incríveis, e essa cultura colaborativa e meu trabalho são uma pequena prova disso.
RAPIDINHAS
LL – Mac or PC?
SvD – Mac, mas em breve Pc…
LL – Papel e lápis ou Stylus?
SvD – Papel e lápis, mas uso mesmo Stylus, pois não consigo escrever à mão mais, faz muito tempo…
LL – Headphones ou caixas de som?
SvD – Headphones para entrar na “zona”, caixas de som pra sair dela.
LL – Trabalhar de manhã, tarde ou noite?
SvD – É sempre de manhã em algum lugar da Terra.
LL – Cerveja ou Limonada?
SvD – Limonada! Mas quando preciso estar no meu melhor, bebo água. Cerveja e limonada têm aproximadamente a mesma quantidade de açúcar, e pode me colocar para dormir rápido!
LL – Estamos imensamente felizes por ter o Sander van Dijk no Layer Lemonade! Venha em pessoa algum dia, você é sempre bem-vindo no Brasil! Obrigado!
SvD – Adoraria visitar o Brasil um dia! Tantos trabalhos bons e coloridos vêm de lá! Deve significar que há um ambiente colorido.